A crise política brasileira já se transforma num mal irremediável, como numa montanha russa de grandes decepções temos assistido a derrocada de todos os princípios éticos na política, que em sua gênese deveria proteger os interesses da comunidade, mas transmutou-se num grande engodo, um farto instrumento da injustiça, da concentração de renda e da permanência no poder. Se antes chamava-se de teoria da conspiração o fato obscuro de que grandes empresários manipulavam o poder no mundo, hoje ninguém mais se surpreende com os noticiários, chega a ser doloroso lembrar da copa do mundo ou das olimpíadas, ou ainda da transposição do São Francisco, onde todas as construtoras das obras e estádios estavam literalmente se banhando de dinheiro público, mas como chegamos a este ponto?
“A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira (11) quatro pessoas, suspeitas de desviar R$ 200 milhões da construção dos canais que devem levar água do Rio São Francisco para o sertão do Nordeste. Cento e cinquenta policiais federais participam da operação, que acontece em oito estados e no Distrito Federal. São 32 mandados judiciais: 24 de busca e apreensão, quatro de condução coercitiva, e quatro de prisão.”
(G1, Globo, 11/12/2015)
As alianças partidárias
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá o prêmio de Estadista Global do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), no dia 29. Esta é a primeira edição da homenagem, criada para marcar o aniversário de 40 anos do Fórum.”(Estadão, 20/01/2010)
O presidente Lula, considerado um dos maiores estadistas do mundo, em suas duas gestões conseguiu alavancar o país e deixar o cargo com aprovação recorde do eleitorado, em contra partida seus opositores não estavam nada satisfeitos, perder duas campanhas seguidas não é um osso fácil de digerir, por conseguinte a pressão aumentou, e se tornou impossível ganhar a eleição sem o apoio do maior partido do Brasil em número de filiados, o PMDB, há quem diga que começou aí a derrocada do governo do PT.
“Presidente da Câmara dos Deputados e presidente nacional do PMDB, o deputado Michel Temer (SP) foi urgido, neste sábado, 12, como indicado do partido para ser candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Dilma Rousseff, do PT. Dos 473 convencionais (que tiveram direito a 660 votos), 84,8% votaram em Temer” (Estadão, 12/06/2010)
O Impeachment da presidente Dilma, expôs em rede nacional o funcionamento inescrupuloso da câmara de deputados, onde todo o povo brasileiro pode assistir a um verdadeiro desfile de arrogância, medo e ódio, uma vez que boa parte dos que votaram a favor estavam e ainda estão nas mãos sujas do famigerado Eduardo cunha. O povo brasileiro pode ver do seu sofá a Deputada Raquel Diniz votar sim pela cassação do mandato de Dilma Roussef e ver seu marido, o prefeito de Montes Claros (MG), sendo preso por corrupção no dia seguinte. (O PSD foi um dos partidos que apoiaram a eleição de Dilma em 2014)
“O voto da deputada foi um dos mais caricatos da noite — ela chegou a pular várias vezes enquanto gritava ‘sim’ pelo impeachment e era saudada pelos colegas de parlamento.” (Pragmatismo político, 12/04/2016)
Não é preciso ser um gênio em ciência política para perceber que as alianças partidárias beneficiam somente os políticos, em detrimento do povo, apoiando Dilma, o PSD conseguiu ajuda para eleger seus deputados, para logo em seguida votar pela cassação.
“Em convenção nacional realizada em Brasília, o PSD aprovou nesta terça-feira (25) apoiar a candidatura da presidente Dilma Roussef à reeleição. É a primeira vez que o partido, criado em outubro de 2011 pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, participa de eleição presidencial.” (G1, Globo, 25/06/2014)
O saldo da crise política prolongada pelo impeachment é completamente negativo, 14 milhões de desempregados, um presidente ingerente com 94% de reprovação, o desmonte simétrico dos direitos trabalhistas e um verdadeiro balcão de compra e venda de apoio no congresso nacional, tudo pelo poder.
A permanência no poder ou resquícios da ditadura
“Vídeos gravados nesta semana em Kiev, Ucrânia, mostram uma multidão raivosa jogando um político do parlamento do país no lixo. Vitaly Zhuravsky é um antigo membro do partido do ex-presidente Viktor Yanukovich, deposto em fevereiro após uma série de violentos protestos.”(Exame, 17/09/2014)
Não são raros no Brasil, os casos onde uma determinada família ou grupo se apropria do eleitorado de uma região, na Bahia, até hoje podemos ver o Neto de ACM tentando expandir seu território, em Pernambuco os Coelhos e no Maranhão os Sarney, de fato cada estado tem sua referência. Existe hoje no Brasil um modelo de governar baseado na barganha, os governadores entregam obras em troca do apoio dos prefeitos, que por sua vez barganham o apoio dos vereadores através de cargos e estes por último, distribuem os cargos entre os cidadãos comuns(a maior parte da própria família), quanto mais cargos maior a base de votos e a chance de se reeleger ou ainda eleger um sucessor, este lapso na democracia faz com que aqueles que já estão no poder permaneçam lá, dificultando a entrada de novas pessoas, o desenvolvimento de novas ideias e, principalmente a evolução da política e da forma de governar, se 90% de uma câmara de vereadores apoia o executivo, os outros 10% não conseguem aprovar nenhuma lei, a menos que seja do interesse do executivo, neste cenário não há espaço para renovação, é o poder simplesmente pelo poder, financiado pelo esforço e suor mútuo da sociedade, e o resultado é esse que todos podemos ver e sentir na pele, um país em pedaços. O brasileiro pobre, precisa adquirir essa consciência de que se continuar votando nos mesmos grupos, alimentando projetos de poder de homens poderosos, ele nunca sairá do abismo, abismo em que todos nos encontramos nesse Brasil descamisado e explorado pelas grandes corporações que financiam os maus políticos e suas zonas de conforto.
João Gilberto Guimarães Sobrinho, é escritor, poeta e gosta de pensar por si mesmo, afinal quem vai pela cabeça dos outros é piolho.
© Copyright RedeGN. 2009 - 2024. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.