Narrativas da violência contra a mulher na mídia pernambucana atual expõem tema como questão social coletiva  

20 de Mar / 2024 às 14h00 | Variadas

A objetificação da mulher, a moralização das coberturas e o hibridismo entre o discurso jornalístico e o policial e jurídico são características comuns às narrativas sobre a violência contra as mulheres produzidas em Pernambuco, nos intervalos de 1969 a 1971 e 2014 a 2016.

Essa é uma das principais constatações da jornalista Amanda Diniz, em sua tese de doutorado "Violência, Substantivo Feminino: um estudo genealógico sobre as narrativas da violência contra as mulheres na mídia pernambucana". O trabalho, que teve a orientação e coorientação, respectivamente, dos professores Isaltina Gomes e Diego Salcedo, ambos do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foi defendido em maio de 2023 no mesmo programa.

"O estudo permitiu concluir que, embora a luta pelos direitos das mulheres e contra a violência endereçada a elas tenha obtido avanços significativos nos últimos 50 anos e que haja, hoje em dia, o reconhecimento expresso do fenômeno da violência como uma chaga social relevante, as principais linhas de força identificadas nos anos 1960 ainda se mostram bastante presentes no discurso jornalístico dos anos 2015", explicou a pesquisadora. Para ela, a maior exposição e a popularização do debate sobre a violência contra as mulheres na mídia não implicam, necessariamente, na existência de uma prática jornalística não violenta e combativa em relação à opressão e à desigualdade.

A pesquisadora defendeu, ainda, que a análise se aplica aos dias atuais, a partir do momento em que muitos construtos simbólicos, como valores e visões de mundo, são decorrência de processos antigos que se perpetuam. "Assim, quando olhamos para as maneiras como pintamos, em 2015, um caso de violência sexual contra uma menor de idade com as mesmas tintas que pintávamos em 1970, recorrendo à vida anterior da vítima, ao seu decoro sexual e suas condições de vida para 'explicar' o caso ao invés de olhar para as variáveis que a levaram à agressão e à morte, rapidamente vemos esse passado muito próximo de nós", disse.

Ascom UFRPE

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