ARTIGO - O PAÍS DOS MEUS SONHOS

08 de Feb / 2016 às 09h00 | Espaço do Leitor

Carlos Augusto Cruz

Médico e Advogado

“Sonhei um sonho”! No qual me encontrava vivendo num determinado país onde tudo era diferente.

Naquela nação o povo era muito bem tratado no tocante a sua saúde e a sua educação. Não havia desvio de verbas dessas duas áreas, por parte dos governantes. Na saúde, nem se fala, era tudo uma maravilha. Corrupção, quando surgia algum caso, de cem em cem anos, os culpados, uma vez sendo réus confessos ou delatores, eram punidos imediatamente e, se fossem com o seu gesto comprometer o nome e a grandeza do país, eles teriam morte sumária. O que para o governo significava um serviço para com a saúde pública do país.

O povo era muito bem atendido nos seus direitos. O sistema de saúde daquele país tinha um nome curioso, chamava-se SUSE. Era uma espécie de Sistema Único de Saúde Espetacular, onde na sua constituição estava escrito que: “Saúde e educação eram direitos dos cidadãos e dever do Estado”.  Disso ninguém tinha dúvidas e, se era prá ser assim, era assim que era!

No país dos meus sonhos a saúde e a educação não estavam na UTI. Não se criavam meios fantasiosos e inexplicáveis para selecionar mais e mais os alunos que entrariam nas Universidades, e nem se falsificavam os índices de educação do país dizendo que o seu IDR aumentava a cada ano, quando o que se observava na prática, era o aumento do número de crianças em idade escolar, fora das escolas, bem como o aumento do número do trabalho infantil. Não era como os outros países, onde até o próprio governo, também praticava o trabalho escravo – oficialmente – apoderando-se de parte do salário de alguns trabalhadores médicos que ele mesmo, importava de outros países para, no país dos meus sonhos prestar serviços e, por mera ideologia política, retinha a maior parte dos salários desses trabalhadores, não repassando para eles, que trabalharam, mas sim aos governos dos seus países de origem.

Hospitais bem equipados, nele não faltavam. Condições de trabalho para os médicos, também não. Salários à altura dos três poderes eram comuns. Tanto fazia ser funcionário do poder executivo, quanto do legislativo ou do judiciário, era sempre a mesma coisa, ganhava-se sempre igual. A harmonia entre os poderes se evidenciava até nisso – nos salários. Faculdades de Medicina tinha-se aos montes, de Norte a Sul; de Este a Oeste, e lá, pasmem os senhores, não havia falta de médicos. Tempos atrás tinham inventado até um certo FIES, que serviria para os alunos de curso superior pagar seus estudos numa das muitas e bem equipadas Faculdades Médicas. Mas isso teve que ser reduzido drasticamente, porque as Escolas de Medicina daquele país, principalmente as particulares, começaram a cobrar um preço tal nas mensalidades que, na sua grande maioria cobravam acima das dez mil patacas, que era a moeda do país, apenas por uma mensalidade, e o que era pior os cidadãos daquele país eram obrigados a pagarem os doze meses do ano de mensalidades, para que as escolas particulares tivessem um lucro maior ainda. Isso também se acabou, pois descobriram que se estava cobrindo um santo, enquanto o outro ficava a descoberto.

Quando o governo se apercebeu disso proibiu, peremptoriamente, a tal cobrança das doze mensalidades.

Em se tratando da saúde para a população daquele país não existiam filas para se marcar consultas, para ser submetido a um tratamento médico, qualquer que fosse.

Chamar uma pessoa para fazer uma consulta médica depois de onze meses que aquela pessoa já havia falecido (tamanha era a fila), nem pensar. Médicos surtando nos locais de trabalho, por falta de condições de exercer sua profissão com dignidade, sem agüentar a pressão popular, isso era coisa prá mudança de Ministro e de ministério, não tinha prá onde correr!

Eleições naquele país, tinha-se a cada dois anos, porém quando chegava-se no tempo das eleições, o povo, principalmente o proletariado, nem ligava pros candidatos: eram os candidatos que tinham que ligar para o povo.

Brigar por candidatos a Prefeitos e a Vereadores, ninguém nunca viu tal barbaridade. Votar por um milheiro de telhas, ou de tijolos, por sacos de cimento, comprar votos, vender votos, isso era algo de abominável para aquele povo.

Aquele país tinha mesmo um povo politizado e bem esclarecido.

Corrupção, inclusive envolvendo os altos graus da hierarquia governamental, era algo de impensável.

Assim vivia aquele país numa situação de bonança e, de crescimento célere, ano após ano.

Mas como tudo que é bom se acaba, o meu sonho também chegou ao fim. O pior é que quando acordei, estava eu na terrinha de Cabral. Que decepção!!!

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