ARTIGO - O GOLPE EM NOME DE DEUS

19 de Apr / 2016 às 23h00 | Espaço do Leitor

Disse um dos Deputados que votou contra o impedimento da Presidenta Dilma:  “Nunca vi, em tão pouco tempo, o nome de Deus tantas vezes ser chamado EM VÃO”.

Inicio esta nota, afirmando fazer minhas as palavras daquele Deputado. Não porque me julgue puro, até porque é hipócrita aquele que assim se julgar. Me considero impuro, mas perante Deus. Esse Deus que acredito, desde jovem, quando estudei em um seminário menor. O Deus que não mata, que não castiga, que não rouba, nem apoia ladrões. Que é Onipotente e Onipresente. Que não ensina a hipocrisia nem o apego às coisas materiais. Que amá-lo sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo é o primeiro Mandamento e que por isto mesmo temos a OBRIGAÇÃO de apoiar o que é feito ao bem do próximo e JAMAIS ir contra.

Passei, desde a sexta-feira, praticamente 80% do meu tempo em frente à televisão, na TV Câmara, durante as sessões. Varando madrugada e ontem só depois do último voto

me aquietei (escrevi esta nota segunda à noite). E estava só, na minha caatinga, próximo a Uauá.

Suportei as mentiras e demagogias, mas quando em vez me revigorava com as palavras de parlamentares que não temiam em defender a verdade. Digo isto com a certeza de que, apesar de não saber nada, nos meus 62 anos, o que aprendi até aqui me dá a certeza de ter esta compreensão: De quem fala a verdade e dos que vociferam a mentira. Como já disse em outras ocasiões, desde garoto me interessei pela politica, porque dela vivemos.

Mas foi ontem, na votação, que mais escutei a hipocrisia, a demagogia, o cinismo e para ser mais direto no sentido popular, da picaretagem de parlamentares  que deveriam ter outra função, outra obrigação diferente daquela do desdém, em um momento tão sério e importante do País. Enquanto os que eram contra o Golpe chamavam a atenção para o objeto da questão ou seja, o relatório da Comissão pró-impedimento, os que eram a favor faziam chacotas, tiravam selfs, gargalhavam. De repente se tornaram pais e mães tão amorosos, filhos tão dedicados (será?). Dedicavam os votos às esposas, aos maridos. Um até se esqueceu de chamar o nome de um dos filhos e voltou para proferi-lo. Outro, o Heráclito Fortes, lembra tanto da familia, dia a dia que levou os nomes, inclusive dos filhos, escrito em um papel. Aí eu digo, meu Deus quanta hipocrisia. Uma Deputada agradece a Deus pelos filhos,  homenageia com seu voto o marido, Prefeito de Montes Claro/MG, e logo na segunda-feira cedo, o tal é preso pela PF por desvio de dinheiro em beneficio de um hospital de sua propriedade. É dessa qualidade os votos dos que querem o impedimento de uma mulher honrada.

Os milhões de brasileiros e brasileiras que são os principais interessados no tema foram esquecidos por aquele bando de canalhas, cujo interesse é realmente e somente a própria familia, umbilicalmente falando, e neste ponto não mentiam.

Volto então ao ponto do titulo desta nota: EM NOME DE DEUS.

Sei que este tema trás polêmica e muita polêmica. Acontece que, em momento como esse, onde está em jogo a Democracia de uma Nação, o bem ou o mal do seu povo, o destino e futuro de nossas crianças, não dá para calar, não dá.

Sou respeitador da livre crença religiosa e quem me conhece sabe disto. O que não Dá para respeitar e não respeito é a hipocrisia, venha de onde vier.

Também acredito que evangélico é todo aquele que professa sua fé baseada no Evangelho de Jesus Cristo, inclusive os Catolicos, como o sou. A bem da verdade, ainda no sábado, ouvi um dos Deputados dizer-se Católico Carismático, fazendo menção à CNBB e que proferiria seu voto contra a Presidenta. O catolicismo não o ensinou a se comportar dessa forma, disto tenho certeza, assim como a CNBB não é a favor de golpes, pela sua história, é só ver a Internet.

Fiz a observação sobre o Evangelho porque a bancada na Câmara dos ditos “Evangélicos” perfaz o número de 92, isto mesmo, NOVENTA E DOIS parlamentares. Não sei se todos porque nem todos declararam, mas com certeza a maciça maioria votou a favor do Impedimento da Presidenta e, o mais triste, EM NOME DE DEUS. Pedindo desculpas antecipadas aos Evangélicos que não se sentem representados por aquela bancada, e como Católico, fiel aos ensinamentos biblicos, pergunto:

1 – É certo utilizar o nome de DEUS, não em vão mas tão em vão como naquele momento de acusações, chingamentos e ódio (pelos pró-impedimento)?. Os ditos “Evangélicos” assim o faziam. (2º Mandamento).

2 – O presidente da Casa, Eduardo Cunha é hoje sabidamente um corrupto, um ladrão na linguagem popular, o qual votou pelo impedimento. E votar ao lado dele como a bancada dita “Evangélica” votou, é certo segundo o Evangelho? ( 7º Mandamento - Não roubar)

3 – Votar ao lado de quem apoiou a Tortura no regime militar como Jair Bolsonaro, teria sido ensinado  por Deus como boa proposta? Mas lá estavam os ditos “Evangélicos”  ao lado do torturador Bolsonaro. (5º Mandamento - Não Matar).

4 – Dar voto a favor de um Relatório cheio de erros, tornando-se uma peça arrumada, contra a verdade, provada por milhares de juristas deste País foi correta? ( 8º Mandamento - Não levantar falso testemunho). Mas a bancada dita “Evangélica” estava lá apoiando e gritando sempre em nome de Deus. Mais uma vez falar,  proferir,  mencionar O NOME DE DEUS EM VÃO foi certo?

O Partido dos Trabalhadores, junto com o fiel aliado, o PC do B não tem Santo, é verdade, mas foi o Partido através de Lula e Dilma que tirou o Brasil do Mapa da fome, que deu oportunidade aos jovens, que criou Universidades, Hospitais, deu cidadania e dignidade ao povo nordestino e ao povo brasileiro. Foi o único governo que jamais interferiu nas investigações da Policia federal e por isto tantos colarinhos brancos na cadeia. O contrário de antigamente em que tudo era jogado para baixo do tapete.

É certo tirar o PT e Dilma do poder, que fizeram e fazem bem ao povo brasileiro? O País está hoje numa crise, não de acabar o mundo como querem nos enfiar guela abaixo, mas uma crise graças justamente àqueles que nunca se conformaram em ter perdido as eleições nas urnas e querem agora usurpar esse poder através de um golpe,

apoiado pela imprensa, mais uma vez comandada pela Globo, como em 1964 e a Revista Veja, que não deixam o governo em PAZ, que demonizam o PT, Lula e Dilma há dois anos, ininterruptamente, 24 horas por dia, emprenhando o juizo das pessoas, todas as horas, todos os minutos. É certo?  E se defende isto EM NOME DE DEUS?

Este realmente não é o meu DEUS. O Evangelho que sigo é diferente deste e muito diferente.

Finalizo dizendo: Que venha o Senado, onde espero que pelo menos lá Deus seja poupado. Deixem Deus lá, por cima, nos observando. Porque quanto mais o citamos, EM VÃO, mais perto estaremos, não do Céu, mas inferno adentro.

Tarciso Moraes

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