Ler é sempre uma ótima ideia. Principalmente quando se chega ao final do ano e é necessário descanso — e um pouco de tranquilidade — para se preparar para o novo ano que se aproxima. Veja abaixo seis sugestões de livros das mais variadas nuances, com temas que certamente chamarão a atenção do leitor.
1-Não é só sorte-O ano de 1994 foi de fortes emoções no esporte brasileiro – para o bem e para o mal. Em maio, morreu Ayrton Senna. Em julho, a seleção se sagrou tetracampeã de futebol nos Estados Unidos. E um mês antes, a “pátria de chuteiras” virou o “país do basquete”. No dia 12 de junho, o Brasil conquistava o inédito título de campeão mundial de basquete feminino na Austrália, com um time em que pontificavam a “rainha” Hortência , “magic” Paula – e o técnico Miguel Angelo da Luz.
E é sobre ele que trata esse volume, um profissional que saiu do anonimato na condição de um desconhecido professor de Educação Física para ser eleito o melhor técnico de basquete feminino do mundo. A biografia escrita por Luciano Maluly – professor da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) – e pelo jornalista Marcelo Cardoso revela detalhes da campanha vitoriosa de um time que dois anos depois ganharia a medalha de prata nas Olimpíadas de Atlanta, além de mostrar como Miguel Angelo soube aliar a sorte de conviver com atletas talentosas à competência de aproveitar um momento único para criar um grupo forte, determinado e vencedor.
2-Histórias do meu avô-Ana Lucia Duarte Lanna. Edusp, 184 p.
Você conhece Mario Pace? Ele nasceu na Itália, era – segundo afirmam na família – alto, bonito, metódico. Foi relojoeiro, lutou na Primeira Guerra Mundial e vivenciou os altos e baixos da vida. Mario Pace era avô da professora e historiadora Ana Lanna, atual pró-reitora de Inclusão e Pertencimento da USP, e é o foco desse seu novo livro. Nele, a autora toma para si o desafio intelectual – e também subjetivo – de transformá-lo em personagem, num “misto de pudor e preservação de afetos”, como aponta Heloisa Ponte na orelha do volume.
“O resultado”, continua Heloisa, “é este ensaio pulsante que enreda a história do avô ao país que o acolheu e à cidade onde formou família”. A cidade em questão é Belo Horizonte, que misturava modernismo com passado, uma nova terra escolhida, onde ele vivenciou a perseguição que os italianos sofreram durante a Segunda Guerra Mundial – sua relojoaria chegou a ser destruída. São narrativas saborosas e tocantes, vívidas e ilustrativas, que misturam história com vivência pessoal, tornando esse volume interessante e instigante pelos mais variados prismas.
3-Aqui vive um amigo dos livros – 100 anos da Biblioteca-Oliveira Lima, de Ricardo Souza Carvalho. Edusp, 280 p.
O historiador e diplomata pernambucano Manuel de Oliveira Lima (1867-1928) talvez seja pouco conhecido na história oficial do Brasil, mas na história do livro e da bibliofilia ele tem um lugar de honra garantido – mesmo que a biblioteca que amealhou ao longo da vida não esteja em terras brasileiras, mas na Universidade Católica da América, em Washington.
A colossal coleção de livros, manuscritos, documentos e obras de arte que Oliveira Lima doou à universidade americana – e que muito justamente leva o seu nome – é algo que merece ser conhecida e ter sua história contada. E é isso que Ricardo Souza de Carvalho, professor de literatura brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP) faz nesse Aqui vive um amigo dos livros, ressaltando a inabalável fidelidade de Oliveira Lima e de Flora, sua mulher e companheira na epopeia livresca, aos livros.
“Eles não apenas se dedicaram à construção de uma biblioteca, como também estabeleceram um núcleo sólido para a propagação da cultura ibero-americana”, ressalta na quarta capa do volume Duilia de Mello, vice-reitora de estratégias globais da Universidade Católica da América e diretora executiva da Biblioteca Oliveira Lima.
4--Heleny Guariba – Destinos cruzados- Org. José Armando Pereira da Silva. Com-Arte, 304 p.
Este livro reúne uma coletânea de documentos e testemunhos reunidos por José Armando Pereira sobre a paulista de Bebedouro Heleny Guariba, presa e torturada pela ditadura militar em finais dos anos 1960 e cujo corpo nunca foi encontrado. Heleny nasceu em 17 de março de 1941, formou-se em Filosofia e Teatro na USP em 1964, viveu na França, voltou – e mergulhou de cabeça no turbilhão de desmandos e repressão no qual o Brasil havia se transformado a partir de 1968. “Heleny Guariba não era uma pessoa dividida; era uma pessoa inteira; fazia o que pensava e pensava o que fazia”, afirma a atriz Dulce Muniz, em um dos depoimentos constantes no livro em homenagem a Heleny.
5-Os judeus – A luta de um povo para se tornar uma Nação-Jaime Pinsky. Ed. Contexto, 256 p.
A história do povo judeu, sua própria sobrevivência e a manutenção de sua identidade não é algo simples de se explicar, principalmente se levarmos em conta o longo histórico de preconceitos, perseguições, segregação e massacres, por exemplo, a que este povo foi submetido. A história fica ainda mais desafiadora quando entendemos o que o povo judeu precisou fazer para formar uma nação, com estrutura jurídica, lingua e cultura próprias. É sobre todos esses temas que trata este novo livro do editor, professor e historiador Jaime Pinsky, doutor e livre-docente da USP e professor titular da Unicamp. O volume explica como se formou o estado nacional judeu, como isso aconteceu, sempre a partir de uma minuciosa pesquisa documental e de uma análise de textos produzidos em diferentes épocas e situações sociais. “A contribuição de Pinsky, gostosa de ler e fácil de entender, é uma obra histórica no melhor sentido da expressão”, escreveu o professor Paul Singer no prefácio desta edição.
6-Um pequeno engano e outras histórias-Nikolai Leskov. Trad. Noé Oliveira Policarpo Polli. Editora 34, 336 p.
Considerado um dos grandes mestres russos da narrativa, ombreando com Dostoiévski – como asseverou Thomas Mann –, Nikolai Leskov (1831-1895) é bem pouco conhecido no Ocidente. Escritor independente em um tempo de divisões políticas e estéticas claras, ele foi incompreendido pela crítica de seu tempo, que não aceitou nada bem o alto nível de experimentalismo que ele empreendia em suas obras, algo nada usual diante da tradição de prosa realista do século 19.
Leskov criou uma linguagem literária rica e pitoresca, misturando expressões da língua arcaica e da fala popular, e é isso que o leitor vai encontrar nesta reunião de oito histórias traduzidas por Noé Oliveira Policarpo Polli, professor de língua e literatura russas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP), que também assina um alentado ensaio sobre a obra e a estética de Nikolai Leskov.
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