Um relatório publicado pela Oxfam – maior referência internacional no combate às crises globais e à pobreza – traz, segundo a professora Marília Fiorillo, dados assustadores, que narra a seguir: “Hoje ocorrem até 21 mil mortes diárias – diárias, repetimos – como resultado deste crime de guerra (referindo-se à fome). É um recorde. Trata-se, sim, de uma fome fabricada, usada como arma de guerra por Estados, países e grupos para exterminar seus adversários e impedir ajuda humanitária”.
O relatório, intitulado Food Wars, examinou 54 países em conflito e revela que correspondem por quase 300 milhões de pessoas que enfrentam fome aguda atualmente, condição agravada pelo deslocamento forçado nesses países. “O uso intencional do cerco da fome, como o estupro, não é um efeito colateral dos conflitos, mas um crime em si, já denunciado em inúmeros tribunais internacionais”, diz ela. Em setembro, outras três agências humanitárias já alertavam para essa tática. As denúncias envolvem principalmente o Sudão, em guerra civil, e Gaza, onde os níveis de insegurança alimentar, por bloqueios do governo israelense, foram os mais graves de todo o mundo desde o final do ano passado.
“Como disse Emily Farr, da Oxfam, ‘a fome tornou-se uma arma letal, a despeito de toda legislação internacional’. Um cenário devastador, cuja crueldade supera o morticínio por mísseis e bombas. E, pior, o uso dessa mais antiga arma de guerra terá efeitos que persistirão por gerações, uma espécie de limpeza étnica lenta e sorrateira.”
Marilia Fiorillo-Professora de Filosofia Política e Retórica da Escola de Comunicações e Artes da USP. (Texto publicado no Jornal da Usp)
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