Após vinte anos, o Brasil e Alagoas voltam a discutir o silencioso e dramático processo de desertificação de suas terras. Agravado pelas mudanças climáticas e persistentes práticas predatórias, lideradas pelo desmatamento, áreas caracterizadas como semiáridas até então, caminham para se transformarem em desertos, com todas as consequências sócio ambientais decorrentes.
Os últimos dados sobre a cobertura vegetal do Estado apontam o percentual de 18%. Se nos fixarmos no bioma Caatinga, onde se concentra a semiaridez alagoana, esse número não ultrapassa 10%. Dessa forma, ao aplicar uma simulação básica, não está sendo respeitada, sequer a legislação florestal que obriga toda propriedade rural a preservar, no mínimo, 20% de sua área total florestada.
Costuma-se associar desertificação com desmatamento e outros fatores da ação humana, vinculados à agricultura que aceleram esse fenômeno climático natural, mas, indesejável, como a má conservação do solo e da água e as queimadas. Entretanto, um elemento fundamental deve ser, também, considerado: o uso inadequado dos agrotóxicos.
A vertiginosa migração da mão de obra rural para as cidades desencadeou uma escassez desse fator de produção que ameaça as atividades agropecuárias. A árdua tarefa de conter e manejar plantas concorrentes nas lavouras, outrora com ferramentas rudimentares e mesmo com o avanço da mecanização agrícola não diminuiu o predomínio dos herbicidas nestas práticas. Essa tecnologia além das vantagens econômicas inegáveis, carregou sérios problemas para a saúde ambiental dos agroecossistemas, bem como, para os fragmentos remanescentes dos ecossistemas naturais, também, contaminados pelos resíduos das pulverizações com agrotóxicos. De forma indiscriminada dizima a biodiversidade, provocando desequilíbrios ecológicos conhecidos. Relacionando-se, diretamente, com a desertificação, diminui a cobertura vegetal e a produção de biomassa que alimenta todo o processo de constante vitalização do solo agrícola, além de prejuízos para a sua microbiota.
Se a pulverização dos herbicidas pelos métodos manuais e mecânicos acarretavam riscos graves ao meio ambiente, intensificou-se, na atualidade, o uso da pulverização aérea de agrotóxicos, notadamente, da categoria dos herbicidas, com a disseminação dos drones para essa operação. Se antes o acompanhamento e fiscalização do aparato estatal para a aviação agrícola, com poucas aeronaves, falhava grotescamente, é absolutamente ausente no cenário de milhares de drones a despejar venenos nos ares.
No passado, o machado foi o símbolo do desmatamento, sucedido pela moderna motosserra. Atualmente, parecem instrumentos medievais frente ao poder ecocida dos ultramodernos aviões e drones. Até quando, a que preço ambiental, suportaremos esse descalabro humano?
Ricardo Ramalho-Engenheiro Agronomo, Ambientalista-ex Secretário do Meio Ambiente de Maceio-Alagoas
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