Não bastasse o crescimento exponencial dos números da dengue, e aqui inclui-se a quantidade de mortes provocadas pela doença no Brasil – 151 ao todo –, algumas peculiaridades têm tirado o sono de cientistas e infectologistas que lidam com o mosquito Aedes aegypti, transmissor não só da dengue, como da zika e da chikungunya.
Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) descobriram um complicador no combate à transmissão do vírus.
A partir da análise de ovos de mosquitos de sete regiões de Goiânia, perto de matas e bosques, coletados em placas e armadilhas instaladas pela Vigilância Sanitária, o que se observou, com a eclosão das larvas, é que, ao se transformarem em pupas e, posteriormente, até a eclosão do mosquito, mais de 1.500 fêmeas de Aedes aegypti – portanto, transmissoras das três doenças – tiveram mosquitos que já nasceram infectados. Antes, o que se pensava é que o mosquito somente transmitiria zika ou chikungunya se picasse uma pessoa infectada.
Embora nenhum dos insetos tenha nascido com dengue, parte apresentou o vírus da chikungunya e outra parte o vírus da zika, mesmo sem que tenha havido qualquer contato com humanos contaminados. O que ocorre é que agora os pesquisadores comprovaram que pode haver transmissão direta, de mãe para filho, sem que haja um “intermediário”, no caso o hospedeiro infectado.
A verdade é que não há uma estratégia eficiente – a não ser o fumacê ou a introdução da Wolbachia (técnica que consiste em modificar o mosquito em laboratório, com a inserção da bactéria que bloqueia o vírus da dengue) –, capaz de acabar de vez com a proliferação do mosquito. Não que essas iniciativas não sejam louváveis – são fruto de anos e anos de pesquisa –, mas, se houvesse uma espécie de “coquetel molotov”, que pudesse dizimar toda a comunidade de Aedes, com certeza muitas mortes poderiam ter sido evitadas.
Os números não deixam mentir. Somente o estado de São Paulo tem 92,6 mil casos confirmados de dengue este ano, o que corresponde ao dobro do registrado no estado no mesmo período do ano passado (45 mil). O Distrito Federal também não fica atrás, com 38 mortes por dengue este ano, o maior número do país.
Além disso, depositar esperança em uma vacina que, inicialmente, será aplicada em crianças de 11 a 14 anos, mesmo assim depois de duas doses, com uma diferença de três meses entre as duas, é para o futuro, como diz a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Agora, é tentar mitigar o prejuízo, que não será dos menores.
O Ministério da Saúde fez uma projeção de que o país deve ultrapassar 4,2 milhões de infecções até o fim do ano, superando, inclusive, em 149% o pior ano da série histórica – 2015. Até o momento, seis estados (Rio de Janeiro, Minas Gerais, Acre, Goiás, Espírito Santo e Santa Catarina) e o Distrito Federal decretaram emergência em saúde, assim como três capitais - Rio de Janeiro, Florianópolis e Belo Horizonte. Mais estados provavelmente virão a reboque. E a melhor dica continua sendo evitar água parada. Simples assim.
Texto publicado no editorial Jornal Estado de Minas
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