Profª. Drª. Rita Cristiane Ramacciotti Gusmão Soares*
No dia 27 de junho de 2016, participando da reunião de Autorização do Curso de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, da Faculdade de Tecnologia e Ciência – FTC – Unidade Petrolina, presenciei uma cena que renovou a minha esperança na condição humana de honrar o mérito, premiar a honra e, dessa forma, quem sabe, realmente legar, às novas gerações, um País mais digno, porque reconhecedor do esforço de quem luta, e do talento de quem vive para estudar, trabalhar e ser professor.
Eis que os dois representantes do Ministério da Educação – MEC - ambos insignes arquitetos e professores com mestrado e doutorado, ao serem apresentados ao Professor Gildo Montenegro, antigo docente de várias gerações de estudantes de arquitetura, e autor de inúmeros livros sobre o tema, porém, possuidor apenas do título acadêmico de especialista, esqueceram que estavam ali, naquele instante, na condição de avaliadores da FTC- Petrolina, Instituição à qual o eminente Professor Gildo, naquele momento integrava, e passaram a render homenagens ao velho Professor e consagrado escritor, manifestando o júbilo de conhecer àquele mestre que tanto lhes havia ensinado, através das suas consagradas obras sobre arquitetura e urbanismo.
Refeitos todos da emoção que à nobreza da cena despertara, iniciou-se formalmente à reunião e, agora, o Velho Mestre, provocado a discorrer sobre a criação do Curso de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, da Faculdade de Tecnologia e Ciência – FTC – Unidade Petrolina, coordenado pelo, também, notável professor e renomado arquiteto Cosme Cavalcanti, fala da sua motivação em participar, aos 85 anos de idade e quase 40 anos de cátedra, na implantação e funcionamento de uma Faculdade de Arquitetura no interior Pernambucano. Primeiro, o fato justamente de ser no interior do Brasil, em um Município, Petrolina, que sem dispor de faculdade semelhante, influencia, conurbado com seu vizinho baiano, Juazeiro, uma população de aproximadamente 700.000 pessoas, considerando apenas à população da Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Polo Petrolina-Juazeiro – RIDE, criada pela Lei Complementar n° 113, de 19 de setembro de 2001.
Segundo, continua o Professor Gildo Montenegro, a oportunidade de integrar o corpo docente de uma Faculdade que está nascendo, aberta ao novo que aperfeiçoe o processo ensino-aprendizagem, área do conhecimento que, ao lado da Arquitetura, também tem sido seu objeto de estudo, como demonstram os seus diversos trabalhos acadêmicos, direcionados ao desenvolvimento da mente e do cérebro, através das neurociências e da inteligência intuitiva. Iria continuar com sua exposição, se não fosse educadamente interrompido por um dos avaliadores, informando que, atualmente, com a mudança da lei, trocando a exigência de um currículo mínimo para todos os cursos, para à obediência da matriz curricular às diretrizes estabelecidas pelo MEC, essa visão moderna do Velho Professor, bem se insere na proposta institucional de se construir uma nova faculdade, diferenciada não só no atendimento eficiente às demandas comuns dos seus futuros alunos, mas, sobretudo, por sua preocupação em adotar práticas pedagógicas que facilitem à assimilação do conhecimento científico.
Evidentemente, os títulos de doutor e mestre representam importantes conquistas acadêmicas de quem os possui, auferidas, normalmente, com vários anos de muito estudo e dedicação, não raro, subtraídos, esse longo tempo, do convívio de pessoas queridas e de momentos agradáveis de lazer. Essa realidade, contudo, não deve, como às vezes ocorre, diminuir à relevância de outra, igualmente, nobre conquista: a do professor dedicado à prática diária do ensino, estudioso profundo da área do conhecimento em que atua há vários anos, a ponto de se ter tornado mestre e exemplo para milhares de profissionais que lograram, um dia, serem seus alunos ou leitores de seus livros e artigos, mas, que, em decorrência das inúmeras situações da vida, não cursou o mestrado ou o doutorado.
É que nesse caso, a ausência do título concedido formalmente pela Academia, fundado exclusivamente no mérito científico, independente da idade de quem o aufere, foi superada pelo título, fundado também no mérito científico, só que “vinculado” á idade mínima de 60 a 70 anos, porque concedido informalmente pelos milhares de alunos de quem aliou, à inteligência do conhecimento científico, à sabedoria de uma vida dedicada à educação, que só à maturidade da idade longeva pode trazer. O genial Olavo Bilac, no seu belo poema: As Velhas Árvores, há muito, já nos alertava sobre isso.
“Olha estas velhas árvores,- mais belas,
Do que as árvores mais moças, mais amigas,
Tanto mais belas, quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...”
*A autora é Doutora em Ciências da Educação pela Universidade São Marcos, Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social pela Faculdade Cairú, , Professora do Curso de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo e Coordenadora dos Assuntos Acadêmicos da Faculdade de Tecnologia e Ciência – FTC – Unidade Petrolina, Pernambuco.
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