Gilberto Santana
Uma espécie de miopia política, causada pelo bombardeio midiático golpista produz uma ideia de força na massa, que a impede de distinguir e debater outras vertentes da componente política. Contra essa “ideia da força”, onde tudo tem o efeito da propaganda da “SKIN”, você pergunta e o sujeito responde – porque sim. A mídia conseguiu cegar a razão. Agora que a corrupção acabou, desde o fatídico dia 17 de Abril, agora que a lava jato acabou, que o juiz herói saiu de cena, agora que os patriotas deixaram as ruas e não protestam mais, agora que o Brasil será entregue ao símbolo da moral, da ética e da honestidade – Sr. Eduardo Cunha e principalmente ao ex satanista Temer... É hora de recorrermos a “força das ideias”, agora que não temos quem odiar, que tal uma chance a razão? sem xingamentos, sem os comentários que só agridem e não sinalizam construção.
Polícia Federal e Ministério Público construíram o golpe debaixo de nossos narizes, enquanto o Ministério da Justiça se orgulhava de ser “republicano” – uma bobagem liberal. A Globo e toda imprensa golpista envenenaram o país diariamente, rindo na nossa cara, recebendo grandes verbas publicitárias estatais.
Companheirada, o golpe é fato consolidado e nesse novo período vamos precisar de mais organicidade, mais formação política, mais combatividade, mais espírito de luta, mais mobilização social, mais disputa ideológica.
E nenhuma ilusão com a institucionalidade burguesa, nenhuma ilusão com a possibilidade de acordos com o lado de lá. Nenhum “republicanismo”. Voltar a entender que o Estado é um instrumento de dominação burguesa. E que nossa presença nessa institucionalidade só faz sentido se for para questioná-la, por dentro.
Uma nova estratégia. Uma esquerda renovada, combativa, radical, libertária, feminista, antirracista, ousada. Somente assim estaremos a altura do novo período histórico.
Com o impeachment ocorre um avanço bonapartista da direita contra os trabalhadores. Isso se dá porque o impeachment é o sequestro do voto de centenas de milhões por uma bancada de 500 parlamentares que vivem, pensam e sentem como empresários e estão envolvidos em diversos esquemas de corrupção, desvio de verbas, torturas, homicídios.
O papel dos trabalhadores conscientes a partir de agora é entender o acontecido, fazer um balanço dessa batalha particular, para se organizar para os próximos conflitos que tendem a ser cada vez mais duros.
O papel dos revolucionários no próximo período da luta de classes: organizar uma frente única de defesa ativa contra cada ataque econômico e político preparando imediatamente o contra-ataque. É papel da esquerda que se reivindica revolucionária, entendendo a situação em que nos encontramos, reconhecendo a importante derrota sofrida, mas entendendo também que essa derrota está longe de ser concludente, preparar um plano de luta, um plano estratégico, para enfrentar as próximas batalhas que se avizinham nas novas condições dadas.
Entender que nós trabalhadores sofremos uma derrota numa batalha importante, mas não decisiva, implica em reconhecermos como tarefa imediata a reorganização das tropas de nosso campo, o impedir seu desagregamento e estabelecer novos laços de unidade.
A luta passa agora no imediato para um momento de defesa ativa, mas numa defensiva tática que com golpes habilidosos prepara diretamente o contra-ataque. Contra cada ataque anunciado na "ponte para o futuro" de Michel Temer contra nossos direitos e salários, contra cada elemento de fechamento do regime e ataque as liberdades democráticas de nossa classe, devemos exigir dos movimentos sociais e sindicais que tanto bradaram contra o golpe que movam seu forte aparato numa verdadeira batalha de classe, como a que não deram contra o impeachment.
Contra o golpista e antidemocrático, ajustador e corrupto, governo de Michel Temer devemos exigir e preparar uma greve geral que não só defenda nossos direitos, empregos, salários, mas também nossas liberdades democráticas, que serão ainda mais atacadas num governo mais frágil.
Nós trabalhadores, atendendo a força das ideias, devemos avançar um programa nosso, independente, que dê uma resposta global e hegemônica de nossa classe às crises econômica e política. Insisto, apenas em uma assembleia constituinte livre e soberana, sobre as ruínas desse regime podre, que acabe com a instituição bonapartista da presidência, a casa de representantes reacionária que é o senado, em que todo político ganhe como uma professora, onde o judiciário também seja eleito e todos seja revogáveis e em que os revolucionários gozem de ampla liberdade para defender um programa transitório para a crise, pode dar uma saída de fundo para a grave situação em que nos encontramos.
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