O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) admitiu pela primeira vez a possibilidade de utilizar a água alocada no volume morto da barragem de Sobradinho, na Bahia, caso o capacidade hídrica do reservatório chegue a zero. No sentido de evitar o esvaziamento do reservatório, que sofre os efeitos prolongados de uma estiagem severa de quatro anos, alcançando atualmente um patamar de 2,1% no seu volume útil, a Agência Nacional de Águas (ANA) autorizou nesta terça-feira (05.01), em Brasília, o início dos testes de redução para os 800 m3/s da água que é liberada (vazão) pela represa.
Mesmo não defendendo formalmente o uso do volume morto, o diretor geral do ONS, Hermes Chipp, considera que esta retirada de água em Sobradinho, caso se faça necessária, "deverá ocorrer de forma que não comprometa o funcionamento do reservatório, assim como a qualidade das águas que abasteceria a população ribeirinha e os demais usuários da bacia do rio São Francisco", diz. Para tanto, ele sugere um estudo preventivo que determine os limites de uso desta reserva, que poderá chegar a cinco bilhões de metros cúbicos. A medida de utilização do volume morto foi praticada recentemente no sistema Cantareira, no Sudeste do país, mostrando-se bastante eficaz no enfrentamento de períodos de baixa precipitação.
Já a decisão de reduzir ainda mais a vazão foi desaprovada por algumas entidades presentes à reunião, que alegaram prejuízos com a nova resolução, entre elas o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), representando pelo presidente Anivaldo Miranda. "Vemos com cautela este redução uma vez que agravará ainda mais os problemas ambientais da bacia. A posição do Comitê se mantém a mesma: a de que a melhor solução é esperar o término do período chuvoso, entre março e abril, para que então se tome algum tipo de medida", destaca.
Miranda intercedeu pela necessidade de se praticar novos instrumentos restritivos para suprir esse déficit no armazenamento das represas. " Não podemos pensar apenas em reduzir as vazões.Poderia muito bem ser empregada a suspensão de outorgas à montante dos reservatórios; ou até mesmo a retirada de água dos afluentes estaduais do São Francisco", defende.
Saneamento – As opiniões contrárias à redução da vazão de Sobradinho manifestadas tanto pela Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) quanto pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) chamaram a atenção dos especialistas presentes à reunião devido aos altos investimentos que deverão ser gastos pelas empresas caso a vazão se mantenha em 800 m3/s. Enquanto a Casal necessita de R$7 milhões para readequar os seus pontos de captação que levam água para 800 mil alagoanos, a Compesa precisará desembolsar R$12 milhões para abastecer 1 milhão de pessoas que residem no Agreste pernambucano. Ambas as companhias foram taxativas ao informar que não dispõem dos recursos.
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