O vereador Gilmar Santos, do PT de Petrolina, encaminhou nota ao Blog Geraldo José respondendo matéria publicada neste veículo, com repercussão de pronunciamento feito pelo Vereador Ronaldo Cancão no legislativo petrolinense, em que acusou o vereador petista de "gostar de macumba", quando da discussão do projeto que trata do novo Código Tributário e parcelamento das dívidas do IGEPREV.
Confira a nota:
"SOBRE POLÍTICOS FALSO-MORALISTAS, MACUMBA E LGBTs: uma resposta ao vereador Ronaldo Cancão.
Alguns vereadores da Casa Plínio Amorim, ditos “cristãos”, usam suas crenças religiosas e a própria Bíblia para transmitirem à população a imagem de que defendem a justiça, o amor, a solidariedade, uma sociedade mais pacífica.
Porém, são os mesmos políticos que votam em projetos que prejudicam o povo. É o caso desses enviados pelo governo Miguel Coelho, que foram votados na sessão especial do dia 02, aumentando impostos para os petrolinenses, sem qualquer consulta ou participação da sociedade; ou o projeto que gera inseguranças quanto ao futuro previdenciário servidores municipais.
São vereadores que, com raras exceções, não têm autonomia para cumprir suas funções enquanto fiscalizadores do poder público municipal. Chega a ser até compreensível, já que a maior parte deles utiliza a administração pública para empregar amigos, cabos-eleitorais ou familiares. Esse é o caso do vereador Ronaldo Souza (Cancão).
É parte desses vereadores, defensores dos princípios bíblicos, que não respeita a transparência com o dinheiro público, a democracia e os direitos humanos. Alguns chegam a atacar direitos da população LGBT e as liberdades religiosas, satanizando, constantemente, as religiões de matrizes afro-ameríndias.
Ou seja, os ditos “cristãos”, que deveriam expressar amor e respeito a todas as pessoas, sem preconceito ou discriminação de cor, orientação sexual, crença, origens ou identidades, são os primeiros a violarem com suas palavras ou atitudes, direitos conquistados há décadas por diversas sociedades, sendo o Brasil signatário de variados acordos internacionais.
Tenho formação cristã-católica, e profundo respeito aos ensinamentos bíblicos. Dentre os quais, aprendi através do próprio Jesus a me relacionar com todas as pessoas sem me colocar em posição superior ou inferiorizá-las. Apesar de não ser membro de nenhuma comunidade de religião afro-ameríndia, defendo, sim, o direito dos povos de terreiros, dos candomblés, da umbanda, de poderem viver e professarem a sua fé, dentro de uma sociedade que garanta respeito e tolerância a esses irmãos/ãs.
Por tanto, se o vereador Ronaldo Souza usou no seu discurso a palavra macumba para desqualificar, inferiorizar ou criminalizar os povos de terreiros, só posso lamentar atitude tão injusta e abominável. Devo lembrá-lo que o número de cristãos, católicos e protestantes que cometeram e cometem crimes e injustiças, inclusive contra o patrimônio público, ao longo da história, é infinitamente maior que os fiéis das comunidades de matrizes religiosas afro-ameríndias.
O vereador Ronaldo Souza tem tratado, nos seus discursos, a homossexualidade como algo a ser “respeitado”, porém jamais aceitável. Algo que, na opinião dele, destoa dos princípios bíblicos, dos valores da família tradicional brasileira. Lembro ao palavroso edil que, apesar de ter orientação sexual diferente, seria muito perverso da minha parte impor uma heteronormatividade e discriminar, diminuir, demonizar quem tem desejos e projetos de vida diversos. Se o senhor utilizou no seu discurso a expressão LGBT com essas intenções, devo mais uma vez lamentar tão indigna atitude.
A população LGBT é formada por seres humanos, filhos/as, pais/mães, extremamente perseguidos, constrangidos e até assassinados, cotidianamente. Muitos são, também, cristãos, sabia vereador? É maldade das grandes querer retirar do próprio Deus o poder da acolhida e do cuidado para com todos/as os seus filhos/as.
Ao contrário do que imagina, ao longo da história, não foi a população LGBT quem mais cometeu crimes contra a vida. Muito pelo contrário, foram os héteros, os “muito machos”, “muito homem”, “cabras da peste”. Esses, sim, são alimentadores da intolerância, do ódio, da covardia. Em favor da vida, dos LGBTs, estaremos sempre dispostos a denunciar essa doença chamada machismo.
No mais, espero que cada político que foi eleito para defender e respeitar a constituição brasileira, cumpra bem o seu papel de representante do interesse público e evite defender apenas os seus interesses particulares, ou da sua igreja."
Gilmar Santos - Professor e Vereador (PT) em Petrolina-PE
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