Com o incêndio que atingiu o vapor São Salvador, na noite do último sábado (21), (Veja Aqui) na cidade de Ibotirama, na Bahia, a embarcação Benjamim Guimarães se tornou o último barco a vapor que navegou pelo Rio São Francisco. Porém, a situação do barco tombado pelo patrimônio estadual exige atenção, já que está fora d’água à espera de restauração.
O fogo que atingiu o São Salvadore outras embarcações que estavam atracadas às margens do São Francisco teria origem criminosa, segundo o portal da região Gazeta 5. Pescadores, funcionários da prefeitura e o Corpo de Bombeiros tentaram apagar o incêndio. Cerca de 20 barcos foram atingidos.
Luiz Felipe de Carvalho Ferreira tem um trabalho publicado sobre a navegação no Rio São Francisco. Era funcionário da Empresa de Portos do Brasil (Portobras), responsável pela manutenção da navegação no rio. Depois trabalhou no serviço de engenharia aquaviária da Superintendência Regional de Minas Gerais do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
O especialista explica que o São Salvador já não era mais uma embarcação a vapor. “Foi transformado em um barco escola e era a diesel. O casco era o mesmo, foi reformado recentemente. A superestrutura era a mesma, de madeira.”
“É uma perda incomensurável”, lamenta. Ele lembra que nos tempos áureos da navegação no rio eram 42 embarcações a vapor. “O primeiro vapor a navegar no São Francisco veio de Sabará, navegando pelo Rio das Velhas. Se chamava Saldanha Marinho e está, atualmente, em Petrolina, Pernambuco.” Segundo Ferreira, o barco está fora d’água, em uma praça da cidade.
Último exemplar -O especialista explica que o único barco a vapor que resta a navegar pelo Rio São Francisco agora é o Benjamim Guimarães. “Já está há dois ou três anos fora d’água, em Pirapora. Salvo engano, não posso confirmar, mas é o único vapor da classe dele existente no mundo, atualmente. Ele veio do Mississipi e lá não existem mais essas embarcações.”
Ferreira diz que a embarcação também corre o risco de desaparecer e levar com ela muita história. Segundo ele, há uma briga envolvendo a Prefeitura de Pirapora, no Norte de Minas e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), pela restauração da embarcação. “Enquanto isso, nossa história vai indo embora.”
Benjamim Guimarães foi tombado pelo Iepha em 1985.
O especialista destaca que quando foi retirado da água para restauração, o procedimento foi feito de maneira errada, o que causou danos à embarcação. “Ele partiu ao meio. Foi recuperado, mas não voltou para a água, pois não terminaram a recuperação. E quanto mais tempo ficar fora d’água, mais ele vai se deteriorando”, alerta.
Em janeiro de 2022, o aumento do nível do rio São Francisco, em Pirapora, chegou a atingir a embarcação.
Ele lembra que antigamente só existiam dois meios de se chegar à Região Sudeste. “Ou era pelo vapor oceânico ou pelo São Francisco. Essa região foi muito importante para o crescimento do Brasil. A embarcação percorria todo o rio, de Pirapora a Juazeiro, na Bahia.”
Construído pelos armadores James Rees Sons & Co. em 1913, não se sabe o mês de batismo do navio. Ele chegou ao Brasil para servir à Amazon River Plate Company, no Rio Amazonas. Pelos trilhos da Central do Brasil, chegou desmontado a Pirapora, no fim da década de 1920, e recebeu o nome do pai do dono da empresa, Júlio Mourão Guimarães. Seria destinado ao transporte de passageiros na primeira e segunda classes, além de puxar lanchas a reboque com lenha, gado e outros tipos de carga.
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