Com mais de 20 anos, escola de Quixabeira (BA) é exemplo de Educação Contextualizada

17 de May / 2016 às 18h30 | Variadas

A Escola Família Agrícola de Jaboticaba - EFAJ, situada no município de Quixabeira, há cerca de 30 Km de Capim Grosso, no sertão baiano, foi fundada em 1994 e recebe filhos e filhas de agricultores/as de diversas regiões do estado. A partir da pedagogia da alternância, a escola é mantida por projetos de grupos internacionais, parcerias locais, convênio com o governo do estado e colaboração das famílias. A experiência da mesma em armazenar água da chuva foi o que a fez integrar o conjunto de experiências acerca da gestão da água da escola que vem sendo sistematizadas pelo Irpaa desde 2015.

Este ano um total de 204 estudantes oriundos de 27 municípios da Bahia (seis territórios de identidade) alternam-se no tempo escola-comunidade para cursar o 8º e 9º ano do ensino fundamental e do 1º ao 4º ano do ensino médio técnico em agropecuária. A Convivência com o Semiárido sempre norteou o currículo e os conteúdos da escola, inclusive contemplando efetivamente o tema água, tema central da Oficina "Água da Escola", realizada pelo Irpaa na EFAJ nos dias 11 e 12 deste mês, com a participação de estudantes, educadores/as, monitores/as e gestora.

A oficina provocou a reflexão sobre como aperfeiçoar ainda mais o que já é feito em termos de gestão da água nesta escola. O uso da água no dia a dia da EFAJ é intenso porque além das atividades básicas para manter esta quantidade de estudantes residindo na escola, há ainda as diversas áreas de produção e/ou experimentação. A escola possui pomares, horta, viveiro de mudas, aprisco, pocilga, aviário, área de cultivo de forrageiras e plantas medicinais, casa de mel, jardins, padaria, além da cozinha, refeitórios e residências de estudantes, educadores/as e visitantes. Todas essas atividades necessitam de água, a qual é retirada de fontes diferentes, com destaque para a grande quantidade de água da chuva usada durante todo o ano.

Atualmente a escola possui 11 cisternas de tamanhos variados que armazenam água da chuva a partir de uma área total de captação de 3.665m², o que possibilita estocar um total médio de um milhão de litros de água. Além das cisternas, outras fontes são adotadas como 06 tanques, 01 represa e a barragem de São José do Jacuípe, além de 01 poço que não está usado, pois foi perfurado ano passado apenas para situações de emergência.

Durante a oficina, as/os estudantes manifestaram o compromisso que já possuem com o uso correto da água, mas disseram que foi importante o debate para refletir ainda mais sobre a origem da água que utilizam na escola, na comunidade e como podem aperfeiçoar a gestão da mesma, "uma gestão que tá preocupada em manter cada vez melhor a quantidade de água, melhor qualidade, utilizando de um jeito que não haja desperdícios", reforça a estudante do 8º ano Íris Andreia Lima. Já para Artur Oliveira, do 3º ano do curso técnico, este debate pode ajudar também no diálogo escola-comunidade. Ele afirma ainda que foi importante parar para calcular a água disponível e água utilizada na escola, o que não foi tão difícil porque devido as atividades práticas as/os estudantes já possuem uma base, principalmente do consumo.

A educação contextualizada e abordagem da mídia acerca do tema também estiveram em debate, o que motivou as/os participantes a buscarem se apropriar mais dos instrumentos de comunicação para divulgar a experiência da escola.

Uso da água da chuva

"A EFAJ é a única escola do Semiárido que conhecemos que nunca recebeu água de carro-pipa, se tem outra não sabemos", aponta André Rocha, coordenador do Eixo Clima e Água do Irpaa. A afirmação, que é assegurada pela própria escola, chama atenção por ser um exemplo no tocante ao armazenamento de água da chuva para consumo humano, oferecendo água potável mesmo nos períodos de estiagem.

Para a gestora da escola, Iracema Lima, o trabalho da gestão da água da escola precisa contar com o compromisso de todos e todas da comunidade escolar. Ela explica que o uso da água já acontece de forma bastante consciente mas que ainda é necessário se apropriar cada vez mais dessa discussão. Iracema pontua que um dos desafios é a qualidade, "a gente conhecer de fato a qualidade da água que a gente tem". Segundo ela, com exceção da água acumula nas cisternas, que por ser oriunda da chuva todos/as confiam, com relação as demais fontes é preciso ainda ter a certeza da qualidade para assim melhor definir em que atividades utilizar.

Reaproveitamento

A água usada para tomar banho, que normalmente nas comunidades rurais é lançada a céu aberto ou em fossas sépticas, na EFAJ vem sendo reutilizada para irrigar forragens. A água é armazenada em um tanque impermeabilizado e coberto com laje e é retirada com um pequeno motor. Além das forragens, já se inicia também a irrigação de frutíferas, pensando agora formas de tratar esta água.

Outra experiência que começa a contar com a pesquisa por parte de monitores/as e estudantes da escola é a reutilização do esgoto oriundo dos sanitários, o que pode resultar em mais uma alternativa para as áreas rurais no sentido de destinar corretamente o esgoto, um dos componentes do saneamento básico.

Ascom/IRPAA

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