"É nosso dever cívico torcer pelo futebol feminino", afirma pesquisadora Tays Melo

24 de Jul / 2023 às 13h04 | Espaço do Leitor

"É nosso dever cívico torcer pelo futebol feminino", afirma pesquisadora Tays Melo. Confira artigo:

Quantas vezes você vestiu a camisa da seleção para assistir o Mundial Feminino?Aliás, estamos agora vendo a Copa da Austrália e Nova Zelândia 2023. Quando você passou pelo centro de sua cidade, acaso viu o comércio ornamentado em clima de copa? As lojas e suas bancas estão coloridas de verde, amarelo, azul e branco? Vitrines e manequins vestidos com camisas da CBF? Viu lojas, bares, restaurantes e janelas de prédios com bandeiras do Brasil? Seu grupo de internet produziu a camisa tipo oficial com nome e número das jogadoras nas costas? 
Será que os brasileiros estão reclamando caso sua empresa, escola ou repartição pública não dê intervalo ou ponto facultativo para verem os jogos? Quem está em casa, tá acordando cedo para ver os jogos começarem? Você sabe o nome das jogadoras? Provavelmente a resposta para todas estas perguntas é um grande e sonoro "Claro que não". 
Procurei uma camiseta oficial da seleção feminina na internet e não consegui encontrar. Sabe por quê? Porque jogos femininos são vistos como menos interessantes, menos instigantes. Tem menos investimento e publicidade. Homens no futebol são heroicizados mesmo que comentam crimes hediondos. Já com mulheres, comentários misóginos fizeram coro antes mesmo dos jogos femininos começarem. 
 Lugares que são historicamente ocupados por maioria masculina, quando mulheres os ocupam, são vistos com menor valor por causa da presença feminina. Desde a escola, a menina que quer jogar enfrenta o esteriótipo de "machão". Porque para no machismo, a mulher que faz algo que os homens a proibiram no passado, se torna menos mulher.
Desde a escola a menina não encontra time, e se a ela for permitido jogar com os meninos, tem que provar que sabe jogar mais que eles. Um menino pode jogar sendo jogador mediano ou ruim, uma menina não pode. As meninas são direcionadas para o balé, pelos próprios pais. O futsal, o judô, a natação são para garotos. 
Na escola do seu filho ou filha tem time de futsal feminino? 
Não adianta dizer que não tem machismo e misoginia. Não precisa ir longe e fazer grandes análises para ver que mulher tem que dar o dobro para receber a metade. E qual é o motivo? É porque são mulheres.

*Tays Melo, professora, escritora, mestranda em Sociologia - Universidade Federal da Paraíba-UFPB, Foto ilustrativa PSOL

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