Pelo menos para a região Nordeste, chegou ao final mais uma grande festa de grande expressão regional: o São João. É gostoso ver como a descontração, a alegria e a empolgação tomam conta do astral das pessoas durante o período junino, fazendo-as esquecer por um curto lapso de tempo todas as preocupações.
Na crônica anterior, dei realce ao sumiço da tradicional “Quadrilha” junina, a qual replicava nas vestes, na linguagem e na dança, o legítimo folclore praticado com graça e simplicidade. O incrível é que nem os participantes imaginam que essa dança tão caipira não nasceu no Brasil, mas teve a sua origem em Paris, na França, no século XVIII, onde era praticada nos salões da nobreza francesa, com quatro casais apenas. Entrou no Brasil no período da Regência portuguesa, por volta de 1830; pena, porém, que o nome de “quadrilha” tenha se tornado tão pejorativo pelas mazelas de certas práticas.
A tristeza com o desaparecimento da Quadrilha junina, consegue ser superada pela vergonha maior do surgimento de outros tipos de “quadrilhas” não juninas, de formato e natureza diferentes, mas alimentadas por inteligências criminosas que não só atacam os cofres públicos, mas agora subtraem “centavos” dos Empréstimos Consignados de servidores públicos ativos e aposentados que, somados, estão estimados num rombo de 100 milhões de reais! Como é difícil conceber, caro leitor, até que limite pode chegar a famigerada ânsia dessa bandidagem política, visando o enriquecimento ilícito...?
Mas, assim como na Quadrilha junina há uma pessoa que comanda com competência a exibição dos participantes, aos quais só cabe obedecer, vamos deixar com o Juiz Sérgio Moro o comando dessas novas “Quadrilhas do Colarinho Branco”, de modo que entre um “Anarriê” e outro, ele possa direcionar todos esses bandidos para trás das grades do grande “Arraiá” penal e penitenciário montados em Curitiba.
Ainda que pretenda mudar de assunto, esse é um desejo impossível de realizar, visto a necessidade de se acompanhar a corrupção implantada de algum tempo e que vem sendo enfrentada com grande determinação por um grupo de juízes e procuradores, com o apoio sempre eficiente da Polícia Federal. Assim como uma virose que se alastra ou uma praga devastadora que mata, é incrível como cada dia amanhece com a divulgação de que uma nova Operação foi deflagrada, e novas prisões de nomes representativos do meio empresarial e político são efetuadas.
No episódio da curta transformação do Ministério da Cultura-MinC em Secretaria, no início do governo interino do Temer, houve uma reação orquestrada de protesto pela decisão, por entenderem ser um acinte à Cultura Nacional, o que provocou o imediato cancelamento da medida. Na crônica OS MISTÉRIOS PARA REDUZIR MINISTÉRIOS, insinuei que alguns protestos indicavam outra intenção: “Reduzir Ministério, sim, mas desde que não tire a minha boquinha”. Por coincidência, talvez, a Polícia Federal deflagrou a “OPERAÇÃO BOCA LIVRE” e cumpriu 14 mandados de prisão temporária e 37 mandados de busca e apreensão contra o Grupo Bellini Cultural, principal operador do esquema e mais 10 empresas, envolvendo o desvio de 190 milhões de reais, cujas investigações são motivadas por não execução dos projetos aprovados, superfaturamento dos orçamentos, notas fiscais relativas a serviços/produtos fictícios, simulação e duplicação de projetos.
E mais, para completar o escândalo foi constatado: show de famosos em festas privadas para empresas, livros institucionais (em duas capas, uma para o patrocinador e outra para a prestação de contas) e uma festa de casamento do filho do produtor cultural Carlos Bellini (que está preso), custeada com recursos públicos que eram destinados a uma Orquestra Sinfônica...! Só para esclarecer, os incentivos concedidos pela Lei Rouanet significam “renúncia de receita” através do abatimento fiscal no Imposto de Renda das empresas, o que está estimado numa perda de R$ 1,13 bilhão! Além disso, tem a propina abrindo as portas para a aprovação dos projetos! Tá pouco ou querem mais...?
Para não dizer que a “BOCA LIVRE” está sozinha, no último dia 30/06 outra OPERAÇÃO SAQUEADOR (que nome bem adequado!), levou alguns à prisão e está atrás de outros foragidos, principalmente o presidente da Construtora DELTA, que possui 18 empresas de fachada. Outra bagatela desviada: 370 milhões!
É intolerável e de causar indignação a todos os brasileiros, o fato de que alguns poucos BOCAS LIVRES e SAQUEADORES estejam se locupletando de muitos milhões de reais que poderiam ser investidos a bem do desenvolvimento educacional e cultural de nossa gente, principalmente crianças e jovens.
Em tudo isso, o que mais deprime é ver o ar de riso debochado (foto acima) do Sr. Carlinhos Cachoeira - foi preso e liberado para a domiciliar -, velho conhecido, e reincidente no crime, como a gozar da nossa cara e nos tachar de idiotas...!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor
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