Artigo: O teatro do invisível

03 de Dec / 2024 às 23h00 | Variadas

O teatro em Juazeiro é um símbolo de resistência cultural e de valorização da identidade local, enraizado, segundo registro de historiadores, em nossa cidade desde o século XIX.

Com a inauguração do Centro de Cultura João Gilberto, em 1986, essa arte ganhou um espaço de destaque  e referência na cultura local.

O teatro juazeirense dialoga com as questões sociais contemporâneas, sem abrir mão de preservar as tradições do sertão, mais do que uma expressão artística, o teatro juazeirense é uma ferramenta de transformação, capaz de conectar histórias, provocar reflexões e fortalecer os laços comunitários.

Um espetáculo teatral movimenta uma rica cadeia produtiva cultural, conectando diversas profissões e serviços que vão além do palco. Tudo começa com a costureira que, com criatividade e precisão, confecciona os figurinos que dão vida aos personagens. O cenógrafo e o iluminador trabalham em conjunto para criar o ambiente e a atmosfera do espetáculo. Nos bastidores, técnicos e assistentes garantem que som, luz e cenários funcionem perfeitamente. Já o pessoal da bilheteira, seguranças e equipe de limpeza asseguram que o público tenha uma experiência acolhedora e segura.

Na porta do teatro, vendedores de pipoca e outros ambulantes aproveitam o movimento, gerando renda e complementando o evento com sabores e cheiros que fazem parte da memória cultural do público. Cada uma dessas funções é essencial, formando um ecossistema que transforma o teatro em um motor de desenvolvimento econômico e social. O teatro em Juazeiro, portanto, é mais do que uma expressão artística: é uma ponte entre o passado e o futuro, um espaço de construção identitária e de transformação social que reafirma, a cada novo espetáculo, sua relevância no território do Vale do São Francisco.

No entanto, a descontinuidade das poucas políticas públicas de cultura têm fragilizado o teatro juazeirense. A ausência de incentivos e o abandono de iniciativas como o Festival de Teatro Wellington Monteclaro são exemplos desse descaso. Criado para valorizar as produções locais e promover o intercâmbio cultural, o festival foi relegado ao esquecimento, mesmo com sua realização garantida por lei municipal.

Wellington Monteclaro foi um pilar do teatro juazeirense. Como ator, diretor e educador, ele dedicou sua vida a formar artistas e fortalecer a cena cultural da cidade. O festival que leva seu nome é mais do que uma homenagem: é um chamado para resgatar o teatro como um espaço de resistência e transformação. Nesse sentido, sua retomada é essencial para dar visibilidade aos artistas locais, fomentar o turismo e impulsionar a economia criativa, ao mesmo tempo em que reforça o papel do teatro como ferramenta de diálogo e conscientização social.

Reacender o Festival Wellington Monteclaro é devolver a Juazeiro um espaço de encontro, reflexão e celebração. É reafirmar o poder do teatro de transformar vidas — seja nos palcos, nos bastidores ou na plateia. O teatro em Juazeiro é a alma da resistência cultural, e sua chama precisa ser reacendida para brilhar mais uma vez, iluminando o caminho para um futuro onde a tradição e o senso de pertencimento prevaleçam de fato na memória da nossa tão sofrida cidade.

João Gilberto Guimarães, é cientista social formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, pesquisador das políticas públicas de cultura, poeta, editor e fundador da editora CLAE , também escreve para o teatro, em parceria com o ator Elder Ferrari ganhou em 2020, o prêmio Respirarte da Fundação nacional das artes (FUNARTE), com o espetáculo Quebranto.

Texto Joao Gilberto Foto: Raphael Leal

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