(PUBLICADO EM 22 DE DEZEMBRO DE 2013)
As emoções dos brasileiros nas duas últimas décadas foram impregnadas por uma impressionante carga de otimismo em razão de fatos positivos que aconteceram, tanto no âmbito interno como no externo, o que é explícito reconhecer. De uma nação por muitos anos acomodada no seu papel de líder do grupo de países do Terceiro Mundo, potencialmente rica, mas inerte nas suas ambições, de repente o seu povo foi contagiado por uma carga de ufanismo ao vê-lo ascender à honrosa classificação no grupo dos Países Emergentes. O novo conceito de país emergente contagiou cada cidadão com a fé e a confiança de que um novo rumo estava sendo traçado, redesenhando novos caminhos para o futuro. O despertar de uma nova credibilidade institucional atraiu os investidores internacionais com os seus capitais. A atividade econômica se fortaleceu, a moeda se valorizou e ganhou por algum tempo a paridade com o dólar americano. A brasilidade adquiriu um novo perfil. Nascia um novo espírito de cidadania...
Mas há um ditado popular que diz: “Quando a esmola é demais, o santo desconfia”. E eis que, lamentavelmente, o castelo dos sonhos começou a desmoronar. Em contrapartida a esse momento histórico, eis que surge no horizonte um buraco negro do qual emergiram personagens indesejáveis, portadores de uma dupla face de caráter. Por algum tempo heróis e em outro momento da história réus destruidores de um sonho. Os interesses do Estado passaram a um plano secundário e as ambições pessoais e corporativas ocuparam o espaço principal. Iniciou-se o desmoronamento do castelo e um acentuado processo de aniquilamento de valores e princípios básicos originados de um modelo de educação doméstica construído com suor e sangue por uma geração de pais que hoje ainda está viva, ou por outras que já estão em outro plano e que de lá se envergonham com o que assistem.
A frase usada no comentário à última crônica, enviado ao Blog por uma leitora, expressa a reação quase de pânico que começa a influenciar o estado emocional das pessoas: “Alguém está conseguindo ver a luz no fim do túnel? Mostre-me, por favor!". Estaríamos chegando ao ápice do desespero e da descrença? Sabemos que a desonestidade e os comportamentos indignos sempre existiram, mas a bandidagem evoluiu e se aperfeiçoou de tal forma que os noticiários que se ouve pela manhã, ao meio-dia e à noite parecem meras repetições ou replays visto que viraram lugar comum se ouvir termos ou frases como propinoduto, laranjas, mensalão do PT, mensalão mineiro, cartel dos trens do PSDB e DEM (em S. Paulo), licitação fraudulenta, desvios de conduta, corrupção, caixa dois, impunidade, violência, etc., e daí por diante.
Somente um retorno aos tempos do Brasil Colônia para se encontrar algum subsidio que ofereça elementos para a compreensão de certos acontecimentos do Brasil República atual. Senão, vejamos: a punição dada pela Monarquia portuguesa àqueles que cometiam crimes de alguma natureza, era o DEGREDO para o Brasil, depois estabelecido formalmente como pena criminal e aplicada em escala pelos tribunais civis de Portugal e pela Inquisição. A prática era tão nociva ao Brasil, “que Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, escreveu pelo menos quatro cartas ao rei reclamando da vinda dos degredados, “que nenhum fruto nem bem fazem na terra", revelando essa contradição."[...] o que Deus nem a natureza remediaram como eu posso remediar, Senhor, senão com cada dia os mandar enforcar! ”. (FILHO, Luís Francisco Carvalho, Impunidade no Brasil – Colônia e Império).
Dito isso, fica evidente que a própria história se encarrega de nos oferecer caminhos ao entendimento do porque tudo isso acontece nos dias de hoje, com todo respeito aos nossos simpáticos irmãos portugueses. Com uma herança dessa natureza, marcada pelos desvios de conduta e uma formação inspirada na criminalidade, ser honesto e ter integridade causam espanto e passam a ser uma exceção à regra!
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