“O que mais me preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons”. Rev. Martin Luther King Jr.
Vivemos num mundo de tantas turbulências e tragédias, de tantas angústias e sofrimentos, que às vezes a tristeza e a alegria, o sorriso e a lágrima parecem conviver em momentos de verdadeira simbiose. É preciso ter a percepção exata do sentido de cada instante, com suas intensidades e surpresas, de modo a oferecer à vida a possibilidade de melhor harmonia física e espiritual, com energia necessária à superação de todas essas adversidades que compõem a trajetória de cada um.
Vivemos tão atormentados com as pressões psicológicas que nos são impostas diariamente, tanto na batalha pela vida, como pelo tormento dos noticiários diários plenos da falta de caráter de tantos políticos corruptos tentando forjar respostas, como se o submundo pudesse responder a tanta perplexidade. É doloroso ver o Senado da República como protagonista de episódios típicos dos folhetins policiais, justamente aquele que em última instância legislativa representaria a dignidade, com o poder de aprovar ou recusar projetos, alguns deles definindo os princípios de moralidade que a população tem que obedecer. O adultério encontrou na presidência do Senado a sua glorificação maior na gestão do Sr. Renan Calheiros, que tirou uma de “pai herói” quando exibiu uma suposta hombridade alagoana ao confessar em sessão solene, com a sua esposa envergonhada a contemplá-lo, que tivera uma filha numa aventura extraconjugal.
A sua permanência no cargo se tornou um acinte à moralidade, uma indecência e um terrível mau exemplo para toda a sociedade, além de ter afetado os pilares de uma instituição sempre considerada composta pela nata dos políticos da nação. Veio o Sarney e empregou no Senado até o namorado da neta, além de ter se eternizado nesse cargo!
Mas o meu desejo inicial não era escrever sobre a violência, as tragédias ou fazer desabafos sobre a indignidade ou infidelidade de um senador. Há um propósito mais nobre para ocupar o espaço desta coluna, com um tema que possa conduzir todos a uma reflexão lógica e contundente de que nem tudo está perdido. Que ainda é possível acreditar em boas ações.
Como cronista do cotidiano esse fato que passo a relatar não poderia ganhar o esquecimento, pela grandeza da lição de vida que representa, não só para os jovens, mas também para os adultos em geral. Eis o fato.
Numa das visitas a Juazeiro, em companhia do meu amigo ex-prefeito Zé Papagaio, de Uauá (in memorian), estávamos em frente a um Banco quando ouvi um garoto próximo, chamando-me com leve “psiu!”. No primeiro instante, distraído, não dei muita importância ao chamado. Logo ele se aproximou, evidenciando ser um engraxate pela calça suja de tinta. Apresentou-me um álbum de fotos suas em que aparecia trajado de terno completo, quando trabalhara como engraxate durante a FENAGRI em Juazeiro. Pediu uma contribuição para que pudesse imprimir cartões para distribuir aos seus clientes. Achei a ideia fantástica e mais ainda quando vi que possuía um celular para contatos. Disse-lhe que iria sair para o almoço e logo após testaria a sua eficiência, chamando-o pelo celular. Nesse momento, o nosso motorista disse: “Qual é, seu Agenor, esse menino vai atender telefone, coisa nenhuma! ”
Retornei do almoço e logo o chamei no celular. De pronto, respondeu-me: “Estou chegando, patrão”. Cinco minutos depois estava engraxando os meus sapatos. Notei que a sua camisa continha uma frase: “SIM – Siga as Instruções do Marketing”. Indagado, explicou-me que fizera um curso de marketing para aprender a vender melhor e com mais eficiência os seus serviços! Que exemplo de profissionalismo! Enquanto lustrava os sapatos, mantinha comigo um diálogo de alto nível, perguntando-me sobre a minha vida e o que fazia, falando-me também da sua vida e que pretendia estudar para ser um grande homem, trabalhando para ajudar a sua mãe que possuía oito filhos. Que lição de vida!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
Nota do Autor: Esse Pequeno Príncipe, simpático herói anônimo no Reino da Corrupção, chama-se Itamar, tinha 13 anos de idade quando o conheci (hoje com 21), morador do bairro Aliança, em Juazeiro (BA). Acredito que continue como um exemplo de caráter. Vale a pena conhecê-lo. Gostaria de reencontrá-lo.
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