O apoio ao empreendedorismo feminino gera impactos positivos que vão muito além do mero fortalecimento de negócios liderados por mulheres.
Quando olhamos de forma mais ampla, esse apoio beneficia não apenas as empreendedoras e suas famílias e seus colaboradores diretos, mas também o seu entorno de forma mais abrangente, incluindo a comunidade onde estão inseridos esses negócios.
E esses resultados podem ser ainda mais transformadores em certas regiões do país, como o Nordeste. Para entender por qual razão isso acontece, é necessário conhecer o contexto em que elas empreendem.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que, segundo o Sebrae, 51% das brasileiras donas de negócios são também chefes de domicílio, ou seja, suas famílias dependem fundamentalmente da renda de seus empreendimentos. E dentre os nove estados do Nordeste, quatro estão acima da média nacional, com destaque para o Sergipe, onde 58% das empreendedoras são chefes de domicílio, e apenas um estado, o Ceará, com 45%, tem menos da metade de donas de negócio como as únicas responsáveis por suas famílias.
Já dados da Pnad Contínua mostram que brasileiras pretas, pardas e indígenas são a maioria das empreendedoras informais, ou seja, aquelas cujos negócios são mais frágeis. O Nordeste, por sua vez, tem a segunda maior proporção de pessoas nesse perfil que estão na informalidade: na região, 76,9% das mulheres que tocam negócios informais são pretas, pardas e indígenas.
A Pnad também aponta outra dificuldade para o empreendedorismo feminino. Elas dedicam 17% menos horas ao próprio negócio do que os homens, mas isso tem uma razão: trabalham cerca de 10,5 horas por semana a mais do que eles em afazeres domésticos e cuidados com os filhos.
Apoio e otimismo
Estes e outros dados não deixam dúvidas de que existem muitos desafios ao empreendedorismo feminino no Brasil e que demandam coordenação do poder púbico, do setor privado e de organizações da sociedade civil. E foi para ajudar as mulheres a superarem essas barreiras que o Itaú Unibanco, em parceria com a IFC, membro do grupo do Banco Mundial, lançou há 10 anos o Programa Itaú Mulher Empreendedora.
Em uma década, a iniciativa impactou mais de 800 mil mulheres, oferecendo capacitação, mentoria, aceleração de negócios e ampliação das redes de relacionamento para impulsionar o crescimento de empresas com liderança feminina.
Em 2023, o programa decidiu focar seus esforços nas mulheres do Norte e Nordeste, onde estão 32% das empreendedoras do Brasil, e que vivenciam muitas vezes situações ainda mais delicadas do que aquelas de outros lugares do país. Nessas regiões, pretas, pardas e indígenas são também a grande maioria entre as donas de negócios, sejam formais ou informais. E sabemos que mulheres com esse perfil racial obtém a menor renda com seus negócios em comparação com brancas ou homens pretos, pardos ou brancos.
Com o objetivo de fortalecer o empreendedorismo feminino no Norte e Nordeste, em parceria com a Rede Mulher Empreendedora, o programa criou o projeto "Empreenda e Renda", que está oferecendo 30 mil vagas de capacitação online, uma maneira de se chegar naquelas mulheres que mais precisam de apoio. Assim, elas desenvolverão habilidades técnicas para gerar mais renda para si e suas famílias, além de se tornarem mais independentes e gerar impactos positivos para toda a comunidade.
Um último dado, também do Sebrae: 72% das empreendedoras entrevistadas acreditam que 2023 será melhor do que 2022. Mesmo com todas as dificuldades que enfrentam, elas estão otimistas e têm "a estranha mania de ter fé na vida", como canta Milton Nascimento. Apoiá-las é justamente ter nelas a fé que muitas nunca receberam.
Luciana Nicola é diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco
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