Amor meu; Juazeiro por Manoel Leão

14 de Jul / 2016 às 18h00 | Variadas

Na primeira colina, depois do longo verde do entardecer, a carranca.

O rio de luzes é o horizonte; o rio de água, presente nos olhos de quem busca pouso e acalanto, é apenas um risco entre as luzes e a estrada que nos leva a Juazeiro.
Entre colinas e manhãs ensolaradas, amanhece o rio.

Entre sorrisos, o verde mar da cana, o dourado carmim das frutas e a garoa translúcida dos pivôs de irrigação, o vigor do vaqueiro.

Do rio, se contempla os perfis das ágeis senhoras e dos elegantes senhores das manhãs, percorrendo a passos largos o arco da orla refeita para um novo dia.

Sorrisos não faltam, e alegres, dos jovens a caminho da escola e braços a acenar, abraços e passos, cada um deles aproximando a manhã sonhada.

As manhãs em Juazeiro iluminam a fé e são coloridas, douradas e límpidas, repletas de som e música.

Entre carros, o passo apressado do trabalhador da cidade, o ruído das grandes portas abrindo-se, a canção das máquinas, a trajetória das mãos do pedreiro, do carpinteiro, construindo, também eles, um novo sonho para abrigar mais e mais sonhos.

Juazeiro se abre para a vida em manhãs ensolaradas ou nos arco íris das chuvas anunciadas, sempre com cor e amor.

Juazeiro caminha sempre para um domingo - anunciado a cada manhã – de missa de culto, dos cânticos. Juazeiro é domingo e de sol e de rio.

O domingo mora na alma, no sorriso e no abraço de toda gente de Juazeiro; na criança aprendendo a caminhar olhando o rio, com olhos de ver o mundo ou no olhar límpido habitando entre as rugas de todas as experiências. O domingo mora na alma, no sorriso e no abraço de toda a gente de Juazeiro.

Sempre foi assim. Desde os tempos da grande árvore às margens do rio desconhecido; acolhendo viajantes, primeiro na busca do ouro e esmeraldas, depois vaqueiros da Casa da Torre e ainda comerciantes de couro e rapadura abastecendo o sul. Era ali, na curva do rio, a ilha onde, estranhamente, diferente, despontam rochedos e os índios encontraram a imagem venerada na pequena capela erguida pelos jesuítas.

Juazeiro nasceu sob o signo do domingo, do dia de sol e sombra, das cantigas à volta das fogueiras, dos causos de susto e heroísmo contados e recontados, das façanhas dos touros bravos e da coragem dos vaqueiros no enfrentamento com a natureza áspera das caatingas.

E vieram os mascates, depois os barcos a vapor, abrindo uma larga avenida ligando o Nordeste, fornecedor de rapadura, farinha e couro em troca dos tecidos vindo das desenvolvidas paragens sulistas. Sempre com este ar domingueiro, no vai e vem alegre das manhãs no porto e das alegres ruas onde se misturava cores, amores, cheiros e paixões, tudo envolto nas canções de um povo cantador e poeta.
Juazeiro foi assim: um pouso e ponto de descanso e abrigo.

Por aqui fizeram pouso, cantadores e poetas, comerciantes e sonhadores guerreiros aventureiros, uns batalhando contra o Santo Conselheiro, outros a favor e depois, sempre, influenciados por Juazeiro e sua gente, a favor da liberdade, contra as ditaduras.
A estrada de ferro aproximou a Bahia de São Salvador da terra de Juazeiro. Estranhos costumes aqueles desta gente bonita vestida de panos da França , alegre carnaval, vigorosos cavalos árabes criados  à margem do Rio Salitre, fornecedor de sal para todas as sesmarias da região.

Alegres heróis estes, criados à margem do Rio Grande, nas cavalhadas, com umbu e leite de cabra; desafiadores heróis estes ousando dizer não, eleger revolucionários e contestar golpes, prontos a fazer a revolução. Juazeiro caminhou assim nos três últimos séculos e a História pode se recontar nas suas ruas, becos e esquinas, frontispícios das velhas casas que ainda sobrevivem nas ruas centrais.

Pulsa forte o coração de toda gente e pulsa sempre, empurrando Juazeiro para novas encruzilhadas. Vieram os projetos agrícolas, o aproveitamento racional da água que passava por Juazeiro no Rio e de volta, sempre, ao rio, Juazeiro agora é açúcar tendo sido antes sal, Juazeiro agora é fruticultura tendo sido antes couro.

É domingo e as colinas de Juazeiro permanecem hoje destacadas pelas torres do progresso e da comunicação, das imagens e das vozes disseminando-se por todo o vale. É domingo, é rio e os corpos morenos e dourados, onde parece morar o sol, refletem bem a alegria que mora em Juazeiro.

É domingo, é rio, barcos e a ponte, como enorme cancela livre, aberta, por onde passam, chegam, se acomodam e fazem pouso e por aqui se assentam viajantes de todos os matizes, para continuar a dar a Juazeiro o mesmo ar de domingo todos os dias. Bem-vindo ao futuro. Bem-vindo á festa da vida. Bem-vindo a Juazeiro, juazeirense!

Manoel Leão

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