Ao inaugurar um shopping center Juazeiro pode estar iniciando um novo ciclo no que se refere à quebra do paradigma que incomoda a alguns que militam no mundo de negócios entre as duas cidades: a do pressuposto de que estabelecimentos comerciais de maior porte e voltados para o público de maior renda não se firmam no município baiano. Este pressuposto pode estar sendo de vez sepultado.
É lógico que ainda é muito cedo para avaliações de algo que estar por ser inaugurado, mas o simples fato de se ver um elevado investimento sendo realizado em meio a uma crise por qual passa o país, quando muitos pisam no freio e retraem seus negócios, a implantação de um grande centro de compras por uma das maiores empresas do ramo do país é sinal de que se reconhece a potencialidade do mercado local assim como as carências existentes.
Dos apenas 21 shoppings centers existentes na Bahia - de acordo com a Associação Brasileira de Shopping Center (ABRASCE) - 12 estão na capital Salvador. Essa realidade, que ainda choca, é decorrente da análise que a capital baiana concentra 19% da população do Estado, e o pior: 26% de todo o Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, de toda a riqueza gerada. Uma aberração nunca resolvida.
Em comparação, quando se observa o caso de Santa Catarina percebe-se que lá também existem 20 shoppings centers, no entanto, desse total, 17 estão localizados no interior, no que pode ser consequente de uma melhor distribuição da riqueza e da população naquele Estado, confirmado pelo fato de que Florianópolis, a capital, apresenta apenas 7% da população, mas também 7% do PIB. Um caso de quase perfeita distribuição.
Convém ainda ressaltar que a Bahia, com 15 milhões de habitantes, 417 municípios e 565 mil km2, sempre teve um maior PIB que Santa Catarina, mas nos últimos anos foi ultrapassada pelo Estado do sul que tem apenas 6,8 milhões de habitantes, 295 municípios e 96 mil km2. Essas constatações permitem aferir que Santa Catarina tem apresentado uma melhor evolução, tanto em termos de mais geração de riqueza quanto em termos de melhor equalizar o acesso à renda gerada.
Essas constatações provocam reflexões a respeito de como a Bahia precisa interiorizar o desenvolvimento, desconcentrando a sua riqueza e por consequência ocupando melhor o seu imenso território com a sua população. A região norte do Estado é uma das mais combalidas, carente de investimentos privados e de obras de infraestrutura. Não se registram grandes investimentos públicos na região, desde o Projeto Salitre, dos anos 1990, no entanto grandes redes de varejo têm apostado e investido na região.
Iniciativas como a implantação de empreendimentos como um Shopping Center vão nessa direção, a de levar ao interior não só novas oportunidades, mais empregos, mais novidades e opções de produtos e serviços, mas também contribuir com a interiorização do desenvolvimento aproveitando-se os movimentos do bom crescimento econômico registrado por Juazeiro nas últimas décadas.
A agricultura irrigada transformou a realidade dessa região do vale do submédio São Francisco, e os seus efeitos multiplicadores impactaram positivamente em outros segmentos e atividades da economia, dinamizando e atraindo novos investimentos o que, por seu turno, propiciou outros ganhos como melhor ampliação e diversificação da oferta de produtos e serviços, maior conscientização dos consumidores com maior exigência por estabelecimentos de melhor qualidade, tudo implicando em maior amadurecimento do mercado consubstanciando em mais desenvolvimento social.
A quebra do paradigma com o shopping pode inaugurar uma nova era pra cidade que carece por demais de investimentos em urbanização, mobilidade urbana e mesmo estética. São iniciativas como esta que podem estimular continuadas ações de requalificação, revitalização e reorganização, e, ao cabo, reduzir o “ciúme” tal qual cancionado por Caetano, quando Juazeiro por muito lembrará desta tarde e Petrolina com certeza vai perceber.
MÁRCIO ARAÚJO
Economista
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