ARTIGO – CORRUPÇÃO: EXPORTAÇÃO MADE IN BRAZIL

01 de Jan / 2017 às 23h00 | Espaço do Leitor

Entre os comentários ao texto da semana passada, uma leitora sugeriu para esta semana um tema que justificasse o sentido de acreditarmos “que vale a pena estarmos aqui e agora”, e que relembrasse os “10 acontecimentos positivos que aconteceram”, em contraponto ao texto que relacionou as 10 tragédias dos últimos anos. Naturalmente que nem tudo é só miséria e existem os momentos raros em que algo de bom acontece, e que permite que uma janela se abra em meio ao universo de maldades, ainda mais chocantes quando são construídas pelo próprio homem.

É desalentador, mas parece que os fatos bons se tornaram produtos raros nos últimos anos. São abundantes os registros lamentáveis, em todos os sentidos, que transformaram em fatídico o ano de 2016! Talvez aqui no Brasil o ano se salve por um fato de extrema relevância e que pode dar uma reviravolta na nossa história em decorrência da determinação de alguns Juízes e Procuradores em passar o país a limpo: A OPERAÇÃO LAVA JATO!

E eis que aqui, também, nesse primeiro Artigo do ano, ao passar à limpo a minha maneira de ver, veio à luz a lembrança de que tínhamos no país uma empresa no setor privado e na área da construção civil que era o símbolo da potência, da grandeza e da honra nacional, motivo de euforia de todo brasileiro em saber que ela estava presente em vários continentes e países, e que dava emprego a milhares de brasileiros: a ODEBRECHT!

Contudo, de repente o castelo dos sonhos se desmoronou e foi desnudado um mundo de pilantragens ocultas e que eram por ela praticadas não somente aqui, mas em outros países onde se instalou! Os seus executivos não só se especializaram na construção civil de obras maravilhosas e de grande porte, mas na boa técnica de como corromper o poder e comprar a alma de governos, servidores públicos e parlamentares. Investiu muito para obter facilidades, aprovar Leis e Medidas Provisórias com vantagens fiscais e lucrativas sem limite, ações que se tornaram em forte componente das atividades da empresa.

Como conceber que uma empresa desse porte disponibilize 77 Executivos do seu quadro, além do seu próprio Presidente já preso há um ano e meio, para deporem na Operação Lava Jato, através da Delação Premiada...? E para mostrar que são portadores de “doutorados” no submundo da manipulação dos recursos públicos, declararam-se arrependidos pelas práticas sujas (!), e estabeleceram uma condição na proposta de delação: querem continuar merecendo a confiança do governo para novos contratos!

Obviamente que a excelência no uso dessas técnicas de manipulação criminosa, não é um privilégio específico da Odebrecht. Mas, diria que ela lidera outras empresas nacionais graduadas no ramo, quase sempre parceiras nos empreendimentos contratados dentro dos critérios de melhor conveniência para cada uma. Tanto isso é verdade, que todos os diretores ou presidentes dessas parceiras se viram em algum momento como companheiros do mesmo presídio ou da mesma cela.

É doloroso reconhecer que o Brasil, subitamente, se revelou no mercado internacional com mais um novo produto integrante do seu portfólio de exportação: A CORRUPÇÃO! Pelo acordo de leniência assinado com a justiça americana e suíça, as empresas Odebrecht e Braskem (do mesmo grupo), confessaram ter pago US$ 1,0 bilhão de dólares em propinas, além de projetos em mais 12 países da África e das Américas Central e do Sul. O Departamento de Justiça dos EUA classificou como o “maior caso de suborno da história”.

Tudo isso que vem acontecendo é consequência de uma verdade nua e crua: é que parece ter havido um consenso subliminar entre as lideranças que integram as nossas instituições para achincalhar com a República do Brasil. Em artigo desta semana, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira fez uma dura afirmação: “...minha sensação dolorosa é que estamos desconstruindo o Brasil”.

São conclusões lamentáveis, mas que encontram respaldo na realidade. O nosso STF, antes de iniciar o recesso foi palco de mais um bate-boca entre Ministros, cujo baixo nível demonstra não estarem preocupados com a dignidade do Tribunal. Do Congresso Nacional já se conhece o perfil há algum tempo, e o Governo Federal atual, além de marcado pela insegurança nas ações, convive com a permanente preocupação do envolvimento da quase unanimidade dos seus integrantes com a Lava Jato...!

Dito isso, registro as minhas desculpas à leitora, porque não está fácil de localizar, no Brasil de hoje, os bons acontecimentos que possam superar tanta irresponsabilidade e anarquia! Mas, como temos que acreditar que nem tudo está perdido, tomara que em 2017 algo de bom realmente aconteça...!

AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).

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