O Ministério Público da Bahia (MP-BA) apontou que as 12 pessoas denunciadas por envolvimento no caso conhecido como "Golpe do Pix" formaram uma organização criminosa para desviar e lavar dinheiro que deveria ser repassado para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Os valores foram arrecadados através de entrevistas exibidas no programa "Balanço Geral Bahia", na emissora TV Record/Itapoan. As investigações apontam que cerca de R$ 410 mil deixaram de ser entregues aos que participaram das reportagens e seriam beneficiados.
A partir disso, o fato foi levado ao conhecimento da direção da emissora, que realizou procedimentos internos e identificou outros casos semelhantes. Conforme o MP, foi a própria TV Record/Itapoan que procurou a polícia, e então foi iniciada a apuração.
O g1 acessou a denúncia oferecida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Geaco) do MP-BA para a 9ª Vara Criminal da Comarca de Salvador . Os documentos trazem detalhes sobre a forma como o grupo agia.
Em uma decisão datada de 12 de agosto de 2024 e assinada pelo magistrado Eduardo Afonso Maia Caricchio, é apontado que as pessoas se juntaram para obter vantagem mediante a prática de infrações penais.
Foi através dos jornalistas Marcelo Castro e Jamerson Oliveira que o caso ganhou repercussão em maio de 2023 e ficou conhecido como "Golpe do Pix". O g1 entrou em contato com Marcus Rodrigues, advogado dos dois, mas não obteve retorno. Além disso, tenta localizar a defesa das outras pessoas.
Conforme o documento judicial, foi imputado aos integrantes do grupo "a prática dos crimes de apropriação indébita, lavagem de dinheiro e associação criminosa". Entretanto, a vara afirma que trata-se, "na verdade e a princípio, de uma organização criminosa".
A decisão destaca que a organização criminosa possui uma disposição mais hierárquica e organizada, enquanto a associação tem uma estrutura mais simples. Diante do exposto pelo MP-BA, a justiça considerou que o grupo formou uma organização, avaliada como estruturalmente complexa, muito ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas.
Por esses motivos, o juiz titular da 9ª Vara Criminal da Comarca de Salvador determinou a remessa dos autos para que a Vara dos Feitos Relativos a Delitos Praticados por Organização Criminosa da capital baiana siga com os procedimentos, tendo em vista que o caso necessita ser acompanhado por uma unidade especializada.
Os fatos só vieram à público após a apresentação do programa transmitido no dia 28 de fevereiro de 2023, quando foi exibida a situação de uma criança com grave problema de saúde, que precisava de ajuda.
Na oportunidade, houve uma doação realizada por um jogador de futebol aos familiares da vítima. Posteriormente, um assessor dele, que tinha conhecimento da ação, assistiu ao programa e constatou que a Chave Pix exibida na transmissão divergia da utilizada na doação feita pelo atleta. Ao simular uma transação, foi constatada divergência de titularidade das chaves.
"Ele descobriu que aquela chave PIX era de uma pessoa que desenvolvia a atividade de rifeiro. Como ele queria fazer essa doação, desconfiou e conseguiu o telefone da mãe da criança com câncer. Foi feito um acerto de que doação seria feita diretamente para ela, não para aquela chave'', contou, há alguns meses, o delegado Charles Leão, responsável pelas investigações.
De acordo com o Gaeco, as investigações realizadas pela Polícia Civil demonstram que além da situação que deu origem às investigações, outros 11 casos semelhantes foram identificados, seguindo exatamente o mesmo modo de ação do grupo criminoso.
Em todos os 12 fatos investigados e imputados na denúncia do MP, ocorreram participações "efetivas e estáveis" de Marcelo, Jamerson e Lucas. Os outros se alternaram na execução, inclusive de forma estratégica, para não apresentarem movimentação financeira volumosa nas contas bancárias e serem identificados por órgãos de controle. Alguns atuaram em um caso, enquanto outros, em dois ou mais.
Ainda segundo o Gaeco, o primeiro programa em que houve a apropriação indevida de parte dos valores doados às vítimas foi transmitido em 8 de setembro de 2022.
Durante todo o período da fraude, o grupo arrecadou mais de R$ 540 mil em doações, que deveriam ser totalmente repassadas às vítimas. Apesar disso, apenas 75% do valor foi repassado, o que equivale a aproximadamente 405 mil.
Em um dos casos exibidos no programa, por exemplo, foram arrecadados R$ 64.127,44. Desse valor, eles se apropriaram de R$ 57.591,26 e repassaram apenas R$ 6.536,18 às vítimas.
O MP requer seja fixado, no total, a quantia de R$ 607.143,78 a serem pagos pelos envolvidos, para reparação dos danos.
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