Opinião: Fruticultura da Bahia: um campo de oportunidades - Por Herbert de Morais Café

26 de Jun / 2024 às 14h43 | Espaço do Leitor

A Bahia e o Brasil figuram na percepção popular pela excelência das frutas da terra. No estado baiano, vale relembrar que, desde a implantação do coco – fruto de origem asiática, aqui rebatizado e difundido como coco da Bahia –, passando pelo emblemático ciclo do Cacau, a economia, a cultura e a ocupação do solo sempre amadureceram ao sabor das frutas colhidas nas roças, pomares, sítios e fazendas de seu vasto território.

Potência atual na fruticultura, a Bahia se firma como um dos maiores produtores nacionais. Dados colocam o estado no segundo lugar geral na produção de frutas frescas, com mais de 5 milhões de toneladas colhidas. Isto, por si só, representa 10% do que o Brasil entrega, sendo que o estado se destaca em frutas como manga, maracujá, guaraná, cacau, coco, uva, entre outras. As regiões de Juazeiro, no Norte; Teixeira de Freitas, no Extremo-Sul; Bom Jesus da Lapa, no Oeste; Venceslau Guimarães, Taperoá e Ituberá, no Baixo-Sul; e Ilhéus, no Sul, são alguns dos polos que mais produzem frutas no estado.

Cabe analisar que o perfil variado da produção baiana é influenciado por um território tropical, marcado por diversidade de solos e de climas. Isto permite que o estado tenha encontrado excelência na produção de café e que desbrave culturas exóticas, como as frutas vermelhas (berries), colhidas em municípios como Morro do Chapéu e Ibicoara. Da região de Canudos, Curaçá e Uauá, o fruto do umbuzeiro projeta o estado como maior produtor nacional.

Quanto ao perfil das unidades produtivas, as pequenas propriedades rurais, a agricultura familiar e as redes cooperadas marcam decisivamente a fruticultura estadual. Essa força fruticultora deixa a Bahia também numa variação entre segundo e terceiro estado que mais exporta no país, superado apenas por Rio Grande do Norte e Pernambuco. No cômputo da comercialização baiana, esta alcançou, em 2023, a cifra de aproximadamente US$ 240 milhões, dos US$ 1,34 bilhão faturados pelo Brasil, e a comercialização externa de 188 mil toneladas.

Embora o cenário exportador nacional tenha evoluído nos últimos anos, especialmente no pós-pandemia com a busca por estilos de vida mais saudáveis por parte do mercado consumidor global, a situação do Brasil ainda descortina desafios. O país é o terceiro maior produtor mundial de frutas, atrás de China e Índia, contudo, figura somente na 24ª colocação em exportações.

Olhares intercontinentais

Detendo-se o olhar sobre a situação da América do Sul, o Chile, com um território 11 vezes menor que o do Brasil, rouba a cena entre os atores latino-americanos. Para efeitos comparativos, em 2023, o Chile atingiu a marca de 3 milhões de toneladas enviadas ao mercado externo, com um faturamento de US$ 6,85 bilhões, enquanto o Brasil, em 2023, alcançou 1,1 milhão de toneladas de frutas embarcadas e faturamento de US$ 1,34 milhão, segundo dados da Conab.

O modelo de fruticultura do Chile é marcado pelo associativismo e cooperativismo, porém, fortemente coordenado por empresas transnacionais. Estas controlam em larga escala a operação das exportações. Não obstante, o papel dos mecanismos de fomento estatais, como o ProChile, foram decisivos para a afirmação do país latino junto aos grandes centros globais.

Como visto, o perfil e estruturas produtivas chilenas são diversos daqueles encontrados no Brasil e na Bahia, mas assinalam o que pode ser enfrentado para superação dos gargalos que ainda atravancam a chegada das frutas locais a outros mercados. A Ásia, com a potência chinesa, além dos EUA, Oriente Médio, União Europeia e Reino Unido são compradores a serem desenvolvidos. Chama também a atenção o vácuo de exportações para o mercado latino-americano, embora haja desafios logísticos profundos nesta operacionalização.

Oportunidades face aos desafios

As barreiras fitossanitárias existem e são mecanismo de defesa das produções locais, afinal, frutas são agentes orgânicos e precisam atender a requisitos de segurança contra a disseminação de pragas e doenças. Estas exigências, no passado, poderiam ser um grande entrave à exportação brasileira e baiana, contudo, tem-se no país uma cultura agroexportadora sólida, lastreada por instituições que especializaram os produtores para atender a elevados padrões.

Por isso, cabe sempre ressaltar o papel fundamental de atores públicos e organizações representativas setoriais, a exemplo dos Governos Federal e Estadual, por meio dos seus ministérios, secretarias e organismos de apoio, como Embrapa, Codesvasf, APEX, BAHIAINVEST, entre outros; das instituições financeiras e da iniciativa privada organizada com a CNA/Sistema Faeb-Senar e o Sebrae. Estes são agentes que há muito atuam no melhoramento das lavouras, pesquisa, inovação e preparação dos produtores para a comercialização.

Criar uma orientação eficiente ao mercado exterior demanda ainda a adoção de políticas macroeconômicas que protejam a atividade de instabilidades políticas. Melhorar a promoção em feiras e eventos internacionais; enfrentar questões tributárias e burocráticas; modernizar a rede logística, vencendo deficiências de uma malha rodoviária insegura e operações engessadas em portos e aeroportos, são pontos básicos para a competitividade nacional.

Ao se debruçar sobre esta desafiadora realidade, a Bahia e o Brasil têm a oportunidade de reencontrar na fruticultura a chave para o desenvolvimento local de forma inovadora, com força competitiva para conquistar consumidores mundo a fora. O campo para a produção de frutas está aberto para ser semeado, trabalhado com técnica, inovação, transformação e verticalização até que se possa colher os frutos de um futuro mais próspero, saudável e sustentável para os brasileiros.

Herbert de Morais Café – Engº Agrônomo e Assessor da Superintendência do Sebrae/BA

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