Manifestações, debates, seminário, exibição de filme e apresentação artística são algumas das atividades que compõem uma extensa agenda em curso desde o início da semana. Os eventos marcam os seis anos do rompimento da barragem da mineradora Vale. O episódio vem sendo lembrado com uma programação que não se restringe a Brumadinho (MG), epicentro da tragédia. Por meio do esforço de diferentes entidades, também foram organizadas atividades em Belo Horizonte, Ouro Preto e São Paulo.
O rompimento da barragem ocorrido há exatos seis anos liberou uma avalanche de rejeitos que gerou grandes impactos ambientais e socioeconômicos que afetaram milhares de pessoas em diferentes municípios mineiros da bacia do Rio Paraopeba. Naquele 25 de janeiro de 2019, foram perdidas 272 vidas, incluindo dois bebês de mulheres que estavam grávidas. Até hoje, nenhuma pessoa foi responsabilizada em âmbito criminal, o que eleva o clamor por justiça na série de atividades programadas pelos atingidos.
"A gente precisa com muito afinco lutar para que de fato possamos ter um futuro para os nossos filhos, para as novas gerações. Infelizmente eu não tenho mais filhos e não vou ter netos, mas eu acho que tenho obrigação de lutar por isso, para que esse planeta seja viável e para que o Brasil seja viável", diz a presidente do Instituto Camila e Luiz Taliberti (ICLT), Helena Taliberti.
Com sede em São Paulo, a entidade foi criada em homenagem aos dois filhos de Helena, que morreram respectivamente aos 33 e aos 31 anos de idade. Ambos estavam hospedados na Pousada Nova Estância, que foi engolida pelos rejeitos.
Não foram as únicas vítimas da família. Aos 30 anos, Fernanda Damian, mulher de Luiz Taliberti, também teve sua vida interrompida. Ela estava grávida há cinco meses do primeiro neto de Helena. Estava presente ainda o ex-marido de Helena, pai de Camila e Luiz. Ele acompanhava a viagem junto com sua esposa. Era para ser um dia feliz: o grupo estava na cidade mineira a turismo, para conhecer o Instituto Inhotim, considerado o maior centro de arte ao ar livre da América Latina.
"Não foi uma morte normal e, por isso, não é um luto normal. É um luto muito dolorido, porque a gente sabe que podia ter sido evitado. O rompimento da barragem não teria acontecido se a ética empresarial tivesse sido obedecida", diz Helena.
De acordo com Helena o que lhe dá forças para continuar na luta por justiça é a união das vítimas, o que possibilita "viver o luto junto". Ela destaca também os apoios que recebeu desde o primeiro momento e que recebe ainda hoje. "A solidariedade é uma das características do caráter humano que eu mais admiro. As pessoas se mobilizam por amor. E é um amor a um próximo que você não conhece. Eu recebo mensagens até hoje de pessoas me dando apoio, me dando força, dizendo que pensam em nós".
A house is seen in an area next to a dam owned by Brazilian miner Vale SA that burst, in Brumadinho, Brazil January 25, 2019. REUTERS/Washington Alves
Rompimento de barragem em Brumadinho ocorreu há exatos seis anos - Reuters/Washington Alves/Direitos Reservados
Segundo Helena, essas mensagens ajudam a atravessar os momentos mais difíceis. "Para você ter uma ideia eu estou com pneumonia. Todo ano nesta época eu tenho alguma coisa assim. Meu corpo não não aguenta."
Helena explica que, apesar de estar sediado em São Paulo, o Instituto Camila e Luiz Taliberti possui uma forte união com a Associação dos Familiares das Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem em Brumadinho (Avabrum), que tem um papel de destaque na mobilização por justiça.
Criada também em 2019 por mães e pais, viúvas e viúvos, irmãs e irmãos, filhos e filhas de pessoas que morreram na tragédia, a entidade organiza anualmente em janeiro uma semana de eventos. O cronograma que se iniciou no último domingo (19) incluiu carreata, passeio de bicicleta e um seminário de debates.
Um ato nas ruas do centro de Brumadinho a partir das 11h deste sábado (25) fecha a agenda. A mobilização será reforçada com a presença dos integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), organização que luta contra os impactos causados pela atividade minerária em todo o país e que também também construiu uma programação para marcar a data da tragédia: ao longo dessa sexta-feira (24), uma assembleia, um debate e uma marcha para cobrar por justiça foram realizados em Belo Horizonte.
No ato em Brumadinho, os familiares farão coro à luta contra a impunidade e prestarão homenagens aos entes queridos, os quais são chamados de joia. Trata-se de uma resposta ao ex-presidente da Vale Fábio Schvartsman, que na época da tragédia avaliou que a empresa era um "joia brasileira" que não poderia ser condenada.
Além de apoiar as mobilizações da Avabrum, o Instituto Camila e Luiz Taliberti também possui sua agenda própria. A criação da entidade foi uma ideia que nasceu nos meses seguintes à tragédia, a partir da indignação de amigos dos dois irmãos. A proposta foi abraçada por Helena Taliberti, que preside a entidade. Desde então, vem desenvolvendo uma série de atividades em torno dos seus objetivos: de defender os direitos humanos, empoderando grupos de mulheres e engajados com a preservação do meio ambiente, e cobrar respostas para a tragédia de Brumadinho e outros crimes ambientais.
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