O lendário vapor Benjamim Guimarães está parado, em solo firme, sob reforma, no cais do porto de Pirapora, no Norte de Minas.
No entanto, passou a ser veiculado nas redes sociais um anúncio falso da reserva de passeios em “cruzeiros” pelo Rio São Francisco dentro da embarcação, que está sem navegar há mais de uma década.
O “anúncio” foi feito em um perfil registrado na Inglaterra (cidade de Manchester) e não menciona valores ou pagamento. Por outro lado, a Empresa Municipal de Turismo de Pirapora (Emutur), responsável pela gestão do Vapor Benjamim Guimarães, distribuiu “comunicado de alerta”, combatendo a fake news, com o objetivo de prevenir pagamentos indevidos. “Trata-se de golpe contra a população e turistas”, diz a Emutur.
A empresa municipal de turismo de Pirapora também informa que está tomando “todas as providências para averiguar a situação e punir eventuais infratores”. Esclarece ainda que “nenhuma empresa ou agente (de viagem) está credenciado a vender ingressos futuros no Vapor Benjamim Guimarães.” Construído em 1913, o Benjamim Guimarães é o último exemplar movido a vapor ainda existente no mundo.
O presidente da Emutur, Elton Jackson Gomes da Mota, disse que as obras de recuperação do vapor, patrocinadas por um fundo de investimentos da Eletrobras, no valor de R$ 3,7 milhões, estão sendo agilizadas. A previsão é que os serviços sejam concluídos até abril ou maio deste ano e, a partir daí, a embarcação volte a navegar.
Com isso, alguém pode estar se aproveitando dessa aproximação do “retorno” da operação do vapor, para a divulgação dos falsos anúncios dos “cruzeiros fluviais” para o ano de 2025. A fake news é propagada pelas redes sociais com a frase “sua próxima aventura”, com uma foto da embarcação do vapor em uma montagem. “Uma jornada inesquecível. Embarque em um cruzeiro por Pirapora e navegue pelo lendário Rio São Francisco, explorando a natureza, tradições e paisagens deslumbrantes”, diz a propaganda falsa.
A mensagem enganosa é veiculada em um perfil com o título em inglês – delas haven, que significa “paraíso de ofertas” em português. Na propaganda falsa, são divulgados “pacotes de cruzeiros” pelo Rio São Francisco, no Vapor Benjamim, divididos por categorias: “sênior”, “casal” e “família”, “com tudo incluso”. Também são anunciados “pacotes de cruzeiro para idosos com tudo incluso”. Os “pacotes” falsos anunciados têm tempo de duração de três a cinco dias, “saindo” (início da viagem turística) de Belo Horizonte ou de Pirapora.
A advogada Daniele Entreportes, da assessoria jurídica da Empresa de Turismo de Pirapora, disse que no anúncio falso dos “cruzeiros fluviais” foi colocado o nome de uma empresa de turismo de São Paulo que vende pacotes para viagens de cruzeiros marítimos internacionais. Ela informou que entrou em contato com a referida empresa, que alegou não ter nenhuma relação com a veiculação do anúncio falso. A rica história do Vapor Benjamim Guimarães.
O vapor Benjamim Guimarães foi construído em 1913, pelo estaleiro norte-americano James Rees & Sons, e navegou inicialmente no Rio Mississipi. Na sequência, veio para o Brasil, onde, por alguns anos, percorreu o Rio Amazonas, sendo transferido para o Rio São Francisco a partir de 1920.
Na segunda metade da década de 1920, a firma Júlio Guimarães adquiriu a embarcação e a montou no porto de Pirapora, recebendo o nome de “Benjamim Guimarães”, uma homenagem ao patriarca da família proprietária da firma. A partir de então, o vapor passou a realizar contínuas viagens ao longo do Rio São Francisco e em alguns dos seus afluentes.
O Benjamim Guimarães foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG) em 1985. A embarcação é carregada de muitas histórias de aventuras, desafios e até mesmo lendas urbanas ao seu redor. Os relatos de suas viagens muitas vezes incluem encontros com a natureza exuberante do Brasil, como as tempestades repentinas que podiam ameaçar sua navegação ou os encontros com a fauna local.
Uma das histórias curiosas do Benjamim Guimarães refere-se ao dia em que a embarcação foi atacada pelo bando de Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), o Lampião. Dizem que o grupo do cangaceiro planejou saquear a carga do vapor, atirando contra o barco. Mas o comandante conduziu o vapor para a margem oposta, longe do alcance dos disparos.
Durante décadas, o vapor foi um importante meio de transporte para mercadorias e passageiros, conectando comunidades ribeirinhas e promovendo o comércio e a troca cultural. A cada viagem, entre Pirapora e Juazeiro (BA), trecho de 700 quilômetros em que o Rio São Francisco é navegável, ele se tornava um elo entre o passado e o presente, transportando não apenas pessoas, mas também tradições e memórias.
Gaiolas-Os vapores circulavam pelo trecho navegável do Rio São Francisco, no trecho entre Pirapora e Juazeiro (BA). A navegação das antigas embarcações se intensificou entre as décadas de 1930 e 1950, rompendo as dificuldades com a falta de estradas. E o Benjamim Guimarães era um deles.
Os barcos movidos a vapor, também conhecidos como gaiolas, transportavam mercadorias como farinha, arroz, feijão e outros cereais. Também eram muito aproveitados para o transporte de passageiros, com cada um levando entre 100 e 200 pessoas. As gaiolas também eram usadas por romeiros que saíam do Norte de Minas e viajavam até o Santuário de Bom Jesus da Lapa (BA), às margens do Rio São Francisco, para cumprir promessas.
© Copyright RedeGN. 2009 - 2025. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.