Com a presença de Maria da Cruz e Ângela Lima, filhas da Dama do Barro, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) presta uma homenagem, no Ano Comemorativo Ana das Carrancas, em celebração ao centenário da artesã pernambucana.
O reitor Mario Carneiro reforçou que a Uerj este ano homenageia uma personalidade que representa a cultura popular brasileira e o desenvolvimento do país. Mulher negra, pobre e nordestina, Ana das Carrancas escapou da seca e da miséria pela potência de seu trabalho artístico e tornou-se uma figura relevante para a cultura nacional. “Os aspectos simbólico e biográfico de suas obras são fortíssimos, servindo também como um retrato da força do brasileiro e do poder transformador da arte”, afirma.
A escultora, ceramista e louceira Ana Leopoldina Santos, mais conhecida como Ana das Carrancas, foi uma das mais importantes artistas populares do sertão de Pernambuco. Nascida em 1923 no povoado de Santa Filomena, na época pertencente ao distrito de Ouricuri, Ana aprendeu a moldar o barro ainda na infância, auxiliando a mãe na fabricação de louças para complementar a renda familiar.
Em meados da década de 1950, diante de longos períodos de seca e dificuldades de encontrar trabalho, ela se mudou com o marido e as filhas para Petrolina, às margens do rio São Francisco, onde consolidaria sua carreira. As carrancas, esculturas presentes nas embarcações que navegavam pelas águas do Velho Chico, foram a fonte de inspiração para as suas primeiras obras, feitas a partir do barro do próprio rio, o que rendeu a ela o título de “A Dama do Barro”. As peças expostas em feiras de artesanato na cidade chamaram a atenção de pesquisadores da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, que sugeriram que elas fossem distribuídas na inauguração da Biblioteca Municipal de Petrolina, em 1963.
Ao longo dos anos 1970, Ana das Carrancas passou a ganhar projeção no Brasil e no exterior, com trabalhos expostos em diversas feiras de artes, galerias e museus. Em 2005, recebeu a Ordem do Mérito Cultural do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Cultura, Gilberto Gil. Hoje, a memória da artesã, falecida em 2008 aos 85 anos, é preservada graças ao Centro de Arte e Cultura Ana das Carrancas, um dos principais pontos turísticos de Petrolina. A sua famosa frase, “O barro é a minha vida, eu me sinto realizada com o meu barro”, foi considerada uma das mais impactantes do século XX, de acordo com a revista “Rolling Stone”.
Mario Carneiro aponta que a obra e a trajetória pessoal da homenageada encarnam perfeitamente os valores representados pela Uerj. “Nossa Universidade promove a emancipação através da cultura e da educação, sendo pioneira na política de cotas raciais para o ingresso na educação superior, oferecendo ensino noturno e uma ampla política de permanência estudantil”, destaca o reitor. “Esperamos que a Uerj possa servir como um caminho para mudar a vida de pessoas como a Ana das Carrancas, que elas possam se inspirar pela sua história, que tanto nos cativou”, acrescenta.
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