Da margem pra dentro, uma breve reflexão.
A cultura de um povo é antes de tudo a sua maior referência, o reflexo de sua identidade, e em juazeiro não é diferente, são muitas identidades. Se considerarmos o fator histórico e geográfico não é difícil entender que Juazeiro é estrategicamente um polo difusor no norte da Bahia, berço de grandes talentos artísticos, esta cidade emana uma aura mística, uma espécie de ideia rústica, alimentada principalmente pela capacidade criativa e a intuitiva força de vontade dos artistas que aqui habitam, e que, via de regra precisam migrar para outros centros, para que possam enfim, aqui, serem reconhecidos.
È crível, que se o astro mor do panteão juazeirense, o ilustre João Gilberto tivesse ficado por aqui, hoje o mundo não saberia o que é a bossa nova, mas Juazeiro vai muito além da música de João, de Edésio, caminha por entre as fotografias fantásticas de Euvaldo Macedo Filho, e se projeta nas lendas contadas por Dona Bebela enquanto se ri da ingenuidade do traço do mestre Parlim, Juazeiro se disfarça nas colagens, nas montagens, nas sete cabeças brilhantes de um dragão de fogo chamado Wellington Monteclaro, Jôazeiro renasce e dorme dentro das estátuas inermes do artista Lêdo Ivo, enquanto seus sonhos retumbam nas palavras livres do Poeta Manuca Almeida, ainda assim nossa terra é toda mistério, como pode tudo isso, e nada disso ser considerado relevante, a arte passa, em Juazeiro, como a água passa por debaixo da ponte.
Não existe, de fato, um projeto municipal que vise a emancipação da cultura como um produto que se fortalece à medida que é incentivado, o que acontece realmente é que ao longo dos anos os governantes municipais têm se aproveitado da imagem, do talento e do trabalho dos artistas da cidade, vendendo uma imagem cultural que na verdade é construída com o sangue e suor daqueles que se sacrificam para construir, manter e (re) criar a identidade cultural da cidade ao longo do tempo. Ainda assim, como acontece em outros âmbitos e setores da sociedade, a arte se adapta e sobrevive, se renova e busca novas formas de perpetuação, mesmo que simbólica, e atravessa as barreiras que se impõem. Nesse sentido, apesar da inércia, desinformação e desinteresse dos que se propõem responsáveis, posso concluir esta reflexão com um leve sorriso no rosto, de quem sabe que o novo, o novo sempre vem, se não já chegou.
João Gilberto Guimarães Sobrinho é poeta, produtor e diretor da Editora CLAE.
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