Uma das explicações para tantos incêndios em biomas diferentes está no desmatamento. Talvez esteja na hora de você atualizar a forma como encara o período que estamos vivendo na Terra.
“Nós da ciência, a gente já fala que a gente está no piroceno. Isso quer dizer: a época do fogo. E não é só no Brasil, não é só na Amazônia. A gente tem uma maior frequência, maior intensidade de incêndios ocorrendo no mundo todo”, afirma Erika Berenguer, pesquisadora da Universidade de Oxford.
No Brasil, nada parece mais surpreendente nessa nova época do que ver a antes úmida, cheia de água, exuberantemente verde Amazônia queimando como está agora. Nas últimas décadas, sempre vimos as queimadas na Amazônia acontecendo na seguinte sequência: uma área era desmatada, a vegetação secava, e alguém colocava fogo para limpar. Quanto mais áreas desmatadas, mais fogo.
Agora, estamos vendo um novo fenômeno. O desmatamento vem diminuindo na floresta, mas os focos de incêndio estão aumentando.
“Atualmente, com quase 20% da Amazônia já desmatada com uso para criação de gado e agricultura - principalmente essas áreas de pastagem -, utiliza-se o fogo. Então, temos agora fontes de ignição que são relacionadas ao desmatamento diretamente, mas temos também fontes de ignição que são relacionadas ao manejo dessas áreas que já estão abertas e consolidadas”, diz Luiz Aragão, pesquisador do Inpe.
Mas o fogo como ferramenta de manejo nem é novidade na Amazônia. Os indígenas já usam há séculos para, por exemplo, limpar uma área para plantar mandioca. Mas o fogo não conseguia escapar da roça porque era cercado por uma parede verde muito úmida.
Mas a Amazônia não é mais a mesma. O arco do desmatamento vem avançando, criando diversas cicatrizes na floresta, manchas. Toda a área de borda vai ficando degradada, mais vulnerável. E a gente acrescenta a isso o calor acima da média e a seca brutal dos últimos anos. O resultado é uma floresta diferente: uma paisagem inflamável.
“Nós temos mudança climática, temos o homem colocando fogo para o desmatamento e manejo da terra e temos - além desses dois fatores - uma paisagem totalmente fragmentada que é muito permeável à entrada do fogo”, afirma Luiz Aragão, pesquisador do Inpe.
“E como que a gente lida com essa época completamente diferente que é essa época do fogo? Esse piroceno? Bom, a primeira coisa é focar na prevenção. E isso é essencial. A gente não pode pensar no fogo só quando a gente está pensando no combate. Porque quando a gente está combatendo, infelizmente, a gente já perdeu essa guerra”, diz Erika Berenguer, pesquisadora de Oxford.
E prevenir é tão importante porque, no caso da Amazônia, recuperar totalmente é algo que a gente nem sabe quanto tempo pode levar.
“A gente não tem estudos longos o suficiente na Amazônia para saber quanto tempo demora para as florestas se recuperarem. O que a gente sabe é que, quando a gente compara áreas que já queimaram com florestas que nunca queimaram, a gente vê que mesmo 30 anos depois do incêndio, essas áreas ainda armazenam 25% a menos de carbono. E isso não é tão surpreendente quando a gente sabe que as árvores da Amazônia demoram muito para crescer. Metade das árvores mais ou menos desse tamanho tem 400 anos. Então, a floresta, por mais que se recupere, não vai se recuperar no tempo que é relevante para a vida humana na Terra”, afirma Erika
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