"Nós somos os excluídos desde muito tempo, da barragem (de Sobradinho), da energia eólica, da mineração. Vocês nunca nos ouviram, cadê vocês?", ecoou o grito de Margarida Ladislau, na Praça Dr. Juvêncio Alves, em Sento Sé, na manhã desta sexta-feira (1°). O questionamento da trabalhadora rural foi uma dentre as diversas falas que marcaram o Grito dos Excluídos/as, que reuniu dezenas de pessoas nas ruas da cidade.
Sob o forte sol de setembro, os/as participantes do Grito dos/as Excluídos/as saíram das imediações do Posto Ribeirão e foram em caminhada até a Igreja de São José. Crianças, jovens, adultos e idosos carregavam faixas e cartazes pedindo territórios livres de mineradoras, direitos básicos como saúde e educação, respeito às centenas de famílias ribeirinhas e dizendo não a empreendimentos que destroem a vida e a Casa Comum.
O ato contou com o apoio das Pastorais Sociais da Diocese de Juazeiro e da Paróquia local. Este ano, a organização do Grito dos Excluídos/as optou por fazer a manifestação em Sento Sé, em solidariedade às comunidades que vêm sofrendo com danos socioambientais provocados pela mineração. "A 29ª edição do Grito tem como tema 'Você tem fome e sede de quê?', mas em cada realidade discutimos quais são os tipos de fome e de sede. No caso concreto, em Sento Sé, a mineração vem causando sérios danos na vida da população das comunidades, que vêm sofrendo e sendo desrespeitadas", comentou a agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Marina Rocha.
Durante todo o percurso do Grito, moradores/as das comunidades atingidas pela Tombador Iron Mineração, instalada há mais de dois anos na Serra da Bicuda, relataram os problemas provocados pelo empreendimento. "Depois da vinda dessa mineradora, as nossas comunidades vivem um descaso, a falta de respeito com a gente, estamos aqui cobrando os nossos direitos, estão tirando das comunidades as nossas riquezas", afirmou Hamilton Silva, da comunidade Pascoal.
A mineradora está instalada próxima a 12 comunidades ribeirinhas, localizadas na Borda do Lago de Sobradinho. Desde a chegada da empresa ao território tradicional, as comunidades vêm denunciando a não realização da consulta prévia, livre e informada – prevista na Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) – e os impactos negativos provocados pela Tombador Iron.
Durante a caminhada do Grito dos Excluídos/as, os/as participantes passaram pela rua da Câmara de Vereadores, órgão em que as comunidades já foram diversas vezes cobrar soluções para os problemas que vivem. Em frente à Câmara, a professora Maria Francisca Oliveira desabafou: "cadê vocês, gestão, vereadores, todos os órgãos públicos que existem para defender a vida do povo? Nós estamos aqui, os excluídos, mas nós não vamos desistir, enquanto houver uma vida nas comunidades, nós não vamos desistir".
Além da presença das Pastorais Sociais da Diocese de Juazeiro (CPT, Conselho Pastoral dos Pescadores, Pastoral da Criança, Pastoral do Idoso), da Coordenação Diocesana de Pastoral e da Paróquia São José, o Grito dos Excluídos/as em Sento Sé contou ainda com a participação de representantes do Sindicato de Pescadores, Sindicato dos Professores, da Articulação Regional de Fundo de Pasto e de outras comunidades rurais da região.
No final do ato, em frente à Igreja São José, Dona Chiquinha Palha, integrante da Associação da comunidade de Brejo da Brasída em Sento Sé, destacou que a maior pobreza que existe hoje é a falta de participação do povo. "A gente não é consultado, a gente não tem vez para tomar decisões junto com os poderes públicos, nosso grito ainda é muito pouco ouvido", disse a trabalhadora.
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