O palco está ainda mais iluminado. As cores de todas as escolas celebram o aniversário da Passarela do Samba do Rio de Janeiro. São 40 anos de sambódromo, o salão de festas do maior espetáculo da terra.
Nem a mãe do Gael era nascida quando o sambódromo foi criado, mas a voz do cantor de 3 anos de idade já traz a certeza de que a tradição se renova. E ele está no lugar certo. O enredo da Unidos de Vila Isabel diz que as crianças são a esperança de um mundo melhor e mais bonito.
A criança yanomami pede socorro com os olhos. O vermelho do Acadêmicos do Salgueiro tem o mesmo tom da pintura dos guardiões da floresta.
"Que o Salgueiro seja a flecha que vai representar esses povos, não só no Brasil, mas no mundo, e o carnaval é a porta que se abre para que tudo isso aconteça", diz Edson Pereira, carnavalesco do Salgueiro.
Se as igrejas de Salvador tivessem as cores da Portela, seriam brilhantes... As mulheres são as protagonistas no desfile da maior campeã do carnaval. No barco dos reencontros, vão desfilar 16 mães que perderam os filhos para a violência.
O destino está nas mãos da atual campeã, a Imperatriz Leopoldinense. Quem sabe ler essas linhas é a cigana esmeralda. No testamento que ela deixou, estavam as ideias para o carnavalesco Leandro Vieira.
"Eu gosto do Brasil popular que põe fé na vida, que acredita a sorte, que acredita na mudança das marés para que coisas melhores estejam por vir", conta Leandro Vieira, carnavalesco da Imperatriz.
A sabedoria popular do brasileiro é tanta que se espalha por vários barracões. A Unidos do Porto da Pedra, de volta ao grupo especial, relembra o Lunario Perpétuo, o almanaque que sabia tudo sobre tudo.
"A gente pode resumir toda essa história dizendo que o Lunario Perpétuo era o Google da era medieval", pontua Mauro Quintaes, carnavalesco da Porto da Pedra.
E voltando mais ainda ao passado, encontramos um Rei Salomão tão real que parece de carne e osso. Carne, osso, ouro e diamantes. E quem diria, a Unidos da Tijuca diz que o tesouro desse rei ficava em Portugal. É assim que a escola do Morro do Borel começa a contar a história do Fado.
A Acadêmicos do Grande Rio vai.... soltar a onça na Sapucaí. Mas ninguém corre o o risco de ser devorado. É a onça que todo brasileiro traz dentro de si.
"A onça é um dos símbolos mais presentes no imaginário brasileiro. Todo mundo se transforma em onça para lutar por determinadas causas. E que as garras e os dentes estejam a mostra", comenta Leonardo Bora, carnavalesco da Grande Rio.
Vai um suco de caju? A Mocidade Independente de Padre Miguel vai contar a historia dessa fruta que é a cara do Brasil. A cara e todas as cores. Além de um clima de praia para refrescar a Sapucaí.
"É a resiliência do cajueiro, uma árvore que brota na areia", diz Marcus Ferreira, carnavalesco da Mocidade.
Além de botar o pé na areia, a Beija-Flor de Nilópolis entra no mar de Maceió para contar a história de Rás Gonguila, um alagoano que se dizia herdeiro do trono imperial da Etiópia.
O mar da Paraíso do Tuiuti é bem mais revolto. Canhões apontados para o Rio de Janeiro relembram João Cândido, o almirante negro que se rebelou contra as chibatadas que eram aplicadas pela Marinha depois do fim da escravidão.
Quem tem coragem de olhar no olho do jaguar? Só as mulheres guerreiras da tribo das Agojies. Foram elas que trouxeram para o Brasil o culto do vodum, que sobrevive até hoje lutando contra o preconceito.
"Vodum significa vorrodum, tudo de bom para você. Então, o enredo nasce com essa missão de falar que o vodum é uma religiosidade que cuida da natureza e que faz o bem para as pessoas", conta Tarcísio Zanon, carnavalesco da Unidos do Viradouro.
Os enredos de 2024 destacam mulheres fortes, a cultura do Nordeste, a herança africana, nossas raízes indígenas e nossa fé. E se fosse possível juntar tudo isso numa palavra só? A Estação Primeira de Mangueira conseguiu. Basta dizer Alcione.
Na passarela mais colorida do mundo, todas as cores vão fazer reverência quando surgir a Marrom.
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