(Trecho do poema Tragédia no Lar, originalmente lançado pelo poeta Castro Alves no livro A Cachoeira de Paulo Afonso)
"Eu sou como uma garça triste
Que mora à beira do rio,
As orvalhadas da noite
Me fazem tremer de frio.
Me fazem tremer de frio
Como os juncos da lagoa;
Feliz da araponga errante
Que é livre, que livre voa.
Que é livre, que livre voa
Para as bandas do seu ninho,
E nas braúnas à tarde
Canta longe do caminho.
Canta longe do caminho,
Por onde o vaqueiro trilha,
Se quer descansar as asas
Tem a palmeira, a baunilha.
Tem a palmeira, a baunilha,
Tem o brejo, a lavadeira,
Tem as campinas, as flores,
Tem a relva, a trepadeira.
Tem a relva, a trepadeira,
Todos tem os seus amores,
Eu não tenho mãe nem filho,
Nem irmão nem lar, nem flores."
Sem ter o que fazer, esbagacei a fazer uma releitura no épico poema Tragédia no Lar, do grande poeta brasileiro Antônio Frederico de Castro Alves e terminei fazendo uma avaliação conclusiva, que como diria o "filósofo" Xandu do Mandaca, velho amigo dos meus tempos aureos de vantagem alguma, "deixei de entender por não compreender". Refiro-me ao expurgo da data 14 de março onde se comemorava o Dia Nacional da Poesia no Brasil, que era alusivo ao nascimento de Castro Alves, para hoje ser comemorado com palmas ensurdecedoras em 31 de outubro.
Chego à conclusão de que os intelectuais modernos da literatura são capazes de comparar "o gênero humano com o jumento cardão do finado Germano".
Como diria Jack Estripador, vamos por parte: A primeira data foi instituída pelo grêmio brasileiro de trovadores em 1968 e, em 1977, o deputado federal João Alves (antiga ARENA), conterrâneo do poeta condoreiro, criou o projeto de lei para transformar o que já era, de fato, à ser de direito, porém tinha uma pedra no meio do caminho, ou melhor, em cima da memória do poeta, já que nunca foi votado, e em 1987 alguns "homens sérios, homens que vivem por trás dos seus bigodes", varreram a poeira, sem sequer levantar a pedra. - Digo! Arquivaram o projeto, quase três décadas depois. E agora José??? Como espaço vazio é para ser ocupado, em 2015, o então senador Álvaro Dias, sudestino da cidade de Quetá-SP, sugeriu que a supracitada data comemorativa passasse a ser 31 de outubro, dia do nascimento de Carlos Drummond de Andrade, aceito por vários "anjos tortos", desses que vivem nas sombras da disritmia e da imperfeição simétrica e, por fim, sancionada no então governo de Dilma Rousseff (PT), conterrânia mineira do "urso polar".
Talvez os políticos tenham se empolgado com o Gauche e não com o Poeta dos Escravos, por saberem etimologicamente qual lado nas Américas ficaram os abolicionistas e também os escravagistas, ou então decifraram o que Drummond quis dizer: "Vai, Carlos! ser "gauche" na vida". Utilizando a tradução do termo, literalmente a francesa e não a brasileira.
São poetas de períodos bem distintos, cada um genial ao seu estilo, mas trotando em direção à gênesis da poesia, percebemos que esse modo, quase neandertal, de comunicação obteve sucesso e eficácia por conta da rima, já que facilita a memorização, em um tempo onde nem todos eram "bem lidos, mas que os textos eram bem corridos", como diria o enigmático Lauro da Plataforma; esqueçamos, por hora, a rima, ritmo e métrica e aprumemos na direção da importância dos temas abordados por cada um deles em suas devidas épocas, então damos de cara com o famoso efeito "revestreis" aí não tem como não "emburacar" nas universidades atuais (sem bater na porta), onde vez por outra, nos deparamos com salas mais lotadas que o Maracanã em 1950, em cursos como sociologia ou filosofia e salas de engenharias tão vazias quanto alguns versos de Zé Limeira, quando queria abusar do absurdo, isso é basicamente o retrato pintado em preto e branco do paradoxo existencial dos poetas e poetisas que optam em fazer poesias em versos brancos ou livres, (aqueles que pela falta de ritmo, métricas e rimas, são assim carinhosamente denominados) e os demais que ainda usam as estruturas com seus versos amartelados, sáficos, heroicos, ou qualquer um outro que exige do autor o mesmo cuidado, equilíbrio e talento que se utiliza ao chupar cana e assoviar a Quinta Sinfonia de Beethoven, carregando no lombo um caçoar de rapadura.
Drummond, hoje, tem o "título de maior poeta brasileiro", ele que sempre se esquivou do glamour, dos holofotes, tentou se envultar de qualquer estigma de celebridade, lutou para levar uma vida simples, depois de partir desse prisma é obrigado a carregar nos ombros a culpa de ser o "maior de todos", tal pecado é semelhante ao de Oliver Kahn, quando foi eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de 2002.
Quem sou eu para fazer tal julgamento ou comparação? Para o brilhante Drummond, que buscou isolar-se na timidez do seu mundo... e que vasto mundo, que para ele pouco importava se criava rimas ou se se chamava Raimundo, nada disso mudaria o mundo. Pois é! Se estou escrevendo esses "dizidos" é pela incompetência assumida de não conseguir me tornar um poeta que se aproveitasse, mas no cume da minha teimosia, asseguro a minha opinião talvez instintivamente, por ser um assíduo leitor, do meticuloso poeta Herval Félix e me esfregando as suas manias, replanto no jardim do discordar algumas estrofes do seu poema POESIA MODERNA, finalizando essa prosa "braiada" de poesia.
"...Se as relíquias de Safo se esvaíram
Da cadência atual sem simetria,
Ou poesia se trajou de prosa,
Ou então já não há mais poesia.
Talvez que os mesmos renascidos tenham
Da lei cansada do menor esforço
Depois cansada uma sequência inteira
De outros poetas trouxe mais reforço.
Estátua esbelta de uma perna curta
E um braço longo compensando a perna,
É modelo ideal de poesia
Que o mundo enfim denominou moderna."
Ticiano Dantas Felix
© Copyright RedeGN. 2009 - 2024. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.