O humorista José Simão, em suas sátiras diárias pelo Rádio no programa do âncora Ricardo Boechat, insinuou de forma jocosa que o Papa Francisco ao canonizar 30 Santos brasileiros, teria esquecido do Lula! Apesar do tom humorístico e sarcástico, a insinuação não deixa de conter uma verdade, visto que o nosso ex-presidente vem conseguindo o milagre de se manter em notória campanha eleitoral, mesmo condenado em um processo e responder a tantos outros...! Outro detalhe importante: nas pesquisas detém o maior índice de REJEIÇÃO (50% da População!) e, ainda assim, é o PRIMEIRO na corrida presidencial para 2018 (30%), o que, também, não deixa de ser um notável milagre! Talvez, nem tanto, porque na verdade o que temos é uma escassez de nomes dignos, ou a nulidade dos nomes existentes que é muito grande!
Para o sossego dos amigos petistas, destaco, porém, que o ponto central do tema desta semana não é o Lula, nem “i santi brasiliani” do Papa, mas gostaria de lembrar de um baiano que bem poderia ser chamado de profeta (vejam, na sequência, as citações de SÃO RUY BARBOSA), visto que no Senado, 103 anos atrás, já profetizava a tragédia que hoje vivemos:
"A falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação”.
Mesmo com essa relevante lição deixada à posteridade, os parlamentares dos nossos dias não são competentes para assimilá-la, de modo a legislar sempre em função de princípios de justiça e honestidade, nunca em função da barganha e das negociatas que somente tornam os seus votos indignos e vergonhosos. Às vésperas do julgamento do segundo processo contra o Presidente da República, quase UM BILHÃO DE REAIS já tinha sido liberado de Emendas Parlamentares aos deputados em troca da garantia do voto! A vitória alcançada pela segunda vez na CCJ e no Plenário da Câmara, sugere a triste convicção de que o dinheiro tudo pode nesse sistema vigente. Comportamento asqueroso é a única definição condizente para ambos os Poderes:
“A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão [...] promove a desonestidade, promove a venalidade; [...] promove a baixeza, sob todas as suas formas”.
A prática de aviltantes atitudes no exercício do cargo somente tem deslustrado o Poder Legislativo, cujo mal exemplo conduz os nossos jovens e a sociedade em geral à assimilação de um caráter torpe, desonrado e marginal. Muito se fala da necessidade de reformas gerais urgentes, mas não se admite que tenha esse Congresso Nacional qualquer credibilidade para realizá-las, uma vez que o ruído dos interesses corporativos, movidos pelas verbas e cargos públicos tem sido o idioma que fala mais alto nas relações institucionais. Ficaria muito feliz se alguém me provasse que estou enganado por essas colocações.
Sempre que se deseja um alento para tanto vexame, é costume se dizer que as práticas de corrupção vêm desde o Império, prenúncio sintomático de acomodação. No entanto, em resumo, vejam ao final do discurso o que disse o Senador Ruy Barbosa:
“No outro regime (na Monarquia), o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre, as carreiras políticas lhe estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam”.
Inversamente, na República atual, os envolvidos em sujos episódios de corrupção de toda a espécie parecem usar um eficiente produto ante nódoa, e assim conseguem posar de vítimas e perseguidos mártires, não tendo as carreiras políticas jamais interrompidas! E aqui vale frisar bem, que na condição de eleitores temos um “mea-culpa” nisso.
Nada de exacerbado puritanismo político ou moral, mas temos a OBRIGAÇÃO COMO CIDADÃOS de não eleger ou reeleger NENHUM político envolvido em investigação por crimes, condenados ou não. Precisamos dar um basta a essa VERGONHA DE SER HONESTO, antecipada a mais de um século pelo grande Ruy Barbosa!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
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