A Bahia manteve, em 2023, os maiores números de letalidade policial do Brasil. Foram 1.699 mortes por intervenção de agentes de segurança de um total de 6.393 registros — ou 1 a cada 4 casos notificados em todo o país.
Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgado nesta quinta-feira (18).
O g1 teve acesso ao estudo, que destaca o ranking das cidades onde a polícia mais matou. O município de Jequié, no sudoeste baiano, aparece na liderança da lista nacional: 46,6 mortes a cada 100 mil habitantes foram provocadas por policiais.
A Bahia tem ainda outras 4 cidades no TOP 10: Eunápolis, no extremo sul, na quarta posição (29 mortes a cada 100 mil/hab.), Simões Filho, na Região Metropolitana, em sétimo lugar (23,6), Salvador, em oitavo (18,9), e Luís Eduardo Magalhães, no oeste, em décimo (18,5).
Para Samira Bueno, diretora-executiva do fórum, a violência observada na Bahia é fruto de "disputas do crime organizado". São grupos que se aliam a facções como PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (Comando Vermelho) e travam batalhas por território.
"Quando a gente olha isso, essas disputas do narcotráfico geram muita violência, mas Amapá e Bahia, que são justamente os estados mais violentos nesse sentido, são estados em que você tem uma opção política da polícia de produzir violência para enfrentar o crime", avalia a especialista.
Nesse quesito, a Bahia só perde para o Amapá em números relativos. O estado nortista teve 173 mortes por intervenção policial, mas o número representa 23,6 óbitos a cada 100 mil habitantes. Na Bahia, foram 12 óbitos do tipo por 100 mil habitantes.
De modo geral, o estudo mostra que a letalidade policial cresceu 188,9% no país em 10 anos. Ao longo do tempo, o perfil das vítimas foi descrito como:
82,7% negros
71,7% com idades de 12 a 29 anos
99,3% do sexo masculino.
A conclusão é de que o risco relativo de um negro morrer por intervenção da polícia é 3,8 vezes maior.
O levantamento também mostra que o contexto violento atinge os próprios fardados. Foram 127 policiais assassinados no Brasil no último ano, 57% deles fora de serviço no momento do crime. Desse total, 9 foram mortos na Bahia.
Segunda maior cidade da BA registra média de 28 assassinatos por mês; chefes de facções foram transferidos para presídio de segurança máxima
Trata-se de um índice em queda, mas, por outro lado, cresceu 26,2% o número de policiais que tiraram a própria vida. O anuário contabilizou 118 em 2023, 4 deles da corporação baiana.
Considerando ambos os cenários, o perfil dos policiais vitimados é semelhante ao de suas vítimas:
69,7% negros
51,5% com idades de 35 a 49 anos
96% do sexo masculino
Mortes violentas-A Bahia se destaca mais uma vez quando se consideram as mortes violentas intencionais, o que inclui a soma de vítimas de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais dentro e fora de serviço.
No ano passado, foram 46.328 mil registros no país, uma redução de 3,4%. Desses, 6.578 foram na Bahia.
Em números absolutos, a liderança é isolada, mas o estado nordestino aparece com a segunda maior taxa por número de habitantes: 46,5. De novo, atrás apenas do Amapá (69,9).
Assim, a Bahia tinha seis das 10 cidades mais violentas do país em 2023. A primeira a aparecer no ranking foi Camaçari, com 92,9 mortes por 100 mil habitantes.
Na sequência estão:
Jequié, em terceiro lugar (84,4 mortes por 100 mil habitantes)
Simões Filho, em quinto (75,9)
Feira de Santana, em sexto (74,5)
Juazeiro, em sétimo (74,4)
Eunápolis, em décimo (70,4)
Jequié é considera a cidade mais violenta do Brasil
Celular na mira dos ladrões-Duas cidades baianas aparecem ainda na lista das cinco com maiores taxas de roubo e furto de celular. Em todo o país, foram 937.294 crimes do tipo, o equivalente a 107 aparelhos subtraídos por hora.
A SSP-BA informou que o estado apresentou redução de 13% nas mortes violentas no primeiro semestre de 2024 e que os meses de maio e junho deste ano foram os que tiveram os menores números comparados aos mesmo períodos desde 2012.
"Já nos últimos 18 meses, as ações de inteligência e repressão qualificada resultaram nas prisões de 27 mil criminosos, na localização de 88 líderes de facções, e nas apreensões de 9 mil armas de fogo, entre elas 95 fuzis", pontuou a secretaria.
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