Em uma noite da semana, em um restaurante da nossa cidade, um grupo de casais celebrava uma data especial. Em uma mesa ao lado estavam seus filhos. Eram crianças lindas entre 3 e 10 anos de idade, que, por um breve momento, encheram o ambiente de encanto. Sem dúvida, a mesa mais bonita do local. No entanto, assim que se sentaram, de forma quase que orquestrada, as crianças pegaram seus celulares e telas e começaram a navegar em mundos virtuais (será que o conteúdo era próprio para idade?). A conexão entre elas era exclusivamente com os dispositivos; conversas, brincadeiras, descobertas infantis estavam fora de questão.
O que se via ali eram crianças estáticas, sendo assim bem comportadas e silenciadas. O único brilho na mesa era o das telas. Não sei se tiveram a chance de escolher seus pratos, pois quando a comida chegou, seus olhares permaneceram fixos nas telas e a alimentação aconteceu de forma mecânica. Talvez estivessem apenas saciando a fome, pois pelo caminhar das horas para crianças em o período escolar, já era tarde.
Meu coração se encheu de angústia e tristeza ao perceber que um momento familiar, que poderia ser rico em trocas, afetos e histórias, foi desperdiçado. Infelizmente, essa é uma cena que se tornou frequente no cotidiano dos restaurantes. Observem…
Será que nós, adultos, os pais, estamos vendo mas não estamos conseguindo enxergar o que está acontecendo e o que acontecerá com essa geração de nativos digitais? Será que uma cena como essa se tornou tão comum a ponto de sequer questionarmos ou alcançarmos as consequências disso?
Pesquisas já demonstram de forma científica que o uso excessivo de telas pode levar ao isolamento social e à alienação, prejudicando as interações face a face, fundamentais para o desenvolvimento emocional e social das crianças. Isso é novidade para alguém ou os pais, de fato, por seus motivos diversos, preferem ignorar a gravidade de tais informações?
Em vários países, especialmente nas nações mais desenvolvidas, onde os efeitos do uso excessivo de telas têm sido amplamente estudados, já existem diretrizes e recomendações para limitar esse uso. No entanto, mais que isso, precisam existir pais mais conscientes que entendam não só a importância de encontros familiares. Que enxerguem o brilho real, que está nos olhos da criança que sorri, que brinca, que cria, que se desenvolve, ainda que num restaurante, com sua família, celebrando ou não.
Então, cada vez mais vem a importância dos avós e das teias familiares, porque sozinha a escola não dará conta. Fica o apelo de mais atenção e menos telas. Porque a infância é sagrada, será o alicerce para a vida que será longa. E o futuro dessa geração começa a ser preocupante. (texto publicado originalmente no Diário de Pernambuco)
Christiana Figueiredo Cruz é Diretora Pedagógic. Graduada em Pedagogia (UFPE) e pós-graduada em Psicopedagogia (UNICAP) e em Modificabilidade Cognitiva Estrutural (PEI). Mestranda pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal) em Docência e Gestão.
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