Morador de Varzedo, no recôncavo baiano, o estudante Carlos Christian possui deficiência visual total. Aluno do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Nossa Senhora da Conceição, ele ganhou do Governo do Estado um par de óculos Orcam, dispositivo que usa a inteligência artificial para ajudar pessoas cegas a ler e realizar outras atividades.
Programador e desenvolvedor de aplicativos, Christian pretende fazer faculdade de robótica e, agora, já pode alternar a vivência virtual com a física.
"A gente consegue alcançar mundos que não alcançava antes. Por exemplo, antes eu só tinha o mundo digital, só conseguia ler livros digitais e, com óculos, a gente consegue ler livros físicos. Quando a gente vai a uma biblioteca, vai ao mercado e tem alguma dúvida de produto, eles ajudam fazendo reconhecimentos; quando a gente vai sair e precisar pôr algum dinheiro na carteira, eles também ajudam; quando a gente quer reconhecer alguma pessoa que está na nossa frente, eles identificam as pessoas; quando a gente faz eles aprenderem o nome da pessoa, eles falam pelo nome. Então são óculos bem relevantes", descreveu.
Christian é líder do colégio em que estuda e sempre se destacou pelo uso das tecnologias. Com o uso do Orcam, ele tem superado as expectativas de rendimento.
"Ele, realmente, está impossível. Está utilizando o Orcam para todas as atividades, se tornou ainda mais ativo. O desenvolvimento dele melhorou ainda mais, porque ele passou a utilizar todos os dias o aparelho. Vai à secretaria, passou a utilizar a biblioteca, que ele tinha dificuldade porque nem todos os nossos livros têm Braille. Passou a ter acesso melhor à sala de biologia e de informática, foi fantástico", contou o diretor do Colégio Estadual Nossa Senhora da Conceição, Adenor Simões.
O Governo do Estado, através da Secretaria de Educação (SEC), adquiriu 1398 óculos Orcam, em um investimento superior a R$ 3,6 milhões, para que todos os alunos matriculados na rede estadual, cadastrados com deficiência visual total ou baixa visão, sejam contemplados. Já foram entregues 252 unidades e a segunda remessa terá 300 equipamentos para incluir alunos dos 27 territórios de identidade baianos. O acessório consiste em um par de óculos utilizados como suporte para uma câmera inteligente, que captura uma imagem do ambiente e articula as informações visuais em voz alta e em tempo real.
O coordenador de educação especial da SEC, Alexandre Fontoura, explica que a entrega dos óculos é mais uma política de fortalecimento da educação inclusiva na Bahia. "A gente visa, com essas tecnologias assistivas, dar autonomia a esse sujeito, para que eles tenham condições de igualdade como qualquer outro aluno e a gente passe a não vê-lo mais como um aluno com deficiência apenas, mas como um aluno com possibilidades", afirmou.
Com a compra dos óculos Orcam, a SEC pretende contemplar a todos os matriculados na rede estadual com deficiência visual total. As primeiras entregas já apresentam resultados positivos, já que o aluno leva os óculos Orcam para casa e o usa em atividades fora da sala de aula. "É um óculos que dá autonomia ao sujeito de se desenvolver nos espaços onde ele não conseguiria e precisaria de alguém e do auxílio também de outras tecnologias que são assistivas, como a bengala, mas que não dá total autonomia", acrescentou Alexandre.
Outras experiências
Em Salvador, no Centro de Atendimento Educacional Especializado Alberto de Assis, no bairro da Ribeira, que atende a estudantes da rede privada e pública com deficiência visual, baixa visão e múltiplas deficiências, João Marcos, 17 anos, que se tornou deficiente visual total aos 12, sai da cidade de Araçás, no nordeste do estado, uma vez por semana, para aprender braile, entre outras atividades inclusivas. Ele também ganhou os óculos Orcam por ser aluno da rede estadual de ensino e está recebendo auxílio para aprender a utilizar o equipamento.
"Acho que vai facilitar muito na hora da leitura, porque não vai precisar que, por exemplo, ela (a auxiliar de classe) leia pra mim. Eu mesmo posso pegar o livro e posso ler", acredita o jovem. João e todos os estudantes recebem treinamento para aprender a usar o dispositivo, que deve ser programado para reconhecer objetos, imagens e até pessoas.
"O desenvolvimento é processual, depende de cada aluno, na questão emocional. Sempre trazemos uma tranquilidade nesse processo. Estamos lidando com tecnologias, tecnologias que estão agora em um 'boom'. Então, com calma, paciência, trazendo, também, a família, estamos iniciando essas estimulações, e a família vem estendendo para o lar, para a sociedade, para as escolas", contou Leonardo Assis, professor do Centro de Atendimento Educacional Especializado Alberto de Assis.
A lavradora Valmira Fernandes se emociona ao acompanhar o filho João Marcos no processo de aprendizagem e inclusão: "eu espero agradecer a Deus e eu quero que meu filho cresça cada dia mais. É importante".
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