PT não inventou corrupção na Petrobrás, mas sistematizou atuação partidária, diz Delcídio

17 de May / 2016 às 05h50 | Política

O senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) disse que o PT "não inventou a corrupção na Petrobras". Delcídio, que atuou durante décadas no setor energético, afirmou contudo que, com o Partido dos Trabalhadores, houve uma "sistematização" da atuação partidária para operar desvios na Petrobras e em outras estatais.

"Realmente, esse processo foi num crescendo. Qual a diferença (em relação a governos anteriores)? Começou a haver uma espécie de atuação sistêmica nas diretorias e atuação partidária muito mais ampla, concatenada, com participação das principais lideranças partidárias que compunham a base do governo Lula e Dilma. Deu no que deu", afirmou o senador cassado.

Segundo Delcídio, desde o governo FHC, Itamar e anteriores, havia corrupção nas estatais, mas não de forma tão sistematizada. Para explicar, ele relata que governos anteriores ao PT não chegavam ao "detalhe" de indicar gerentes e chefes de departamento ligados a partido. "O diretor ajustava sua equipe, não tinha isso de colocar em todos os espaços alguém ligado a partido".

Lula e Dilma sabiam. Questionado se corroborava a afirmação de que Lula e Dilma sabiam do esquema de corrupção, Delcídio repetiu que sim. Para o ex-senador, a argumentação de que Lula não sabia dos desvios ou que Dilma recebeu um parecer "falho" para decidir sobre o investimento na refinaria de Pasadena é assumir que as pessoas são "idiotas". "Tenha paciência, é achar que todo mundo é ignorante, idiota. A Petrobras sempre foi do presidente."

Presidente do Conselho da Petrobras, à época da aquisição de Pasadena, Dilma alegou ter recebido um parecer falho da diretoria Internacional para chancelar o negócio. Segundo o Tribunal de Contas da União, a compra da refinaria rendeu um prejuízo de quase US$ 800 milhões à Petrobras. "Nas estatais, especialmente na Petrobras, não há a possibilidade de você levar um processo (parecer) incompleto pra diretoria, pro conselho de administração", afirmou Delcídio ao citar todas as instâncias internas da companhia pelas quais passam esse tipo de documento. Questionado se a então presidente da República mentiu sobre o caso, Delcídio respondeu afirmativamente. "Absolutamente, ela não assumiu a responsabilidade que era dela."

Delcídio repetiu também a alegação que, sob comando direto de Dilma, negociou a indicação de Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) em troca da decisão favorável a liberação da prisão de empreiteiros implicados na Lava Jato. Segundo o ex-senador, ele cobrou em conversa com Navarro, no térreo do Palácio do Planalto, em uma "salinha", que ele cumprisse o compromisso de liberar determinadas pessoas que estavam presas em Curitiba. "Ele disse: Sei muito bem da minha tarefa. Eu fui chamado na época de mentiroso, mas o tempo é o juiz das coisas. O Marcelo Odebrecht, em delação agora, confirmou essa história."

Sobre Lula, Delcídio repetiu que o petista pediu que ele solucionasse o "problema" com Nestor Cerveró - que estava preso e com suspeita que fecharia acordo de delação. "Ele (Lula) me disse: precisamos resolver essa questão."

Aécio e PMDB. Apesar de confirmar a informação de que o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, teria envolvimento nos desvios de Furnas, Delcídio Amaral evitou frisar a suposta culpa do tucano. Disse apenas que, com a evolução da Lava Jato, a questão vai se esclarecer, pois Furnas é a "joia da Coroa" - empresa com atuação no setor energético do Sudeste, a região mais valorizada do País - e há muita informação já nas investigações sobre desvios envolvendo ela. "Não está tão difícil rastrear de onde vem, pra onde vai e quem recebe. As evidências e o histórico de Furnas são inapeláveis."

A respeito do PMDB, Delcídio disse que o partido teve uma "posição proeminente" nos desvios em estatais. "Isso vai aparecer nitidamente", disse ao citar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - a quem chamou de 'cangaceiro', o senador licenciado e agora ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR) e o senador Edison Lobão (PMDB-MA). 

Estadão

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