A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) concluiu o inquérito sobre as agressões sofridas por uma recreadora infantil enquanto trabalhava em um parque dentro de um restaurante do Bodódromo, em Petrolina. O caso aconteceu no dia 20 de agosto e foi flagrado por câmeras de segurança do local . Responsável pelas investigações, o delegado Dark Blacker, titular da 214ª Delegacia de Polícia Circunscrição, disse que os agressores, um casal, serão indiciados pelo crime de lesão corporal leve. O marido, que é policial militar da Bahia, também vai responder por injúria.
“Foi atribuída a responsabilidade para ambos de lesão corporal leve, e, para ele, que teve testemunhas que presenciaram ele proferindo palavras de baixo calão em relação a ela [recreadora], também tem elementos de formação contra injúria. Os autos serão disponíveis para defesa para que apresente uma queixa-crime”, afirma o delegado.
Por serem considerados crimes de menor potencial ofensivo, o delegado Blacker explica que os agressores, caso sejam condenados, não devem ir presos. No caso de injúria, a pena é de um a seis meses de prisão ou multa. A pena em casos de lesão corporal vai de três meses a um ano de reclusão.
“Vai seguir o rito da Lei de Juizados Especiais. Lá existem institutos despenalizadores. Caso no final, haja uma condenação, ou ele aceitar uma transação penal, pode ter aplicação de medidas restritivas de direito, por exemplo, e não uma prisão”.
Segundo o delegado, as imagens das agressões e os depoimentos foram essenciais para determinar quem começou a confusão. “A conclusão do caso foi que a mãe da criança que estava no parquinho, ela iniciou a briga, a confusão. A cuidadora desde o início, com base nas imagens, ela não causou nenhum transtorno à criança”, afirma o delegado, observando que o pai entrou na briga em seguida, agredindo a recreadora com pontapés na cabeça da vítima.
Ainda tendo as imagens e os depoimentos como base, o delegado afirma que o policial não ameaçou a vítima com uma arma. “Houve uma discussão se teve alguma ameaça por parte dele. No depoimento, ele diz que foi no momento da confusão e arma estava caindo. As imagens demonstram que, realmente, no momento da confusão, a arma começa a cair e ele segura a arma. Logo em seguida, ele não aponta para ninguém, e bota na cintura”, diz.
“A arma naturalmente causa impacto e foi perguntado a todas as testemunhas e as pessoas que estavam presentes, se ele em algum momento utilizou da arma para ameaçá-las e todas negaram. Ninguém se sentiu ameaçada, ninguém representou pela ameaça”, completa do delegado.
Em relação a um possível afastamento do policial, o delgado Blacker diz que essa é uma decisão que cabe a Corregedoria da Polícia Militar da Bahia. “Vamos concluir nossa parte, que é a parte criminal, e remeter para eles o procedimento completo, e lá eles tomam as medidas cabíveis”.
A recreadora tem 20 anos e, há pouco mais de um ano e meio, trabalha no parquinho do restaurante. Em entrevista ao g1 Petrolina e TV Grande Rio, três dias depois do caso, ela preferiu não se identificar, mas falou sobre o trauma.
“Os dois me bateram, mais ele. Chutou minha cabeça. Na hora não senti, mas quando o corpo esfriou senti as dores na minha cabeça, no corpo, pé, pescoço, panturrilha. Doeu quase todo o meu corpo, principalmente a cabeça. Não consegui nem dormir direito, estava precisando de remédio para dormir, com tanta dor”, afirma.
Segundo a funcionária, aquela não foi a primeira vez que casal esteve no restaurante e deixou o filho no parquinho. O comportamento do menino que, segundo a recreadora, agredia outras crianças, fez com que ela pedisse apoio aos pais.
“Tive que chamar a atenção dos pais dele depois de um certo tempinho. Passei a situação para ela [mãe], que ele tinha batido nos coleguinhas, já tinha batido em dois ou três, e ela não deu atenção, me evitou. Evitou a situação, voltou para mesa como se nada tivesse acontecido, depois de eu ter pedido ajuda várias vezes”, diz.
Os pedidos de ajuda da recreadora teriam sido o estopim para o início da confusão. A funcionária diz que passou a ser xingada pela mulher. “Começou a ir para cima de mim, colocando o dedo na minha cara. Eu pedi que ela tivesse calma, que ali tinha criança, que ela baixasse o dedo. Ela colocou de novo o dedo na minha cara, coloquei a mão para baixar, aí ela voou no meu cabelo. Também peguei no cabelo dela, tentei me defender”, diz.
A recreadora relata que, ao ver a confusão, o marido da mulher, que é policial militar no estado da Bahia, também passou a agredi-la.
“Nem vi quando o esposo dela entrou, só escutei ele me xingando, puxando meu cabelo. Senti na hora que ele me jogou no chão e começou a chutar minha cabeça, meu rosto e eu agarrada nela. Aí ele me levantou pelos cabelos de novo, só vi as pessoas gritando que ele estava armado. Comecei a ficar nervosa e pensei: vou morrer na frente das crianças”.
Em nota, o restaurante disse que “lamenta e demonstra indignação com o fato. Nos solidarizamos principalmente com a colaboradora, que está sendo acolhida e recebendo cuidados emocionais e apoio jurídico desde o primeiro instante”.
“Nosso ambiente é e sempre foi referência na região quanto à humanização no atendimento e cuidado com cada um que faz parte da nossa equipe, e segurança, no momento, reforça o seu compromisso com a colaboradora e todos aqueles que foram direta ou indiretamente afligidos com o acontecido”, afirma a nota do restaurante.
Apesar do trauma, a jovem diz que espera voltar a fazer o que gosta. “Vou tentar voltar ao meu trabalho, não é fácil. Eu gosto muito de criança, sempre trabalhei com criança e me identifico com isso. Vou tentar voltar, não vou ficar com medo. Vou tentar voltar ao meu setor”.
Sobre a participação do policial militar no episódio, a Polícia Militar da Bahia (PMBA), através de nota, limitou-se a dizer que “o fato em que o policial militar se envolveu, será apurado”. Como a PMBA e a PCPE não identificaram o casal oficialmente, não conseguimos contato com eles.
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