Com a rapidez de um trem da Great Western, o tempo passou e, no próximo domingo (23), faremos memória à passagem do músico, cantor e compositor José Domingos de Moraes, o Dominguinhos. O artista, que morreu aos 72 anos, lutou por mais de seis anos contra um câncer de pulmão, mas não resistiu às complicações infecciosas e cardíacas.
Nascido em Garanhuns, no Agreste pernambucano, Dominguinhos conheceu Luiz Gonzaga ainda criança e, aos 13 anos, quando já estava no Rio de Janeiro, recebeu do Rei do Baião sua primeira sanfona, a mesmo que o consagrou, três anos mais tarde, como herdeiro de sua obra.
Quando a notícia da morte de Dominguinhos estampou os principais noticiários do país, naquela penúltima terça-feira do mês de julho de 2023, um clima de suspense pairou no ar. O sanfoneiro que, assumidamente, era um verdadeiro adorador de sua terra natal, inclusive isso ficou registrado em gravações de entrevistas concedidas às rádios pernambucanas, tinha o desejo de ser sepultado em Garanhuns. A decisão da ex-companheira Guadalupe e sua filha Liv Moraes contrariou o desejo explícito, programando o sepultamento do cantor em um cemitério privado da capital pernambucana.
Menos de um mês depois da morte de Dominguinhos, o filho mais velho do sanfoneiro, Mauro Moraes, moveu uma ação na Justiça pedindo que o corpo do músico fosse transferido para Garanhuns. O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) autorizou a transferência do corpo à cidade natal do artista. A decisão foi da juíza Andréa Duarte Gomes, atendendo ao pedido do filho do músico, Mauro José de Moraes, in memorian. A sentença saiu numa quinta-feira, 29 de agosto, mas foi divulgada somente na sexta (30).
Finalmente, em 26 de setembro do mesmo ano, os restos mortais do saudoso “Nenem”, como era apelidado por sua mãe, foram sepultados no Cemitério São Miguel, em Garanhuns. Sob forte comoção e aplausos de familiares e amigos, Dominguinhos pode, enfim, ter sua última morada definitiva.
No ano de 2002, Dominguinhos foi o vencedor do Grammy Latino com o CD Chegando de Mansinho. Em 2008, foi o grande homenageado da 19ª edição do Prêmio da Música Brasileira, antigo Prêmio Sharp, numa noite de pura reverência concedida por outros artistas nacionalmente consagrados como Gilberto Gil, Genival Lacerda, Jorge de Altinho, Flávio José, Elba Ramalho, Vanessa da Mata, Nana Caymmi e outros tantos. Ao longo da carreira, fez parcerias de sucesso com músicos como Gilberto Gil, Chico Buarque, Anastácia e Djavan.Com sua maior parceira musical, Anastácia, compôs grandes sucessos como Tenho sede, Eu só quero um xodó, Contrato de separação, Sanfona sentida, Toque pife e Triunfo.
E como se nem imaginássemos, o tempo passou e há dez anos que não ouvimos mais o som de sua sanfona, à qual Dominguinhos sempre teve extrema dedicação. Uma característica que poucos conhecem dele, um excelente instrumentista, que, por muitas vezes, declarou ter muito mais apreço em tocar, produzir arranjos e compor as melodias de inúmeras canções do que até mesmo cantar. Além disso, era um grande apreciador de valsas e passava horas com sua sanfona a tocar, apreciando o ritmo.
Para nós, fãs e apreciadores de sua obra, nos resta a memória extremamente viva do que foi e o que é Dominguinhos para a música popular brasileira. Que possamos perpetuar seu legado fazendo com que as gerações futuras ouçam, consumam e reflitam em toda a obra do mestre Dominguinhos. Que os artistas mais contemporâneos possam beber na fonte que é José Domingos e deem continuidade. Viva Dominguinhos, viva a sua obra!
Charles Andrade-Jornalista e pesquisador musical
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