No Brasil, enquanto as recicladoras de plásticos enfrentam cenários de ociosidade de até 40% de sua capacidade instalada, grande quantidade de embalagens e de produtos fabricados a partir desses materiais vai parar em aterros sanitários ou em lixões a céu aberto, além de ser também lançada diretamente nos corpos d’água.
Dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) indicam que a produção do setor, em 2022, alcançou 6,7 milhões de toneladas e que a reciclagem foi de 25,6% naquele ano.
Ainda que o percentual tenha avançado, nos últimos anos, uma série de deficiências contribui tanto para o descarte inadequado como para a falta de melhor aproveitamento de matéria prima reciclável nessa cadeia produtiva.
Uma ilustração da gravidade do problema é sinalizada por estimativas do relatório Um Oceano Livre de Plástico, da organização ambientalista Oceana Brasil. Segundo essa publicação, 325 mil toneladas de materiais plásticos são lançadas anualmente nas praias e no Oceano Atlântico, ameaçando a biodiversidade marinha e a própria saúde humana no país. Não por acaso, mais de 70 entidades e cientistas brasileiros assinaram um manifesto, dirigido à Casa Civil da Presidência da República e a vários ministérios, cobrando uma postura firme do governo brasileiro nas negociações que se desenrolaram de 23 a 29 de abril, em Ottawa, Canadá, onde representações diplomáticas e outros atores sociais estiveram discutindo as bases para o Tratado Global contra a Poluição Plástica, demanda internacional considerada urgente.
No Brasil, até mesmo o PET, um dos tipos de plásticos mais consumidos e reciclados no país, por isso mesmo o mais valorizado nessa cadeia produtiva, poderia ser muito melhor aproveitado como matéria-prima. O nível de ociosidade das empresas recicladoras desse material varia entre 30% e 40%. As fabricantes desse segmento de mercado no Brasil têm uma capacidade instalada para produzir anualmente 1 milhão de toneladas de resina virgem, enquanto o seu índice de reciclagem alcançou 56,4% das embalagens pós-consumo, em 2021, o que representou um crescimento de 15,4% em relação a 2019, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de PET (Abipet), no último censo realizado e divulgado em 2022.
Auri Marçon, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), argumenta que, embora o PET não tenha gargalos tecnológicos para ser reciclado, esse é um dos grandes problemas de outros tipos de plásticos que, somados a esse fator, podem enfrentar baixa demanda mercadológica, além de limitação de capacidade industrial instalada e de coleta seletiva nos municípios brasileiros. Para a superação desses dilemas, ele opina que alguns fatores podem atuar como impulsionadores de mudanças, dentre os quais, exigências regulatórias, processos de governança de grandes fabricantes e consumidoras de materiais plásticos, além de cobranças da sociedade.
No caso específico do PET reciclado, Marçon afirma que o principal gargalo se refere à limitação de separação na fonte, tendo em vista a baixa cobertura de coleta seletiva no país, levando as empresas recicladoras a níveis de ociosidade considerados preocupantes. “Muitas empresas investiram alto e hoje não têm oferta de matéria prima”, observa. Apesar dos percalços, essa cadeia produtiva mostra que ainda tem força econômica. Com 46 empresas de reciclagem de PET associadas à Abipet, além de mais de 120 que utilizam PET reciclado em seus produtos, esse é um segmento de mercado com faturamento de R$3,5 bilhões anuais, dos quais R$ 1,5 bilhão envolve sucateiros e catadores. No entanto, no que se refere especificamente aos catadores, não se pode desconsiderar que seus ganhos são cada vez mais reduzidos, como ilustrado nesta reportagem.
Mas como todos os demais materiais recicláveis são commodities precificadas em dólar internacionalmente, o setor enfrenta também a sua crise, ditada pela dinâmica da chamada lei da oferta e da demanda que move a economia global. Assim como ocorreu com o papel e o papelão, tema de reportagem publicada pelo ((o))eco em março, os preços dos recicláveis de plástico despencaram no pós-pandemia da Covid-19, após terem alcançado níveis históricos de valorização durante a crise sanitária, quando as empresas mundo afora fizeram altos estoques devido à falta de matéria prima. Confira reportagem na integra Aqui O Eco Jornalismo Ambiental.
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