Mesmo depois de meio século, a imagem dramática do Edifício Joelma pegando fogo nunca mais saiu da memória dos bombeiros que resgataram vítimas no dia 1º de fevereiro de 1974.
O "Bom Dia SP" entrevistou dois desses heróis que foram importantes na ação de combate ao incêndio que marcou a história da cidade.
O fogo começou no 12º andar por causa de um curto-circuito no sistema de refrigeração do banco Crefisul, que ocupava boa parte do prédio. As chamas destruíram 14 dos 25 pavimentos.
A estrutura era de concreto armado, mas tudo que havia dentro contribuiu para espalhar as chamas, como carpete e divisórias de madeira. Não havia saída de emergência nem heliponto ou porta corta-fogo. Mais de 180 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas.
No dia seguinte, havia fila para identificar os mortos do lado de fora do IML. O incêndio no Edifício Joelma foi um marco para mudar o código de obras da cidade, as medidas preventivas para evitar os incêndios e criar normas de fiscalização.
Em 1994, 20 anos depois, o prédio, já com o nome mudado para Edifício Praça das Bandeiras, foi interditado por uma série de irregularidades, como falta de extintores e sobrecarga elétrica.
O tenente Rufino Rodrigues de Oliveira, de 92 anos, é o bombeiro mais velho que participou da ação. Ele entrou no Corpo de Bombeiros em 1953 e lembra muito do incêndio no Joelma.
O tenente comandou a primeira equipe a chegar ao incêndio e guarda até hoje o capacete usado por 30 anos, inclusive naquele fatídico dia. “Foi muito triste, horrível. O prédio parecia uma árvore de Natal, com pessoas nas janelas laterais tentando se salvar”, recorda.
Entre as principais lembranças estão as reações e as estratégias das vítimas para tentar se salvar.
“Muita gente queimada, muitos subiram até o topo para serem resgatados por helicóptero, como aconteceu no Edifício Andraus, mas era um prédio diferente. Eu contei 43 corpos queimados em cima da laje”, ele se refere a outro incêndio também muito simbólico na história de São Paulo. Dois anos antes do incidente no Joelma, em 24 de fevereiro de 1972, o fogo que atingiu grande parte do Edifício Andraus, também no Centro de São Paulo, deixou 16 mortos e mais de 300 feridos.
Na época, o tenente ainda era sargento. Depois do incêndio, ele foi condecorado até pelo governo americano. O traje de gala está separado, caso precise usar na cerimônia de entrega do Prêmio Coronel Hélio Barbosa Caldas, em memória às vítimas do Joelma, na Câmara Municipal de São Paulo na tarde desta quinta-feira (1º).
A maior lembrança do tenente é justamente o agradecimento de uma sobrevivente. “Salvei uma moça. Ela olhou no meu olho e disse: 'Deus lhe pague!' Isso eu nunca vou esquecer”, conta, emocionado.
O major Eduardo Boanerges, de 78 anos, guarda até hoje a escada que usou no resgate de inúmeras pessoas e um botijão de gás que estava no 17º andar e acendeu o alerta do Corpo de Bombeiros ao explodir com as altas temperaturas.
Foi um desafio enorme debelar o fogo em um momento em que não havia equipamentos adequados. A escada virou um elemento crucial nesse resgate e, para ele, um grande símbolo daquele dia.
“Nós levamos a nossa escada crochet e íamos de andar em andar. Colocávamos a vítima numa cadeira de lona e com corda descia até a única via de acesso, que era pelo lado da escada de emergência do prédio. Com essa pequena escada que guardo até hoje, salvamos muitas vidas. Essa escada tem 70 anos de história. Sempre que olho para ela, eu a cumprimento”, relata o major Boanerges.
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