"Inacreditável. Estamos vivendo na avenida Cristalina no meio da merda... Juazeiro está em quase todos os bairros com esgoto correndo a céu aberto em vários bairros. Pagamos caro as contas de agua e esgoto para não termos sequer o mínimo de dignidade. Os mais pobres estão sofrendo. Socorro autoridades".
Esses são alguns das centenas de comentários sobre a situação dos moradores de Juazeiro que estão vivendo em suas portas e calçadas com "esgotos correndo a céu aberto". O problema dos esgotos estourados não se resume as inúmeras denúncias dos meses de novembro e dezembro. Em janeiro de 2024, a REDEGN denunciava através de reportagem que Moradores reclamam de fezes, canal de esgoto a céu aberto no bairro Jardim Vitória.
A REDEGN solicitou nota ao SAAE-Serviço de água e Saneamento Ambiental de Juazeiro, Bahia, sobre a situação considerada um caos pelos moradores. Confira vídeo abaixo.
Uma das fontes ouvidas pela REDEGN afirma que "para aumentar o caos, as ações de resposta ficam comprometidas em um cipoal de legislação e de órgãos públicos que deveriam atuar de forma integrada e em cooperação, mas responsabilidades excessivamente compartilhadas podem acabar vazias e os problemas sem soluções".
O SAAE afirma que segue ampliando os esforços para minimizar os transtornos e reforça que mantém o canal de atendimento pelo telefone (74) 3614-9800, para registro de ocorrências e orientações ou comparecer ao balcão do SAAE Comercial, localizado à Rua Barão de Cotegipe, n° 1, em frente à Praça Cel. Aprígio Duarte Filho (Praça do Jacaré), no centro da cidade.
NOTA COMPESA: A Compesa informa que ainda não opera a rede coletora de esgoto do Dom Avelar e do Loteamento Nossa Senhora de Fátima. Sobre os bairros atendidos pela Compesa, a orientação, em caso de obstruções na rede coletora de esgoto, é que os moradores acionem a companhia através dos canais oficiais: 0800 081 0195, pelo site, aplicativo ou presencialmente nas lojas de atendimento ao cliente, na Rua Castro Alves no Centro ou no Expresso Cidadão no River Shopping.
A falta de saneamento também atinge os bairros mais afastados do centro, em Petrolina.
Todas as localidades do país têm como meta atender 90% da população com coleta e tratamento de esgoto até 2033, de acordo com o Marco Legal do Saneamento. No entanto, oferecer à população atendimento de qualidade ainda é um dos grandes desafios a serem superados pelo Brasil. Entre as cidades brasileiras mais populosas, o indicador médio de tratamento de esgoto é de 65,55% — de acordo dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SNIS), ano-base 2022.
Os dados estão presentes no Ranking do Saneamento 2024, produzido pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a GO Associados. Ele mostra que existe defasagem nesse indicador com apenas 32 municípios — com 40% ou menos de tratamento do seu esgoto.
Para Guillermo Glassman, advogado, professor, pesquisador em Pós-doutorado da USP e sócio de SPLAW, infelizmente ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Ele reclama da ausência do poder público, ao apontar os problemas da falta de tratamento de esgoto no Brasil.
"É a contaminação de solos pelo deslocamento dessas águas de regiões de tratamento adequado de lixo para outras regiões numa posição menos elevada naturalmente. Então essas são as duas principais consequências, contaminação de águas, das águas inclusive que serviriam para abastecimento da população e a contaminação de solos", observa.
Segundo o levantamento, seis municípios apresentaram valor máximo (100%) de tratamento de esgoto e outros 23 tiveram valores superiores a 80%. A pesquisa pontua nota máxima somente àqueles municípios que também alcançam a universalização em termos de atendimento (coleta), conforme as metas do Marco Legal do Saneamento Básico.
O despejo irregular de esgoto tem implicações severas à saúde da população, propiciando a incidência de internações e óbitos por doenças associadas à falta de saneamento. Para mudar esse cenário, todas as localidades brasileiras devem estruturar planos e ações voltadas para a melhoria da infraestrutura básica, avalia o médico Hemerson Luz.
"Obras para a limpeza de áreas com atividades humanas, o manejo de resíduos sólidos, o tratamento das águas e a destinação do lixo devem ser prioridade. Atividades estas que os governos locais devem levar até a população”, aponta o médico.
© Copyright RedeGN. 2009 - 2024. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.