Artigo - Vale do São Francisco: De paraíso do sertão a palco da violência urbana.

18 de Dec / 2024 às 23h00 | Espaço do Leitor

Das capitais do sudeste para o interior nordestino, a “migração” da violência para municípios da região é diagnosticada e destacada por índices, pesquisas e noticiários, o aumento evidente e "repentino" da criminalidade já é sentido pela população e tornou-se parte da rotina dos munícipes.

O Vale do São Francisco, antes frequentemente destacado por sua economia pulsante, fruto da fruticultura irrigada e por sua qualidade de vida, agora vem sendo associado à criminalidade, impunidade e medo.

Digo isso não apenas pelos índices lamentáveis e reportagens, mas pelo abalo e comoção que pairam a cidade e seus habitantes. A tensão se instaura na região, e sua reputação é manchada pelo sangue.

Por vezes, associamos esses adjetivos ao Rio de Janeiro ou a São Paulo, com seus cenários de violência implacável e crimes que parecem não ter fim. No entanto, essa realidade, antes vista como distante, agora está cada vez mais próxima de nós.

Cidades de grande relevância na região, como Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), já vivenciam esse cotidiano fatídico e brutal. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Juazeiro ocupou a 7ª posição entre as cidades mais violentas do Brasil em 2023, enquanto a Bahia foi apontada como o estado mais violento pela quantidade de cidades baianas presentes no ranking.

Petrolina também não passa despercebida; apenas no primeiro semestre de 2024, foram registrados 92 homicídios na cidade, de acordo com a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco. Esse número representa um aumento de 11% em relação ao mesmo período de 2023, sendo o terceiro ano consecutivo com mais de 80 assassinatos no primeiro semestre.

O município sertanejo, que frequentemente se destaca pela qualidade de vida no Nordeste, liderou novamente o estudo realizado pela Macroplan em 2024, superando as capitais da região. No entanto, Petrolina agora exibe uma face dramática, chegando a registrar, em outubro do mesmo ano, cerca de sete homicídios em uma única semana — uma média aproximada de um por dia. Isso sem contar a vizinha Juazeiro da Bahia, ao somarmos ambas, o número se torna ainda mais assustador e alarmante.

 A principal pergunta que se faz é: qual a justificativa para esse aumento exagerado e repentino na violência da região?

Podemos apontar algumas razões, como o aumento da criminalidade local, a ampla divulgação desses incidentes, a falta de investimentos em segurança pública e, naturalmente, o crescimento da região. Dessa forma, fica evidente que essa elevação nos índices não é realmente "repentina", mas sim um reflexo da combinação dos fatores mencionados.

A violência não migra, apenas se torna mais visível, pois até então não se tinha a real dimensão da gravidade.

Outro fator essencial é o crescimento de ambas as cidades, que contribui significativamente para essa escalada.

Segundo o último censo do IBGE, realizado em 2022, Petrolina tornou-se a terceira maior cidade de Pernambuco, e Juazeiro, a quinta maior da Bahia; com o aumento populacional, as problemáticas crescem na mesma proporção.

De acordo com a polícia dos municípios, a escalada da violência na região é atribuída em grande parte às disputas entre facções criminosas e ao tráfico de drogas, uma situação comum em várias cidades do país, mas que aqui se agrava pela quantidade e porte dos grupos, além da intensa comercialização, circulação e consumo de entorpecentes.

A última grande operação realizada pela Rede PEBA (Pernambuco-Bahia), conduzida pelas forças de segurança, ocorreu recentemente, em julho de 2024. A ação conjunta resultou na prisão de 110 pessoas na região, além da apreensão de armas, celulares e cinco quilos de cocaína.

A operação, deflagrada em três dias, reduziu temporariamente o ciclo de violência que vinha em evidência na época. No entanto, para manter a ordem e o controle, a segurança pública deve ser uma peça-chave nas discussões do poder legislativo e dos chefes de estado, tanto em nível municipal, estadual quanto federal.

Esse é um tema que afeta a sociedade em efeito cascata, com impactos severos e irreversíveis. Somente com ações afirmativas no âmbito da segurança pública, como o investimento no patrulhamento e reforço nas ações ostensivas,poderemos traçar um caminho para mitigar a violência, resguardando a paz e segurança para todos os cidadãos.

Gabriel Santiago é estudante do terceiro período do curso de Jornalismo em Multimeios da Uneb campus Juazeiro - BA

© Copyright RedeGN. 2009 - 2024. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.