Na última quarta-feira (10), o auditório da Codevasf, em Juazeiro, sediou mais um seminário sobre a gestão da água para produção agropecuária no Vale do Salitre. O foco das discussões foi o uso da água do Rio São Francisco que percorre 22 km no leito do Rio Salitre através das Adutoras I e II e que beneficia hoje 320 produtores/as que investem principalmente no cultivo de manga, cebola, melão, banana e goiaba, dentre outros produtos.
O seminário foi organizado pela Associação Águas do Salitrinho, entidade responsável pelo gerenciamento da água das adutoras e contou com a participação de agricultores e agricultoras, lideranças comunitárias, representantes do poder público municipal, da Codevasf, de Programas de Crédito do Banco do Nordeste e Banco do Brasil, Sebrae, além de órgãos como Inema, Coelba e Polícia Militar da Bahia. Outras instituições, a exemplo do Ministério Público, eram esperadas no evento, mas não compareceram. Para Roberval Amorim, presidente da Águas do Salitrinho, apesar de algumas autoridades ligadas à justiça não terem comparecido para contribuir com a busca de soluções para os desafios enfrentados hoje no Vale do Salitre, a avaliação do evento é positiva, uma vez que "alguns órgãos que tem poder de barrar algumas atitudes estiveram presentes".
Dentre os principais desafios apresentados estão a baixa eficiência no uso da água; a inadimplência de 54% dos/das agricultores/as; o uso irregular e ilegal da energia fornecida pela Coelba; as más condições das estradas; a regularização fundiária; a falta de assessoria técnica contínua e o financiamento. Há quase dois anos a Associação busca encaminhar decisões que venham a sanar pelo menos o principal problema hoje que é a ausência de medidas que garantam um limite de uso da água por produtor/a e o pagamento em dia pela água utilizada.
O Capitão da PM, José Alencar, disse que nenhum agricultor/a pode ser preso devido a inadimplência, mas que por meio de Ação Judicial via Associação a Polícia pode recolher bens dos inadimplentes e a Associação pode vendê-los para arcar com despesas geradas pela ausência do pagamento pelo uso da água. Dentre os bens que podem ser retirados do/da agricultor/a pela Polícia estão equipamentos como bombas, motores e até itens como aparelhos domésticos ou animais, entre outros.
Hoje uma das propostas apontadas para melhor lidar com o problema é a instalação de hidrômetros e o estabelecimento de um limite de metros cúbicos de água que cada agricultor/a cadastrado na Associação pode acessar. Acerca de soluções desejáveis já existe um estudo de viabilidade realizado pela Empresa GeoHidro no sentido de apontar a eficiência do acesso a água direto nas propriedades desde a comunidade de Passagem do Sargento até à Foz, porém, de acordo com o Superintendente da Codevasf, Misael Neto, "o elevado custo deste projeto não nos permite sonhar com isso a curto prazo". Misael destacou os limites financeiros e declarou: "talvez não sejam as respostas que vocês queriam".
Potencial Econômico de Juazeiro
Grande fornecedor de produtos para o Mercado do Produtor de Juazeiro, o chamado Projeto Salitrinho hoje compreende uma área irrigada de 394,4 hectares, situada nas duas margens do Rio Salitre. Para a Codevasf, pelo volume atual de produção, esta área já pode ser considerada Perímetro, embora ainda não haja investimentos em estruturas comuns aos perímetros gerenciados pelo órgão na região.
A ânsia dos/das agricultores/as por soluções duradouras para a gestão da água no Salitre já se estende por cerca de 40 anos, inclusive com histórico de assassinatos, derrubadas de fiações e postes de energia elétrica devido a disputa pela água, além de registro de perda de plantios e outros grandes prejuízos para os/as pequenos/as produtores/as. Durante o seminário, a insatisfação dos/das ribeirinhos e ribeirinhas do Salitre era com a negligência de alguns órgãos e a morosidade de outros em apresentar medidas definitivas para garantir o acesso e a gestão adequada da água naquela região, sem deixar de considerar a necessidade da participação social nisso.
O Vale é referência quando se trata da qualidade de seus solos e, consequentemente, da sua produção, porém os governos tem apostado em políticas paliativas, as quais não garantem a sustentabilidade da vasta produção agrícola do Salitre. A presidenta da UAVS - União das Associações do Vale do Salitre, Mineia Clara, que também é vice presidenta do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre, cobrou medidas eficazes já que não se trata mais apenas de apelar para a consciência dos usuários da água, mas que hoje se faz necessária uma ação articulada entre os órgãos competentes e com a participação popular.
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