A revista Veja publicou na noite desta quinta-feira (17) que o tenente-coronel Mauro Cid decidiu confessar participação em um suposto esquema de venda ilegal de joias recebidas pelo governo brasileiro e vai apontar Jair Bolsonaro (PL) como mandante do caso. A informação foi confirmada pelo advogado de Cid à revista.
Conforme publicado pela revista, o tenente-coronel deve dizer que providenciou a transferência do dinheiro conseguido com a venda das joias para o Brasil, entregando o montante em espécie para o ex-presidente.
Diante das evidências colhidas pela Polícia Federal da participação dele nos crimes, Mauro Cid decidiu assumir a culpa. O militar vai dizer que participou da venda das joias nos Estados Unidos, atuou na transferência do dinheiro arrecadado para o Brasil e o entregou a Bolsonaro — tudo em dinheiro vivo, para não deixar rastros. Cid vai dizer às autoridades que fez tudo a mando de Bolsonaro, o "mandante do esquema", explicou o advogado.
Cid está preso há três meses no Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília, investigado em diversos casos que envolvem o nome do ex-presidente — como as joias sauditas, falsificação dos cartões de vacinação e o plano golpista para anular o resultado das eleições de 2022.
O advogado Cezar Bitencourt também disse à Veja que Cid contará detalhes que tornarão evidente que Bolsonaro sabia, sim, que estava cometendo um crime no esquema das joias.
"Resolve lá", teria dito Bolsonaro. "A relação de subordinação na iniciativa privada é uma coisa. O funcionário pode cumprir ou não. No funcionalismo público, é diferente. Em se tratando de um militar, essa subordinação é muito maior", disse o advogado à Veja.
Sobre a venda dos dois relógios de luxo nos Estados Unidos, o criminalista destaca que a ação pode ser caracterizada como contrabando. “Tem a internalização do dinheiro e crime contra o sistema financeiro. Mas o dinheiro era do Bolsonaro”, disse.
O advogado Cezar Bitencourt disse que vai se reunir com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para tratar da confissão de Mauro Cid. Segundo Bitencourt, a confissão servirá de atenuante na hora da definição da pena do militar. No caso, se tratará de uma confissão espontânea, não uma delação premiada.
O criminalista destaca que o Código Penal também classifica como atenuante quando o investigado cometer o crime “em cumprimento de ordem de autoridade superior”, o que ele diz se encaixar no caso de Mauro Cid, que atuava como ajudante de ordens de Bolsonaro.
Cezar Bitencourt assumiu a defesa de Cid nesta semana. Na quarta-feira (16), em entrevista à Globo News, o criminalista destacou que o cliente é um "militar cumpridor de ordens" — o que apontou uma mudança de postura em relação aos últimos dois advogados que defenderam Cid desde a prisão.
O advogado comentou que o cliente é um oficial “que cumpre ordens acima de tudo”, que militares também cumprem ordens ilegais e injustas e que o tenente-coronel é um “grande injusticado”. “Ordem ilegal, ordem injusta, militar cumpre também. Acho que não pode é cumprir ordem criminosa. Vamos avaliar onde apareceu [ordem criminosa], se apareceu, se ele tinha consciência disso, mas são questões de foro íntimo”, afirmou em entrevista à Globo News.
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