Artigo: O QUE VOCÊ FEZ – ANTES DE 2016?

11 de Jan / 2016 às 23h00 | Espaço do Leitor

Não sei se onde termina

Principia?

Sou dessa banda da Bahia

Margem funda

Do Rio São Francisco

Me contorço em diferente geografia

Minha história é o "raio x" de outra radiografia

Embora não seja nenhuma "Severina" retirante

"Ziziphus joazeiro" 

É o meu "nome de pia"

Sou  de uma realidade dura - uma utopia!

Quem dera fosse minha redenção: paixão e poesia?

Era o que "Vargas " visitou

O que 64 destruiria

Eu tenho um jeito

De cor, de corpo,

O ministério de alguma sabedoria

Um cheiro um tempero

Uma magia

Entardeço numa tristeza

Me entorpeço numa alegria

Sou desse  tempo

De bem muito antes

E não me enfeito

Só de "falsos brilhantes"

Tenho  um cio de música

Um terço, berço, um pé de futebol

Os frutos filhos e filhas

 Sementes ao Sol

Umas frutificam  aqui

Outras secam

Outras chegam de arrebalde

No arrebol

Os passarinhos levam e trazem

Me façam todos um absoluto favor:

 

Não me comparem

Com nenhum outro lugar

Não falem de mim

Sem saber o que sou

Minha anatomia não tem

Muito compasso

Não vai por largas e retas avenidas

Por que eu me dobro em sinos

Por estreitas

Esquinas esquecidas

E apesar de terem  encanado

Meu destino na  derrubada do meu cais

Minhas velas são amantes dos ventos

Estou no caminho do mar

O calor é o meu clima

O mundo inteiro

Sabe onde estou

E até onde vai

O som desse sentimento

Onde o planeta se inclina!

Eu sou uma harmonia hermética

Uma melodia profunda

Apesar da maioria que me habita

Não saber o canto da minha sereia música

Meus hinos

Meu samba sinfônico

Minha batucada erudita

Eu me traduzo em poucos

Para ser de muitos

 

- O meu povo?

Ah! O meu povo

É como qualquer povo

Vivo ou no seu jazigo 

De muitos lugares antigos

 

Às vezes velho de novo travestido

E na cabeça oca desses

Que me deploram por aí

Nem é de se conceber imaginar

Se há algum jorro de pranto

Na lamúria de me fazer chorar

Se eu no meu canto apenas

Morro deles de rir!!!

Com suas existências pequenas

Nunca irão me dizer aonde ir

Enquanto eles passeiam de importados

Eu já voava nos aviões de "Bico Doce"

Com asas de "buriti"

 

Não me ganha só dinheiro

O que me arranha

São poucos - por que?

Ainda tenho muito céu

Neste azul que me arrebanha

E o que falta mesmo

É ser amor de um amor verdadeiro

Para me saber como sou

Cuidar bem de mim

Dos meus jardins

Da sala de estar

Do meu quintal

Das minhas crianças, juventude

E daqueles mais vividos

No exaurir dos tempos

De maiores e perdidos sentidos

 

Os que pensaram me possuir

Apenas se apossaram

Da minha caixinha de música

Exposta  diante do espelho

Do "toucador"

Não levaram quase nada

Da minha riqueza no seu "suadouro"

Por que a minha riqueza

Não pode ser roubada

Mas se quer saber não sei

Quem de verdade verdadeiramente amei

Quem fingiu que me amou

Por que  da solidão que provei

Também desprezei

E com o que me comparam

Não preciso dizer minha rima

E se é de ser minha sina

Escrava do meu próprio povo

Sempre aceitei ser mesmo a "geni"

Uma flor de menina

E aqueles que nada fazem

E só falam mal de mim

Deitados em exercícios extremos

Com seus discursos frios rebuscados

É o do menos - jazem!

Como se não fossem também responsáveis

De ser eu Juazeiro do meu jeito assim

Façam alguma coisa fúteis amantes!

Já que não podem me dar nenhum prazer

Já suportei muito porre de cachaça ,cerveja e whisky

Gostava mais do que cheiro de "gim"

De "lança-perfume"

No carnaval do meu "Bazar Royal"

Acabaram meus "cabarés"

Como se fossem "purgar" pecados conservadores

Então espero que o meu povo

Me livre da "divina comédia de Dante"

Deserto de um destino - certo passado ruim

De quem eu quero longe muito muito distante

Além do além equidistante- fim

E minhas ruínas

Deixo para os que vivem querendo

Que eu seja Petrolina

Fui erguida num baixo médio

Mas é bem alto o cume da  minha colina

O lume da constelação que ilumina

Minha vida santa - libertina

Minha modernidade

Meus edifícios

Minha civilidade

Minha beleza divina

Se erguerão em outro porvir

Quem sabe quando certas raposas velhas e novas

Não estiveram mais espreitando por aqui.

 

No muito mais do meu século

De esperar cansada não cansei

E quem me quer agora

Não precisa ser cortês

 

Só me diga de uma vez

O que você fez

Por mim

Antes de 2016?

 

Por Juazeiro de muitos janeiros...

Para o nosso já saudoso amigo PARLIM!!! 

Por Maurício Dias, Mauriçola.

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