A coleção Histórias das Músicas no Brasil, publicação da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (Anppom), reúne em cinco livros um recorte da pluralidade sonora do Brasil.
Procurando abordar práticas e repertórios menos vistos nos trabalhos acadêmicos, cada um dos e-books gratuitos é dedicado a uma região brasileira e apresenta contribuições de pesquisadores ligados a diversas instituições de ensino superior espalhadas pelo País.
Os livros estão disponíveis gratuitamente no site da Anppom.
Com organização geral de Mónica Vermes, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e Marcos Holler, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), a coleção traz uma dupla diferente de editores por volume. O livro dedicado ao Sudeste, por exemplo, ficou sob responsabilidade de Virgínia de Almeida Bessa, pós-doutoranda do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, em parceria com Julia Pérez González, doutora também pela FFLCH.
Virgínia conta que a ideia para a coleção surgiu durante um encontro da Anppom. Os pesquisadores constataram a existência de uma produção pujante e importante sobre a história das músicas do Brasil que estava acontecendo fora do eixo universitário Rio-São Paulo, cidades nas quais foram criados os primeiros cursos de pós-graduação na área. Com tantos artigos, dissertações e teses sendo desenvolvidos País afora, surgiu a proposta de uma publicação que reunisse essa produção.
Dividir a coleção a partir das regiões veio exatamente ao encontro da intenção de valorizar os trabalhos realizados nesses outros centros. Uma chamada pública para recebimento de contribuições foi aberta em meados de 2022, procurando por pesquisas já consolidadas de mestres, jovens doutores e doutores estabelecidos. Acadêmicos no topo de suas carreiras também receberam convites diretos para participar do projeto.
Os artigos foram recebidos até novembro do ano passado, seguindo o processo de avaliação por pares, correções e edições que resultaram nos livros publicados em outubro. “Conseguimos fazer tudo nesse curto período de tempo porque são trabalhos que já estavam prontos. A maioria dos capítulos traz resultados de pesquisas já realizadas”, comenta Virgínia. “A coleção é mais um trabalho de divulgação dessas pesquisas do que algo inédito, voltado para alimentar os cursos de pós-graduação.”
Isso não significa que os textos são acessíveis apenas para especialistas. A editora conta que, além de excelência acadêmica, preocupação didática também orientou o processo de composição dos volumes. Uma preocupação com a linguagem e a capacidade de inserir o leitor nos temas, explica. Esses temas, por sua vez, refletem justamente os interesses recentes de pesquisa que podem ser encontrados por todo o País, configurando o que Virgínia considera uma “radiografia espontânea”.
“A chamada teve justamente o propósito de destacar os trabalhos que estão sendo produzidos na academia mas não são hegemônicos”, explica a editora. “E mostrar que existem pesquisas feitas fora do eixo Rio-São Paulo, uma produção que só recentemente começou a se multiplicar, por conta, inclusive, da abertura de cursos de pós-graduação.”
“Ao propor uma coleção sobre as histórias das músicas no Brasil, assim, no plural, a Anppom vem consolidar a superação de dois velhos paradigmas que, durante muito tempo, orientaram os estudos produzidos no País sobre as músicas do passado”, escrevem Virgínia e Julia na Introdução do volume sobre o Sudeste
. “O primeiro deles é a concepção totalizante e metodologicamente unitária implícita na disciplina História da Música, ainda não totalmente suplantada nos cursos superiores. Além de ressaltar a diversidade de narrativas sobre os processos históricos envolvendo a produção musical no Brasil, o uso do plural é um convite à diversificação de objetos, à proposição de múltiplos olhares e à apropriação de diferentes métodos, teorias e abordagens, muitos deles resultantes de diálogos interdisciplinares.”
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