“Esse ano eu não passei aperreio porque tinha muita ração guardada”, diz agricultor do sertão baiano

18 de Jan / 2016 às 15h00 | Variadas

O ano de 2016 começou com muitas chuvas no sertão da Bahia e, mesmo de forma irregular, chovendo mais em uns locais e em outros menos, a vinda da chuva é motivo de muita alegria, principalmente para as comunidades rurais, pois estas têm o costume de armazenar a água da chuva, além da chegada dela garantir a renovação da Caatinga e favorecer o plantio e o pasto para os animais.

Para captar e armazenar a água que cai, as famílias e comunidades contam com as tecnologias de captação e armazenamento da chuva. São as cisternas de consumo e de produção, os barreiros trincheiras, os tanques de pedras, barragens subterrâneas, açudes, etc. Em todo Semiárido, estas tecnologias são construídas por mais de três mil organizações reunidas na Articulação do Semiárido – Asa, o que já possibilitou a construção de 669.243 tecnologias até janeiro deste ano. 

 Em Juazeiro (BA), famílias da comunidade de Cipó, no distrito de Juremal, estão incluídas nesse dado. A região é contemplada com projetos executados pelo Irpaa e que hoje garante o armazenamento da água em cisternas calçadão, as quais encheram logo com as chuvas da primeira semana de janeiro.

Mas, além de guardar a água, é preciso atentar para a importância de armazenar também o pasto. “Esse ano eu não passei aperreio porque tinha muita ração guardada”, diz o agricultor Rafael Nunes, se referindo ao ano de 2015 e citando a silagem e fenação como práticas adotadas nos últimos anos após a assessoria de organizações como o Irpaa. Ele conta que quando começa a sair o “broio” das plantas na Caatinga, os animais são logo soltos na área, mas como o verde não dura o ano todo, é preciso armazenar a forragem. “A gente agora é esperar que saia bem comida na área de Fundo de Pasto que a gente vai trabalhar no sistema de guardar a ração pra quando chegar o mesmo período a gente ter a ração para os animais, porque comprar não dá certo não, é muito caro”, confirma.

 São ações simples como estas, asseguradas às milhares famílias por meio das políticas públicas voltadas para o Semiárido, que diferenciam estes últimos anos de estiagem das secas de algumas décadas atrás. “Antigamente a gente esperdiçava muito, ninguém guardava nada não”, lembra Seu Rafael, destacando a importância tanto da estocagem de alimentos quanto da água.

Medição da chuva para planejar a produção

Para garantir um bom planejamento acerca do uso da água, tanto para consumo humano quanto animal, e a produção agrícola de sequeiro, a medição da chuva é um elemento indispensável no Semiárido brasileiro. Além dos dados divulgados pelos institutos de pesquisa, no sertão baiano muitos/as agricultores e agricultoras também medem a quantidade de chuva que cai na propriedade.

Isso é feito através do pluviômetro popular, uma tecnologia confeccionada de forma caseira com uma lata de leite em pó, uma estaca de madeira e uma régua para medir os milímetros de cada chuva que cai. Para o agricultor Rogério Gonçalves, também morador de Cipó, após o período chuvoso é feito um balanço da quantidade de chuvas para assim planejar, por exemplo, quais os cultivos mais apropriados, se é possível investir no crescimento do rebanho, se irá necessitar de outras fontes de água durante o ano, isso considerando o volume de água armazenado.

Para o Irpaa, o importante é constatar que as famílias, ao receberem uma tecnologia dessas, aprendem também a fazer a gestão da água armazenada. O processo pedagógico que acompanha a construção da tecnologia – seja de maior custo ou algo caseiro como o pluviômetro – ajuda as famílias a compreenderem que estocar e fazer o uso correto da água e da Caatinga é o que garante uma maior tranquilidade durante o período de estiagem.

Comunicação IRPAA

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