Conheci Arthur Moreira Lima, em 1977 quando regressara ao Brasil depois de longos anos de estudo na França , Rússia e Áustria e já era consagrado concertista internacional e um dos maiores intérpretes de Chopin. Naquela época, o Rio de Janeiro vivia a euforia da revitalização do chorinho, cujo êxito muito se deve a Paulinho da Viola, com o seu antológico disco "Memórias Chorando", de 1976 e ao Projeto Seis e Meia, no Teatro João Caetano, quando também conheci um grupo de adolescentes com o nome de "Os Carioquinhas", onde dentre outros, despontavam brilhantes os irmãos Raphael e Luciana Rabello e o amigo Maurício Carrilho.
O boteco Suvaco de Cobra, na Penha Circular, imortalizado no "Chorinho do Suvaco de Cobra" composto pelo lendário clarinetista Abel Ferreira, era a catedral da recém descoberta "alma" carioca. Foi ali, onde eu era privilegiado frequentador, que conheci Arthur, ávido por música popular brasileira, na companhia do amigo Oderfla Almeida, boêmio, percussionista e jornalista do prestigiado Jornal do Brasil, cariocamente chamado JB.
Foi na casa de Oderfla, que apresentei a Arthur o arranjo sinfônico de Carinhoso escrito por Pixinguinha em 1938, para o aniversário da Rádio Mayrink Veiga, e que contou com a luxuosa participação no sax tenor e na regência, do próprio São Pixinguinha. Arthur foi às lágrimas e a partir daquele dia nasceu uma grande amizade entre nós, regada pelos chopes nos memoráveis sábados chorosos do Suvaco de Cobra.
Não muitos sabem da imensa admiração que Arthur dispensava aos músicos, irmãos gêmeos, Valdir e Válter, também figuras de primeira grandeza naquele boteco. Válter é, ainda hoje com 84 anos, um dos mais brilhantes violão 07 cordas na constelação dos grandes violonistas brasileiros. Os irmãos Valdir e Válter, negros e gêmeos, viraram saudação entre Arthur e eu, pois sempre que nos encontrávamos, ele primeiro perguntava:
Você ja conheceu outros negros gêmeos? E enterro de anão? Então abria um iluminado sorriso e rasgava elogios aos musicos irmãos. O seu tio-avô Lourenço Moreira Lima, era outro de quem Arthur muito se orgulhava, por ter sido membro-Secretário da Coluna Prestes.
Recebo com profunda tristeza a notícia da sua partida, mas sou agradecido e feliz com os momentos vividos, as boas lembranças que sobreviverão em mim e por saber que ele será imortal entre os amantes da boa música em todo o mundo. Eu, com certeza, chorarei de saudosa felicidade sempre que ouvi-lo interpretar Chopin, Ernesto Nazareth, ConSertão (com Elomar, Heraldo do Monte e Paulo Moura) e a raríssima gravação da obra de Noel Rosa onde o seu piano deu vida e sonoridade à genialidade sinfônica do colossal Radamés Gnatalli.
Arthur Moreira Lima, presente!
Omar Babá Torres
30.10.24, dia da estréia de Arthur Moreira Lima no palco de cima.
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